Covid-19. Não são apenas as fronteiras. Estados Unidos estudam restringir viagens ao Brasil

Número crescente de casos e de mortes por covid-19 gera preocupação geral nos vizinhos de perto e nos aliados de longe.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Se até os Estados Unidos consideram impor restrições nas viagens para a América do Sul, em especial ao Brasil, o que dizer de paraguaios e argentinos, em situação bem menos complicada que a nossa em relação ao novo coronavírus?

Agora que o Brasil passou a registrar mais de mil mortes por dia, dificilmente as fronteiras serão abertas a curto prazo.

Em 24 horas, de terça para qiarta-feira, 20, o número de casos confirmados de covid-19, no Brasil, subiu de 271.628 para 291.579. São 19.961 a mais.

O número de mortes, por sua vez, aumentou de 17.971 para 18.859, ou 1.068 vítimas fatais só na virada de um dia pro outro.

Os números são de quinta-feira, porque ainda não foram atualizados no painel on line da universidade americana Johns Hopkins.

Topo do ranking

No painel da Johns Hopkins, os totais no mundo, de casos e mortes, e os primeiros no ranking.

Os Estados Unidos da América, que lideram o ranking dos países com mais casos e mais mortes por covid-19, registraram mais 3.207 casos e 276 mortes, em 24 horas. Agora, são 1.551.853 casos e 93.439 mortes.

A Rússia, segundo lugar no ranking de infectados, teve mais 8.849 e está agora com 317.554 casos e "apenas" 18.859 mortes (o "apenas" é na comparação com Brasil e Estados Unidos).

Em casos, a Rússia tem 25.975 a mais que o Brasil. Mas, mantida essa relação diária, de o Brasil registrar diariamente cerca de 10 mil casos a mais que a Rússia, logo irá para o segundo lugar. Provavelmente já no final de semana.

Note-se, também, que o Brasil registra diariamente, agora cada vez mais seguido, acima de mil mortes, número que os Estados Unidos apresentavam no pico da pandemia por lá, onde a curva parece estar se aplainando.

Em mortes, o Brasil permanece em sexto lugar. À sua frente, está a Espanha. O número de mortes na Espanha não foi atualizado nas últimas 24 horas, e por isso não dá ainda pra saber qual é o registro atual, pra comparar com o crescimento dos óbitos por aqui. O último número da Espanha é 27.888 mortes, ou 9.029 a mais que no Brasil.

Proporcionalmente à população

Leitores às vezes reclamam que os comparativos feitos pela imprensa não levam em conta a população dos países, e que cada número deve ser feito levando em consideração essa proporção.

Vamos analisar os três primeiros no ranking. Nos Estados Unidos, os casos equivalem a 0,5% da população. A letalidade (mortalidade) provocada pela doença é de 6%. Em relação à população, essas mortes representam 0,02%.

Na Rússia, os casos atingem 0,2% da população. A letalidade da covid-19 é muito baixa (0,9%), enquanto essas mortes, proporcionalmente à população, significam 0,002% dos 144 milhões de habitantes.

E no Brasil? Vamos lá. Os casos atingem 0,1% dos 210 milhões de brasileiros. A mortalidade da doença é de 6,4% do número de casos, maior que nos Estados Unidos. Em relação à população, essas mortes chegam a 0,008%.

O que se deduz: nos Estados Unidos, os casos representam uma parcela significativa da população e as mortes também. Na Rússia, os casos têm uma proporção elevada, e as mortes não impactam em relação ao número de russos.

Diferenças entre os três (e igualdades)

Em seu site, a CNN Brasil já comparou os três países e mostrou as respectivas diferenças.

Os três estão entre os dez mais populosos do mundo e possuem cidades grandes e movimentadas. Os três, também, mostraram-se desorganizados e incrédulos diante do crescimento da doença em seu territórios.

A diferença entre os três, lembra a CNN Brasil, é a taxa de mortalidade, mais alta no Brasil que nos Estados Unidos. E bem baixa na Rússia. Em partes da Europa Ocidental, incluindo Itália, França, Espanha, Bélgica e Reino Unido, a taxa de mortalidade foi superior a 10%.

Na Rússia, a baixa mortalidade se deve à detecção da infecção na hora certa, bem como ao fato de os russos tenderem a consultar os médicos logo após o aparecimento de sintomas.

Além disso, mais de 60% dos casos diagnosticados no país aconteceram em Moscou, que tem uma população mais jovem e saudável do que nas áreas rurais.

E mais um detalhe apontado: a Rússia, em meados de maio, havia feito os testes de covid-19 em 40.995 pessoas por milhão de habitantes; os Estados Unidos, em 30.937 por milhão. E o Brasil, pra variar, aparecia na lanterna: 3.459 testes por milhão de habitantes.

Nos vizinhos

Pra ficar só na mortalidade, vejamos como estão os vizinhos. Na Argentina, as 403 mortes equivalem a 0,0009% da população (no Brasil, lembre, a 0,008%, "um zero a menos" – ou dez vezes mais).

No Paraguai, são 11 mortes, que correspondem a apenas 0,0001% dos seus habitantes.

Paraná, bem ou mal?

No quadro da Agência Brasil, a posição do Paraná, na posição 21 em casos e 15 em número de mortes.

O Estado do Paraná registrava na quarta-feira, 20, 137 mortes. Isso representa 0,001% da população, ou seja, dez vezes mais do que a proporção mortes x população no Paraguai.

O Estado de São Paulo, epicentro da pandemia no Brasil, tem 5.363 mortes, para uma população equivalente à da Argentina. Proporcionalmente, o índice é de 0,01%, ou dez vezes mais que o índice no Paraná. E 100 vezes o do Paraguai.

Fronteiras

São números assim que assustam os vizinhos dos dois países, que deverão relutar muito para abrir as fronteiras, por medo de que a contaminação no Brasil acabe gerando por lá índices muito superiores aos que já estão enfrentando.

Embora não tenha lá motivos pra criticar o Brasil, os Estados Unidos estão avaliando a situação na América do Sul, em especial do Brasil, para considerar restrições a viagens à região, segundo informou o vice-presidente Mike Pence, em notícia divulgada pela AFP.

"Estamos acompanhando de perto o que está ocorrendo na América do Sul, incluindo o Brasil, onde vimos que, nos últimos dias, houve uma alta considerável dos casos", disse o vice-presidente.

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