Cidades mais povoadas do Paraguai estão com 100% dos leitos de covid-19 ocupados

A situação se agravou nos últimos dias. “Não posso mais receber pacientes porque não tenho ventiladores mecânicos”, queixou-se a diretora de um hospital.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

81.906 casos e 1.743 óbitos. Proporcionalmente, a situação do Paraguai é bem melhor que a de Foz do Iguaçu. Mas a crise sanitária se agravou também no país vizinho.

Antes, a comparação: em relação à população, o Paraguai registra 1.153 casos a cada 100 mil habitantes; em Foz, a relação é 4,5 vezes maior: 5.286 casos a cada 100 mil moradores.

Em mortes, também aqui está pior. O Paraguai, até domingo, tinha a proporção de 24,5 óbitos a cada 100 mil habitantes; em Foz do Iguaçu, são 72,4 mortes a cada 100 mil. Quer dizer, a mortalidade é quase três vezes maior em Foz que no Paraguai.

Mas isso se deve ao elevado número de casos em Foz, já que a letalidade (mortalidade provocada pela doença) é de 1,38% na cidade e de 2,1% no país vizinho. Aquela história: quanto mais casos, mais mortes, mesmo que a letalidade seja mais baixa em um ou outro local.

100% de ocupação dos leitos

A situação dos leitos de UTI para covid-19 em Foz é quase tão grave quanto a enfrentada por Assunção e pelos departamentos Central e Caacupé. A ocupação já passa de 90% nos hospitais Municipal e Ministro Costa Cavalcanti; e já chegou a 100% nos hospitais paraguaios das regiões mais populosas.

“Em períodos de uma ou duas horas, os leitos de terapias se ocupam e desocupam durante os últimos dias, nos hospitais habilitados para atender os casos respiratórios por covid-19”, noticia o jornal Última Hora.

O chefe da Unidade de Cuidados Intensivos do Instituto Nacional de Enfermidades Respiratórias e do Ambiente (Ineram), Alberto Ortíz, confirmou ao Última Hora que 100% dos leitos de UTI desse hospital de Assunção estão ocupados de forma permanente.

“Antes, tínhamos mais disponibilidade, mas agora os leitos se ocupam rapidamente e com pacientes mais graves”, disse o médico, em entrevista à Monumental 1080 AM.

Até mesmo os leitos de enfermaria estão praticamente colapsados, já que cada vez mais as pessoas se expõem a aglomerações e os contágios vão se incrementando, diz o Última Hora.

Internamento de jovens

Agora, o internamento também está ocorrendo com jovens. “No começo, tínhamos pacientes com patologias de base, mas agora não há idade, e já não nos surpreende porque isto vai ser assim. Os jovens estão ingressando cada vez mais no Ineram e não vemos possibilidade de melhora nessa situação”, afirmou Ortíz.

No Hospital Ingavi, mantido pelo Instituto de Previdência Social, também houve um aumento nos internamentos. O diretor do hospital, Ricardo Oviedo, disse que os 18 leitos de UTI estão ocupados. E que há pacientes em 80 dos 88 leitos de enfermaria. “Tivemos que habilitar 20 leitos a mais num bloco novo, porque a disponibilidade é insuficiente”, disse.

Oviedo prevê que a situação poderá piorar, porque o desafio não é apenas o de ampliar o número de leitos e equipamentos, mas sim de contratar mais recursos humanos especializados em atuar nessas unidades.

Sem oxigênio

No departamento de Cordillera, a diretora do Hospital Regional de Caacupé, Lourdes González, informou que a cidade recebe cada vez mais pacientes que chegam em estado respiratório crítico. Todos os leitos de urgência estão ocupados, bem como os seis de UTI.

“Nos preocupa muito, porque estamos recebendo muitos pacientes em estado crítico. E isso, somado às aglomerações dos últimos dias em locais de lazer (balneários e outros), vamos todos ver os resultados nos próximos dias”, disse.

“Este é o pior momento para Caacupé. Temos muitos pacientes que já são de idade vulnerável e que requerem de 10 a 15 dias de internamento”, contou a médica.

“Vemos que os protocolos já não se cumprem no dia a dia. As pessoas compartilham copos de bebidas e tereré, e é difícil lutar contra isso. Estamos muito preocupados porque às vezes não podemos receber mais pacientes e temos que enviar para outros locais”, disse.

Um dos problemas é a falta de equipamentos. “Não posso mais receber pacientes porque não tenho mais aparelhos de ventilação mecânica”, concluiu, em entrevista à 1080 AM, conforme o Última Hora.

SITUAÇÃO ESTÁ MELHOR EM ALTO PARANÁ

Carlos Pallarolas em entrevista à TV Telefuturo. Captura de tela

O médico Carlos Pallarolas, chefe do Departamento de Pneumología do Hospital Regional de Ciudad del Este, do departamento de Alto Paraná, disse que a situação é bem diferente da que vivem outras regiões do Paraguai.

Segundo ele, também em entrevista ao Última Hora, a ocupação dos leitos de UTI está entre 30% e 35%, e já inclui pacientes de outros departamento do Paraguai.

“Hoje em dia temos uma baixa ocupação de leitos, tanto de comuns como de UTI, e poucos casos por dia, em comparação ao que temos em nossa frente, cruzando a Ponte da Amizade” (referiu-se a Foz do Iguaçu).

Os momentos piores em Alto Paraná foram no final de junho, em agosto e em setembro, quando se chegou ao pico de contágios e havia 100% de ocupação de leitos. Houve necessidade, na época, de encaminhar pacientes para Assunção.

Os hospitais públicos de Alto Paraná tinham 15 leitos de UTI, antes da pandemia, e agora contam com 60, dos quais 16 estão no Hospital Regional e 42 no Hospital Integrado.

Os leitos comuns somam 128, 80 deles no Hospital Integrado e 48 no pavilhão recentemente inaugurado no Hospital Regional.

Pallarolas disse que o setor de saúde via com “bastante temor” a abertura da Ponte da Amizade, mas confiou na consciência dos moradores. A maior probabilidade de contágios, disse, é no microcentro de Ciudad del Este, mas as medidas sanitárias adotadas não provocaram um aumento de casos.

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