Desemprego em Foz é menor que em outras cidades que dependem do turismo

Mas os números mostram uma dura realidade: destinos turísticos vão precisar de atenção especial.

Apoie! Siga-nos no Google News

H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

A perda de 5.691 empregos com carteira assinada em Foz do Iguaçu, nos seis primeiros meses de 2020, representa 9,49% do total da base do empregos formais da cidade. Embora elevado, o percentual é inferior ao de outros destinos turísticos no Brasil, o que revela a situação dramática que vive o setor.

O secretário municipal de Turismo, Indústria, Comércio e Projetos Estratégicos, Gilmar Piolla, debruçou-se sobre os números do Caged (Cadastro Geral de Empregados e Desempregados), publicados na terça-feira, 28, pelo Ministério da Economia, para ter um panorama mais realista do setor.

Os dados que ele apurou mostram que Gramado, no Rio Grande do Sul, perdeu 3.068 empregos no mesmo período, o que significa 17,19% do total. A situação é ainda mais grave em Porto Seguro, na Bahia, onde a perda de 6.502 empregos representou 23,8%.

Situação quase semelhante à de Fernando de Noronha, em Pernambuco, onde a falta de turistas descartou 385 empregos, número que, para o arquipélago, significou 22,03% do total.

Não importa em qual região o destino turístico se localize, em todos eles os efeitos das medidas de contenção do coronavírus corroeram a indústria do turismo e praticamente colapsaram o setor. Em Balneário Camboriú (SC), onde se extinguiram 5.431 empregos, essa perda representou 11,4% do total. Em Ilhabela, foram 1.050 perdas, ou 14,91% dos empregos.

Dependência maior, desemprego idem

Jericoacoara, no Ceará. Em números absolutos, 970 desempregos. Em relação à base de empregos, quase 30% do total, o maior índice entre os destinos turísticos pesquisados. Foto Viajanet

Quanto maior a dependência do turismo, maior o desemprego, como em Jericoacoara, no Ceará, onde o número absoluto da perda de empregos parece baixo (975), mas no semestre isso representou uma queda de 29,45% em relação ao total existente em janeiro.

Em Guaratuba, no Paraná, foram 803 empregos perdidos de janeiro a junho, ou 15,25% do total; em Porto de Galinhas (Pernambuco), além do número elevado (4.849), foi também muito alto o percentual de perdas (18,55%).

Também com percentuais acima de dois dígitos ficaram as perdas de empregos em Armação de Búzios (RJ), com menos 1.774 ou 16,33%; e Ubatuba (SP), com menos 2.074 e 11,51%.

Menos de um dígito

Com índice abaixo de Foz, embora ainda elevados, ficaram Petrópolis, com perda de 4.992 empregos (7,89% do total); Campos do Jordão, 1.086 (8,25%) e Poços de Caldas, 4.559 (8,99%).

Já as cidades que têm um turismo forte, mas contam com outros setores da economia também bem estruturados, a perda de empregos no primeiro semestre foi menos acentuada. E independe, também, de região.

É o caso de Natal (RN), com perda de 2.549 empregos, ou 3,61% do total; Fortaleza (CE), 22.264 (3,52%) e Florianópolis, 13.087 ou 6,79% do total.

Base econômica mais dividida

A situação dessas capitais, que são também destinos turísticos importantes, é parecida com outras como Curitiba,  onde foram perdidos 22.262 empregos, que representam 3,20% do total. Ou, pra sair das capitais, há o exemplo de Londrina (5.585 empregos perdidos, 3,77% do total) e Maringá (4.541 empregos, 3,10%).

Uma rara exceção neste cenário, com geração de empregos, ao invés de perdas, é Cascavel, aqui no Oeste paranaense. A cidade fechou o semestre com um número baixo, mas positivo, de 56 empregos criados.

Cascavel fechou com 52 empregos criados, assim como outras cidades do Oeste. Agronegócio foi a diferença. Foto Facebook

Agronegócio em alta

O que tem uma explicação bem simples: o forte da economia cascavelente é o agronegócio, um dos setores que não parou em nenhum momento, desde o início da pandemia. E mais, vive um grande momento.

Veja o que diz a revista Exame, em 7 de julho: “A pandemia do novo coronavírus deve fazer o produto interno bruto do país encolher até 9%. Mas, enquanto os demais setores da economia devem sofrer perdas amargas neste ano, o PIB do agronegócio deve crescer 2,5%, chegando a R$ 728,6 bilhões”.

“Será o maior valor obtido na história pelo setor, algo bastante positivo em um ano em que a economia está cambaleante”, disse o economista Renato Conchon à Exame.

Sorte de Cascavel e de outros municípios que têm a economia calcada no agronegócio. Para os demais, mesmo os fortemente industrializados, a situação será bem diferente. São José dos Pinhais, no Paraná, que sedia unidades da Renault e da Volkswagen, por exemplo, além de muitas fornecedores de autopeças e componentes, perdeu 3.817 empregos no primeiro semestre (4,13% do total).

Acordos em Foz do Iguaçu

Acordos entre patrões e empregados ajudaram Foz, até aqui, a não engrossar as estatísticas de desemprego. Foto Marcos Labanca

A situação em Foz do Iguaçu, se hoje é melhor que a de muitos destinos turísticos, exige a partir de agora muito mais atenção.

É que, no final de agosto, se encerram os acordos entre o Sindhotéis (Sindicato de Hotéis, Restaurantes, Bares e Similares) e o Sindetur (Sindicato das Empresas de Turismo) com o STTHFI (Sindicato dos Trabalhadores em Turismo e Hospitalidade), assinados em abril, com participação da Secretaria de Turismo, que garantiram a manutenção, por cinco meses, dos empregos nos meios de hospedagem e gastronomia de Foz do Iguaçu e Região.

Segundo Gilmar Piolla, os trabalhadores foram atendidos com a bolsa-qualificação, um benefício previsto na Consolidação das Leis do Trabalho – CLT

A concessão de 5.500 bolsas-qualificação garantiu a suspensão de igual número de contratos de trabalho por dois a cinco meses, o que se traduziu em redução do desemprego até agora. Foz do Iguaçu foi o único destino turístico que se beneficiou desta medida.

Medidas paliativas

Em live do vereador Márcio Rosa, para debater “A crise do turismo pós-pandemia – reabertura do setor turístico de Foz e os impactos na maior indústria da cidade”, o secretário Gilmar Piolla anunciou o início de negociações com o Ministério do Meio Ambiente e o ICMBio para garantir uma renda para os guias de turismo iguaçuenses.

Na live, Piolla (abaixo, à esquerda), falou de medidas que podem ajudar os profissionais de turismo.

A negociação é para que os atrativos de ecoaventura e de turismo de natureza, no Parque Nacional do Iguaçu, como as trilhas do Poço Preto e das Bananeiras, além de arvorismo e rapel, sejam liberados sem ônus à Prefeitura, para que a renda obtida com esses serviços seja revertida aos guias de turismo.

Segundo Piolla, essa concessão seria por tempo determinado e permitiria oferecer ao turista regional e nacional, de início, um produto novo. Os guias passariam por capacitações para atuar nessas atividades.

Na verdade, em novembro deveriam sair novas concessões para essas atividades de ecoaventura e turismo na natureza, mas, com a pandemia, Piolla acredita que isso deve demorar entre um e dois anos, por isso há essa oportunidade de criar produtos que atraiam turistas e ajudem os guias.

Arvorismo, antes uma concessão do Macuco Safari, pode voltar entre atividades que ajudarão os guias.

Auxílio emergencial

Piolla também informou que, na quinta-feira, 30, o prefeito Chico Brasileiro irá a Curitiba para uma reunião no Tribunal de Contas, onde terá resposta se será possível à Prefeitura estabelecer um auxílio emergencial, com seus recursos, aos profissionais do turismo.

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.