Rio Paraguai chega ao nível mais baixo da história, em Assunção. E não há previsão de chuvas

Navegação pode ficar seriamente prejudicada. O Paraguai ainda enfrenta outro problema com a seca, os incêndios de campo e florestais.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

O nível do Rio Paraguai atingiu no sábado, 10, o nível mais baixo da história no porto de Assunção, noticia o jornal La Nación, com base em informações da Administração Nacional de Navegação e Portos (ANPP).

O índice ficou em -0,43 metro, isto é, negativo em relação ao ponto de medição mínimo. Baixou três centímetros em apenas dois dias (estava em – 040 m na quinta-feira).

“Estiagem histórica do Rio Paraguai”, anunciou a ANPP em sua conta no Twitter. O nível mais baixo registrado anteriormente foi em 1969, quando chegou a -0,40 metro, informou.

Nível do rio baixou três centímetros em apenas dois dias.

Não chove praticamente em todo o Paraguai desde meados do ano. Também não há chuvas no Pantanal brasileiro, onde o Rio Paraguai normalmente recebe um grande volume de água.

O gerente de Prognósticos Hidrológicos da Direção Nacional de Hidrologia, Alejandro Max Pastén, disse acreditar que o fenômeno La Niña, responsável por esta longa estiagem, poderá durar até o início de 2021, quando deverá voltar a nornamlidade climática.

La Niña é um fenômeno de resfriamento das águas do Oceano Pacífico, que altera a rota dos ventos alísios e provoca mudanças climáticas em quase todo o mundo.

Castelo entre as rochas

Outra reportagem do La Nación, do jornalista Arturo Pena, mostra que a histórica baixa do Rio Paraguai prejudica os pescadores dos municípios de Limpio e Villa Hayes.

Um deles, Osmar Ramírez, hoje se dedica a atender visitantes interessados em conhecer El Peñon, um castelo erguido há 100 anos numa ilhota do Rio Paraguai, que hoje pode ser visto sem as águas, em meio às rochas.

O castelo, normalmente cercado pela água, e agora, cercado apenas pelas rochas.

Ramírez, de 22 anos, cresceu praticamente no rio, diz Arturo Pena. Com 22 anos, ele contou que nunca viu nada parecido.

“Dá para pescar muito pouco com esta baixa do rio, mas agora o que nos ajuda são aos passeios até El Peñon. Está vindo muita gente, especialmente nos finais de semana. Isto noas ajuda agora, mas não sei o que pode acontecer se o rio continuar a baixar”, disse outro pescador, Dionisio Ibarra.

O jornalista aproveita para lembrar que o pequeno castelo está abandonado a sua sorte. Nenhuma autoridade, municipal ou estatal de maior importãncia, se preocupa com a edificação. Os próprios pescadores cuidam do local. Eles pintaram o castelo e improvisaram uma escada rústica de metal, para acessar a construção.

Na verdade, Limpio e Villa Hayes disputam a propriedade de Peñon, e talvez por causa da disputa ninguém faça nada, a não ser os pescadores.

Há muitas versões e lendas sobre o castelo. Mas ele teria sido construído por um capitão de marinha mercante sobre um amontado de rochas. É na verdade um pequeno farol para as embarcações, cujo nome técnico é baliza, que indivava a margem onde havia mais profundidade do rio, como uma boia.

Mas o capitão tinha outros usos para o castelo, também. Era ali que ele mantinha encontros amorosos. Não or acaso, teve cerca de 40 filhos.

Navegação prejudicada

À parte a mudança na paisagem, o que mais preocupa os transportadores é que, como não etão previstas chuvas importantes, cada vez mais ficará divultada a navegação, o que gerará mais custos aos navegadores.

O Centro de Armadores do Paraguai prevê meses muito difíceis. Segundo o setor, a situação vem se agravando desde setembro do ano passado. Em janeiro, o rio teve uma recuperação, mas logo em seguida voltou a baixar.

Cerca de 85% do comércio exterior do Paraguai – importações e exportações – se dão pelo hidrovia Paraguai-Paraná, outro rio que também sofre os efeitos da seca, embora menos severos.

O governo do Paraguai enviou projeto de lei para considerar a estiagem como situação de emergência, mas o projeto esbarra na posição de deputados que não querem garantir mais recursos para dragagem dos rios, porque não há condições para mais endividamento.

O Centro de Armadores Fluviais e Marítimos do Paraguai disse que, se for rejeitado o projeto, o comércio exterior está em risco. “Se não forem feitos os trabalhos de dragagem, não vamos poder chegar sequer até Pilar (que fica a 350 km de Assunção). Está em risco o abastecimento geral do país”, disse o presidente do centro, Robert Bosch.

Segundo ele, os transportadores só estão conseguindo trazer 40% do total da carga, por falta de água. “A dragagem é um direito mínimo de que necessitamos para continuar navegando e movimentar as cargas de importação e exportação”, afirmou.

Outros 17 sindicatos empresariais também divulgaram um comunicado para que se aprove o projeto de lei que declara estado de emergência para a navegação, destacando que a situação é cada vez pior, devido à falta de previsão de chuvas.

Incêndios, outro drama

Na queima de pastagens, prática muito comum no Paraguai, quase sempre se perde o controle e atinge mata nativa. Foto Ministério de Saúde Pública do Paraguai

Os incêndios são outra consequência da seca que atinge o Paraguai. Muitos, provocados por queimadas fora de controle, por descaso ou mesmo propositais.

Só no domingo, foram registrados vários incêndios em Assunção e nos departamentos Central e Cordillera.

No município de Altos, em Cordillera, uma queimada de pastagem provocou um grave incêndio florestal, segundo o jornal Última Hora.

Nos últimos dias, foram reportados pelos bombeiros voluntários cerca de 1.900 incêndios no Paraguai.

O Parque Nacional Caazapá, que já foi alvo de reportagens mostrando a devastação provocada pelos plantadores de maconha, voltou a ter novos focos de incêndio, no final de semana.

Mais um incêndio no Parque Nacional Caazapá.

Até mesmo o papa Francisco, no domingo, 11, lamentou os incêndios que atingem as regiões centrais da América do Sul, como o Pantanal e o Paraguai, as margens do Rio Paraná e a Argentina, além da Califórnia, nos Estados Unidos.

dios que estão atingido muitas partes do mundo, em particular as regiões centrais da América do Sul, como o Pantanal, o Paraguai, as margens do rio Paraná e a Argentina, além da costa ocidental dos Estados Unidos, principalmente a Califórnia.

Muitos incêndios são provocados por uma seca persistente, mas também há os que são causados pelo homem”, afirmou o papa, após a oração do ângelus, no Vaticano.

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