Os (chocantes!) números da covid-19 em Foz, no PR, Brasil e países vizinhos

Já há mais casos e mortes em Foz do que em países como Cuba e Uruguai. E mortalidade na Argentina só perde para três países (e isso não inclui o Brasil).

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Explosão de casos no Paraná, média elevada diária em Foz do Iguaçu, que também sobe no ranking paranaense de mortes pela doença. Não tem jeito, o vírus está por aí e não se pode duvidar do estrago que provoca.

Que o diga a Argentina. Mesmo com todos os cuidados (e até exageros), o país registra cada vez mais casos e mortes. Aliás, proporcionalmente à população, já é o 4º país em mortes, à frente até do Brasil.

Todos tentam uma explicação, mas parece que a principal é que tudo depende do comportamento da população, independentemente do que o governo decreta ou não.

O vizinho Paraguai, embora em situação até confortável em relação à maioria dos países, vê aumentar o número de casos – mais de 10% na última semana -, o que se refletirá em mais mortes dentro de duas ou três semanas.

Leia, atente para os números, tire suas próprias conclusões e só não acredite nos que dizem que a pandemia é invenção ou bobagem. Em todo o mundo, esta “fantasia” já matou 1.374.547 pessoas, oito vezes mais do que a população de Foz do Iguaçu.

Foz tem mais leitos de UTI. Não por precaução, mas necessidade

À espera, quase inevitável, de mais pacientes, Foz conta com novos leitos de UTI. Foto AMN

Em Foz do Iguaçu, há o registro de 11.880 casos de covid-19, dos quais 11.162 recuperados (93,96%). Só pra entender o que significa isso, é mais do que em Cuba, que tem 7.763 casos e uma população 71 vezes maior que a de Foz. Menos casos, menos mortes: o inverso também vale. Em Cuba, são 131 óbitos, 40 menos que em Foz.

Se entrasse no ranking mundial, Foz estaria à frente de dezenas de países, tanto em casos como em mortes. Uganda, Nicarágua, Guiana, Namíbia, Moçambique, Libéria, Tailândia, etc, registram menos óbitos. E, claro, também o Uruguai, com seus 4.477 casos e 69 mortes.

Pois é. Voltando aos números de Foz, havia 106 pacientes internados na sexta-feira, 20 (79,78% de ocupação dos leitos de UTI e 67,57% de enfermaria).

Nesta semana, o número de leitos de UTI foi ampliado para 89, com mais quatro instalados esta semana no Hospital Municipal Padre Germano Lauck e outros cinco no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, exatamente pela preocupação com o aumento de casos de covid-19. E, também, com a alta ocupação dos leitos.

Novo leito de UTI para covid-19, em Foz, totalmente equipado. Foto AMN

Um estudo da Unila comparou o índice de casos de covid-19 em Foz com outras cidades, tomando-se os dados de terça-feira, 17. Enquanto em Foz a proporção era de 74,4 novos casos por dia a cada 100 mil habitantes, em São Paulo o índice era 19,7; no Rio de Janeiro, 9; em Curitiba, 45,5; e em Belo Horizonte, 12 novos casos a cada 100 mil habitantes.

A bióloga e professora da Unila Elaine Soares analisa que Foz tem uma curva crescente na velocidade de transmissão, sobretudo em novembro. O município demorou 20 dias para passar de 7 mil para 8 mil casos; e apenas oito dias para subir de 10 mil para 11 mil casos.

Para a médica infectologista e professora da Unila Flávia Trench, o aumento é reflexo do momento atual, não só em Foz do Iguaçu como também em outras cidades, onde há um retorno de aglomerações em decorrência do que ela chama de “exaustão da pandemia”.

“Ninguém mais aguenta o atual estado das coisas, o isolamento e o distanciamento. Estão arriscando a saúde física por uma ilusão de normalidade. Por isso estão saindo”, aponta.

Todos os docentes da Unila, no entanto, são unânimes em afirmar que este crescimento dos casos deve-se, sobretudo, ao não cumprimento, de forma correta, das medidas para evitar os contágios, a exemplo do distanciamento e isolamento social.

No mapa, as regiões com mais casos. Destaque para o centro, Maracanã e Yolanda.

No Paraná, a posição de Foz do Iguaçu piorou. Já estava há alguns meses em 1º lugar no ranking de casos, mas agora começa a subir também no de mortes.

Até a semana passada, a regional de Saúde de Foz era a 7ª no Estado, na proporção de mortes. Eram 54 mortes a cada 100 mil habitantes, enquanto a média paranaense era de 49,2 mortes por 100 mil habitantes.

Nesta sexta-feira, 20, a regional de Foz já aparece em 5º lugar no ranking, com 57,2 óbitos a cada 100 mil habitantes, enquanto a média paranaense se alterou bem menos (foi para 50,4 mortes por 100 mil).

A regional de Foz ultrapassou Londrina e Telêmaco Borba, e agora só está melhor do que as regionais Metropolitana, Paranaguá, Cornélio Procópio e Apucarana.

O que confirma a tese: não importa que aqui a letalidade seja menor que na média paranaense nem que o índice de recuperados seja bem mais alto: quanto mais casos, maior o número de mortes. Isto é – sem trocadilho – fatal.

No Paraná, mais que dobra a média móvel de casos

O Paraná fechou a sexta-feira, 20, com 248.366 casos, dos quais 184.661 se recuperaram (índice apenas razoável, de 74%) e 5.780 mortes.

A média móvel de sete dias, na quinta-feira, 20, chegou a 1.873 casos por dia, um aumento de nada menos que 116,3% na comparação com 14 dias atrás. Já a média móvel de mortes ficou em 15 (até dia 19), uma redução de 14,2% em relação há 14 dias.

Havia, na sexta-feira, 722 pacientes internados, dos quais 338 em UTI. Mas o número pode ser maior, já que havia outros 1.160 pacientes internados, e são considerados casos suspeitos.

Brasil já passa de 6 milhões de casos confirmados

O Brasil fechou a sexta-feira, 20, com mais 38.397 casos e outras 552 mortes. Números assustadores! Agora, o total brasileiro chega a 6.020.164 de casos e a 168.061 mortes, além de 2.176 óbitos em investigação.

De acordo com a Agência Brasil, há 429.449 pacientes em acompanhamento. Os recuperados somam 5.422.102 pessoas, o que representa um índice de recuperação de 90,1%.

O ranking de mortes nos estados é liderado por São Paulo (41.179), seguido por Rio de Janeiro (21.938), Minas Gerais (9.688), Ceará (9.477) e Pernambuco (8.899).

As unidades da Federação com menos óbitos pela doença são Acre (711), Roraima (720), Amapá (787), Tocantins (1.147) e Rondônia (1.515).

No ranking brasileiro, o Paraná permanece em 10º lugar, tanto em casos como em mortes.

 

No Paraguai, casos subiram 10% na semana e voltam a preocupar

Atento à situação, o ministro de Saúde Pública, Julio Mazzoleni, está preocupado com o aumento da última semana. Foto Ministério de Saúde do Paraguai

No balanço de sexta-feira, 20, o Paraguai teve mais 563 casos positivos de covid-19 e 11 mortes. Agora, o total de casos subiu para 75.058, enquanto o de óbitos foi para 1.647. Os recuperados são 53.502, ou 71,2% dos casos.

Durante esta semana, houve um incremento nos casos superior a 10%, o que torna a situação “bastante preocupante”, segundo o ministro da Saúde, Julio Mazzoleni.

O aumento de contágios ocorreu principalmente em Assunção e no departamento Central, mas também se destacam os departamentos de Cordillera, principalmente em Caacupé (onde há peregrinação em louvor a Nossa Senhora), e Misiones, em especial Ayolas.

No Paraguai, há 655 pacientes internados, dos quais 127 em unidades de terapia intensiva.

O número de óbitos continua em queda, mas, como o de casos vem aumentando, é provável que a taxa de óbitos cresça em duas ou três semanas, como lembra o jornal Última Hora.

A Argentina é o 4º país no mundo, em mortes por milhão de habitantes

Há muitas explicações, mas ainda assim é difícil entender por que a mortalidade é tão alta na Argentina. Foto Agência Télam

No ranking mundial, a Argentina está em 8º lugar em casos e em 10º em mortes. Mas é o 4º país em mortes por milhão de habitantes. Neste sábado, o índice está em 817,5 mortes a cada milhão de argentinos, bem superior ao do Brasil, por exemplo, que registra 795,3 mortes a cada 1 milhão de brasileiros.

A situação da Argentina só não é pior que a da Bélgica (1.334,9 mortes por milhão), Peru (1.107,6) e Espanha (906,7 mortes por milhão), de acordo com os números registrados no painel on line da universidade americana Johns Hopkins.

Nesta semana, o jornal argentino La Nación se deu conta da relevância destes indicadores, já que os números oficiais do governo mostram uma tendência de diminuição dos casos confirmados de covid-19.

“O país sobe, sem pausa, em outro ranking mais preocupante: o de mortes por milhão de habitantes (mortalidade)”, escreveu a jornalista Nora Bär. Ela se baseou tanto nos dados do site ourworldindata.org quanto nas informações da universidade Johns Hopkins, mas com os números do dia em que publicou o artigo.

Os números mudaram, mas calculamos, com base nas atualizações do ranking internacional da Johns Hopkins, e a situação não se alterou. Aliás, em relação ao Brasil, a situação argentina piorou: a diferença era de no máximo 5 mortes por milhão; agora, está em 22 mortes a mais por milhão de habitantes.

Isso não significa que a situação da covid-19, no Brasil, esteja controlada, nem que a letalidade da doença, aqui, seja menor. A covid-19 tem uma taxa de mortalidade, na Argentina, de 2,7%, isto é, do total de casos confirmados, 2,7% levam à morte. A Argentina soma neste sábado 1.359.042 casos e 35.442 óbitos.

No Brasil, com 6.020.164 casos e 168.613 mortes, o índice de letalidade é ligeiramente mais alto que o argentino – 2,8%. O que explica a diferença entre os números proporcionais é que a Argentina tem mais casos que o Brasil (3% da população está contaminada, enquanto aqui o indicador é de 2,8%).

Traduzindo, o que sempre dizemos: a doença pode matar menos em um ou outro lugar, mas, quanto maior a proporção de casos, certamente maior será o números de mortes.

E é por isso que a situação de Foz do Iguaçu fica cada vez mais preocupante. A letalidade da doença, em Foz, é de 1,44%, bem mais baixa que no Brasil. Mas, proporcionalmente, há mais casos aqui que no Paraná, no Brasil, na Argentina…

A jornalista Nora Bär, em seu artigo, diz que “os resultados (a mortalidade na Argentina) são difíceis de explicar, se se levar em conta que inclusive países que optaram por não restringir as atividades e a mobilidade (ou fazer isso em pequenas doses) hoje apresentam menor mortalidade”.

Não tem a ver com o vírus, disse a ela o virólogo Humberto Debat, do Instituto Nacional de Tecnologia Agropecuária e da Universidade Nacional de Córdoba. “O vírus é o mesmo; o que mudam são as políticas, as restrições, as atitudes da população e os organismos de gestão e controle”, disse o especialista.

Embora ela ressalve que a comparação com outros países da América Latina possa não ser muito exata, já que as mortes por covid-19 não são contadas com precisão, devido à saturação dos sistemas de saúde, os especialistas que ela ouviu coincidem num ponto: não há dúvidas de que a alta mortalidade se deve ao contágio de muitas pessoas, e não à deficiência do sistema médico.

Veja mais uma análise, feita pelo químico analítico da Facultad de Ciências Exatas e pesquisador do Conicet, Roberto Etchenique. Ele diz que a Argentina optou por moderar a velocidade de contágio, não por “esmagar” a curva de contaminação.

“Na Espanha e na Itália, (o combate à pandemia) foi uma combinação de quarentena muito rigorosa (muito mais que na Argentina) e medo. Na Nova Zelândia, rastreamento do vírus e isolamento. Na Alemanha, testes e detecção precoce. Na Coreia do Sul, geocalização e busca automática de infectados nas proximidades. Em Cuba, janelas abertas e pessoas com planilhas nas esquinas de cada bairro”, compara o especialista.

Na Argentina, segundo ele, a tática mais eficiente “teria sido usar os testes para detectar assintomáticos e fechar áreas como se fez em Córdoba. Não se pode esquecer que Córdoba e Rosário (cidades argentinas) esmagaram a curva, até que a área metropolitana de Buenos Aires contaminou-as novamente”.

No mundo

Nos Estados Unidos, a Califórnia decretou toque de recolher. O país enfrenta novos recordes de contágios e mortes. Está em 1º lugar no ranking mundial, com 11.915.042 casos e 254.445 mortes. Mas observe que o índice americano, de 775,2 mortes por covid-19 a cada milhão de habitantes, ainda é inferior ao do Brasil (795,3).

A agência argentina Télam informa que as vacinas renovaram seu protagonismo no mundo, depois da “segunda onda” em países da Europa, onde Alemania, França, Itália, Áustria, Reino Unido, Bélgica e Grécia voltaram a impor confinamentos para tentar conter a pandemia, mesmo com o risco de prejudicar mais uma vez a economia.

A esperança está na vacinação, que já começou na China e deve ser iniciada nos Estados Unidos até o final deste ano, com vacinas das empresas Pzifer e Moderna.

No Brasil, o Estado de São Paulo recebeu na quinta-feira, 19, um lote com 120 mil doses de vacina Coronavac, desenvolvida pela farmacêutica chinesa Sinovac, em parceria com o Instituto Butantan.

O governador João Doria anunciou que o Estado irá receber 46 milhões de doses da Coronavac num prazo de 40 dias.

Enquanto não vem…

A vacina é uma esperança de conter a contaminação e as mortes. Mas, por enquanto, é só uma esperança. O que resta a nós, que entendemos como o vírus é perigoso e traiçoeiro, é cuidar-nos e evitar que ele contagie um familiar ou um amigo que tenha comorbidades (e às vezes nem sabe disso) ou já passou dos 60 anos, com ou sem doenças.

Por medo – um internamento, mesmo que para casos menos graves, é sempre um suplício – ou por solidariedade, vamos usar da prevenção. Não é um sacrifício tão grande usar máscaras corretamente, lavar as mãos com frequência, usar álcool em geral e evitar aglomerações.

Dá pra ser feliz com estes procedimentos. Talvez seja melhor que o remorso de saber que foi responsável por um internamento ou até pela morte de alguém, por puro descaso.

Foto Author, www.vperemen.com, License CC-BY-SA
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