Cascavel tem algumas coisas a ensinar pra Foz, na questão de urbanismo

Foz quer se “reinventar”, o que é bom. Mas Cascavel segue algumas fórmulas-padrão e se dá bem.

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Cláudio Dalla Benetta*

O projeto apresentado pela Prefeitura em novembro, "Reinventando Foz", ainda está só no papel. Além da recuperação de rios, implantação de corrredores verdes e um "parque urbano" na terceira pista da Avenida JK, serão construídos de 28 km de ciclovias e ciclofaixas.

Exigirá um financiamento de US$ 33 milhões da Agência Francesa de Desenvolvimento, com juros baixos, porque a instituição apoia projetos sustentáveis, e uma contrapartida de US$ 8,3 milhões do município. Não é nenhuma fábula, porque permitirá a realocação de famílias de áreas sujeitas a enchentes e que devem ser de preservação permanente, despoluirá rios, criará parques e ciclovias.

Mais que isso, vai integrar a cidade a seus abandonados e sujos rios e riachos, cada vez mais poluídos e abandonados à própria sorte (ou azar).

Um parque à beira-rio, com ciclovias, pista de caminhada e bancos (que não existem em nossas praças). Isto faz parte do 'Reiventando Foz". 

É até possível que o escritório do urbanista Jaime Lerner atue no projeto, com toda a experiência de quem já transformou Curitiba, com parques que viraram atrativos turísticos, transporte coletivo ainda exemplar e outras boas ideias. 

Mas o "Reiventando" é limitado à própria área prevista no projeto. O problema é que Foz padece com um transporte coletivo lamentável, suas ciclovias não permitem um deslocamento até o centro, por exemplo, e são usadas mais para lazer do que por pessoas que querem ir ao trabalho ou à escola, com rara exceções de alguns trechos.

MobiFoz

A par do "Reiventando Foz", o município tem que começar já, o quanto antes possível, a pensar e transformar os meios de transporte da cidade. Há um projeto feito pelo Parque Tecnológico Itaipu, com técnicos da Prefeitura, que ainda não teve detalhamento técnico, mas pode ser transformado em realidade, desde que haja boa vontade e recursos: é o Mobi Foz.

Pra resumir o projeto, prevê ciclovias em grande extensão da cidade e pistas exclusivas para o transporte coletivo. 

Exatamente o que Cascavel está fazendo. Com resultados que, de início, desagradaram os usuários, mas, pouco a pouco mais, mais e mais pessoas perceberam as vantagens, atuais e pro futuro da cidade.

Sem reinventar

O ônibus em pista exclusiva passa pela margem de uma avenida que é uma loooonga praça. 

A ideia é relativamente simples e nem é novidade em muitas cidades, mas, claro, adaptada à situação de Cascavel. Para o transporte coletivo, linhas chamadas "troncais" circulam em corredores exclusivos em três avenidas, Brasil, Barão do Rio Branco e Tancredo Neves. 

Ponto de ônibus reforçado, que abriga de fato e é quase a prova de vandalismo.

Essas linhas ligam quatro terminais ao Terminal Central, próximo à Catedral, na Avenida Brasil. Ali é feito o transbordo dos passageiros que vêm de um bairro e querem se dirigir a outro, sem pagar passagem.

Na verdade, o terminal central – e o mais importante – ainda está em obras.

Mas o fundamental nisso tudo é que os ônibus se tornaram prioridade dentro do sistema de trânsito de Cascavel. A pista para eles, demarcada por "tartarugas", não pode ser invadida por carros particulares, sob pena de multa pesada. E os motoristas respeitam.

A importância de um sistema como esse, semelhante ao criado em Curitiba lá nas décadas de 1970 e 1990, com linhas expresso ligando o centro às regiões Norte, Sul, Leste e Oeste da cidade, é que é a melhor forma de se disciplinar o tráfego, acompanhar o movimento de passageiros – e efetuar mudanças, quando e se necessário. Mas, principalmente, é uma mudança de filosofia urbanística, ao corrigir a distorção de que carro particular deve "competir" com o transporte exclusivo.

Na Avenida Brasil de Cascavel, ainda está sendo construído o terminal principal. Mas os pontos de ônibus existentes ao longo da via são bem diferentes dos que conhecemos: têm grande capacidade para abrigar passageiros, livres do sol e da chuva, com materiais resistentes até ao vandalismo. 

Ciclistas e pedestres

E mais: Cascavel já tem dez quilômetros de ciclovias. O trecho mais importante é o da Avenida Brasil, com sete quilômetros de pista boa, pintada de vermelho. Para os pedestres, há uma pista também larga, que passa boa parte do trecho sob árvores (algumas ainda estão crescendo, mas no futuro haverá uma boa sombra).

Outros três quilômetros existem na Avenida Barão do Rio Branco. E a revitalização da Avenida Tito Muffato garantiu mais uma via exclusiva para ciclistas.

Claro que ainda há pedestres que andam nas ciclovias, ciclistas que "cortam" caminho por dentro das estações de ônibus à margem do trecho e assim por diante. Mas, agora, é questão apenas de conscientização.

Estacionamento de bikes

Em muitas lojas da Avenida Brasil, os comerciantes já instalaram pequenos bicicletários para os clientes, que chegam, "estacionam" a bicicleta e vão às compras. Mas, nos horários de pico, as ciclovias são ocupadas mesmo por pessoas que vão ou voltam do trabalho e escolas.

Quem usa a bicicleta para ir ao trabalho, por exemplo, economiza um bom dinheiro no final do mês. Mas os ciclistas querem que haja ampliação das pistas, para chegar aos bairros em segurança.

De qualquer forma, Cascavel está no caminho certo da mobilidade urbana moderna: boas calçadas, ao menos na área central, ciclovias e prioridade para os ônibus no trânsito.

Dá inveja de uma "praça" assim: bancos, lixeiras e sombra das árvores. É a "praça" Avenida Brasil.

E, detalhe final: o canteiro da Avenida Brasil, muito largo, é uma praça contínua, com muitos bancos (ei, falar nisso, quando as praças de Foz terão bancos?) e, ao lado deles, lixeiras. Não há lixo jogado nas pistas de caminhada ou de bicicleta, nem no gramado. As lixeiras estão cheias.

E então, Foz do Iguaçu?

* Cláudio Dalla Benetta é jornalista (ele viajou a Cascavel por motivos particulares, mas não deixou de observar a "paisagem" cascavelense.

A opinião aqui expressada não reflete, necessariamente, a opinião do H2Foz.

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