Sonhos, desejos e busca pela descoberta

Pela Ponte Tancredo Neves, no caminho entre Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu, ou vice-versa, passam muito mais que mercadorias e automóveis. Sonhos, desejos e busca pela descoberta do que existe do lado de cá e de lá também transitam por ali.

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Denise Paro, especial para o H2FOZ
Fotos: Marcos Labanca

Pela Ponte Tancredo Neves, no caminho entre Puerto Iguazú e Foz do Iguaçu, ou vice-versa, passam muito mais que mercadorias e automóveis. Sonhos, desejos e busca pela descoberta do que existe do lado de cá e de lá também transitam por ali.

Foi esse trajeto que a brasileira Tatiane Gomes, 32 anos, trilhou antes de tomar a decisão de mudar-se para Puerto Iguazú. Moradora da cidade vizinha há sete anos, a brasiliense se encantou com Puerto Iguazú durante uma viagem de férias, para visitar o irmão que trabalhava no consulado brasileiro. Quinze dias longe da atribulada capital política, onde chegou a trabalhar 16 horas durante um tempo, foram suficientes para ela tomar a decisão. Quando vi a cidade, a natureza e as Cataratas do Iguaçu, me encantei.”

A tamanha tranquilidade de Puerto Iguazú somada à hospitalidade do povo argentino foi chamariz para ela deixar um emprego de gerente comercial para tentar a vida nas Três Fronteiras. Durante dois anos e meio, Tatiane trabalhou em Foz do Iguaçu e cruzou todos os dias a fronteira. Ali ela conheceu o martírio de quem mora em uma cidade, mas depende diuturnamente da outra. Nos meses de julho e janeiro, alta temporada, a fila chegava à rotatória do Carimã”, conta.

Após findar a temporada de trabalho no Brasil, já casada com um argentino, Tatiane manteve por um bom tempo a rotina de cruzar a fronteira. Depois, resolveu fixar-se do lado de lá. Adotou a atividade do marido, o artesanato, como meio de vida. Hoje respira a vida bucólica em Puerto Iguazú, onde cria com tranquilidade a filha Ayla Giovana, de 2 anos, nascida em Foz do Iguaçu, mas com nacionalidade argentina.

Apesar de estarem no canto de lá da Ponte Tancredo Neves, Tatiane e outros 85 mil habitantes de Puerto Iguazú mantêm uma relação estreita com Foz do Iguaçu.

Brasileira Tatiane Gomes, 32 anos, mudou-se para Puerto Iguazú – Foto: Marcos Labanca

Quando a balança cambial entre o peso (moeda argentina) e o real pende a favor dos argentinos, eles pegam com frequência o rumo de Foz do Iguaçu para fazer compras. Até o início de 2000, os vizinhos movimentavam o comércio brasileiro, principalmente do Porto Meira. Lotavam supermercados, lojas de construção e eletrodomésticos. A desvalorização do peso, a crise econômica do país e a fiscalização mais intensa na aduana inibiram a corrida frenética deles para Foz do Iguaçu na última década.  

Hoje alguns ainda circulam em Foz em busca do que o país tem de melhor em relação à Argentina: roupas, calçados e eletrodomésticos mais em conta.

Apesar dos altos e baixos da economia argentina, Puerto Iguazú conseguiu manter certa estabilidade nos últimos anos em razão do fluxo de turistas. Os visitantes, incluindo brasileiros, garantem a dinâmica comercial aos proprietários de hotéis, pousadas e restaurantes.

Mas nem sempre foi assim. Na década de 90, Puerto Iguazú chegou a ser conhecida por cidade-fantasma. Em 1995, pelo menos 75% das lojas da cidade fecharam após a desvalorização do real. Abalados com as dificuldades econômicas, os brasileiros não conseguiam dar vida à combalida cidade argentina.  

A relação entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú é gemelar, uma sempre esteve conectada à outra. Quando a ponte não existia, balsas que navegavam pelo Rio Iguaçu faziam as vezes entre os dois municípios.

Puerto Iguazú foi fundada em 12 de agosto de 1901 graças ao turismo. Naquela data, uma visitante, chamada Victoria Aguirre, doou três mil pesos para que fosse construída uma estrada ligando o porto às Cataratas. O caminho era fundamental para que os turistas tivessem acesso aos saltos. Só mais tarde, o município recebeu o nome de Puerto Iguazú.

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