Desemprego pós-covid-19. Veja projeções para Brasil, Paraguai e Argentina

As três economias já sofrem e vão sofrer muito, ainda, com as medidas para diminuir o ataque do novo coronavírus. Mas não será igual para os três.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

O presidente do Paraguai, Mario Abdo Benítez, assinou decreto que congela o salário mínimo até o ano que vem. O documento cita o Conselho Nacional de Salários Mínimos, que recomendou o congelamento "como uma maneira de contribuir para preservar o delicado ambiente sociolaboral existente", informa o jornal Última Hora.

O mínimo, portanto, que teria reajuste agora em julho, fica mantido em 2.192.839 guaranis. Pelo câmbio desta terça-feira, 14, esse valor equivale a R$ 1.700 (arredondando os centavos), ou seja, o mínimo no Paraguai é 60% maior que o mínimo brasileiro (R$ 1.045).

O decreto do presidente também justifica o congelamento pela queda dos preços da cesta básica, que em abril teve uma deflação de 0,2% e, em maio, de 0,6%, conforme dados do Banco Central do Paraguai. A inflação acumulada nos últimos 12 meses está em apenas 0,7%, segundo o Banco Central.

O aumento do mínimo, nesse momento, justificou ainda o presidente em seu decreto, poderia ter "influência imediata" na atualização dos preços da cesta básica familiar e, "como efeito concomitante, o risco de aumento de outros preços".

Este decreto, que afeta o trabalhador paraguaio, é apenas uma das consequências da pandemia, que deverá gerar ainda outras mais sérias ao longo deste ano. A principal delas, o desemprego.

De ruim a pior

Nenhum dos três países -Brasil, Paraguai e Argentina – estava bem antes da pandemia. Mas, dos três, a Argentina estava pior, com queda de 2,2% no Produto Interno Bruto e inflação galopante de 53,8%, a mais alta desde 1991 e um dos maiores índices do mundo.

O Brasil, embora baixo, teve o maior crescimento do PIB, de 1,1%, com inflação controlada de 4,31%. A recuperação da economia seguia a passos de tartaruga nos primeiros meses deste ano.

No Paraguai, o PIB cresceu apenas 0,2% em 2019, mas o índice positivo reverteu a queda em meses anteriores. A inflação, historicamente baixa no Paraguai, fechou o ano em 3,6%. A recuperação da economia estava mais acelerada nos meses pré-pandemia.

Emprego e desemprego

Vejamos como fica a situação dos empregos em cada país, antes e após a pandemia.

Paraguai

De janeiro a março, mês em que teve início a pandemia de covid-19, a taxa de desemprego acumulada no Paraguai era de 7,9%, a mais alta na comparação com os 12 trimestres anteriores. A taxa anterior, de outubro a dezembro de 2019, tinha sido de 5,7%. Traduzindo, mesmo com a economia em recuperação, os empregos continuavam em queda. E o início da pandemia só reforçou a tendência.

Em números absolutos, esses 7,9% do total da População Economicamente Ativa representavam 285.904 pessoas desempregadas, 77 mil a mais do que em dezembro do ano passado, como noticia o ABC Color, com base em dados da Diretoria Geral de Estatística, Pesquisas e Censos.

Os dados também mostram que houve uma diminuição da subocupação (6,2%), no primeiro trimestre. A população subocupada chegava a 224.726 pessoas, ou cerca de 61 mil a menos que a população com empregos formais.

Depois da pandemia, as medidas de combate ao covi-19 provocaram a suspensão dos contratos de 100 mil trabalhadores e causaram a perda de milhares de empregos.

Os números oficiais do desemprego pós-pandemia ainda não foram detalhados. Mas economistas como Fabricio Vázquez alertam que, "sem estatísticas ou com estatísticas limitadas", o governo terá que decidir políticas capazes de trazer a reativação da economia e dos empregos, prevendo políticas específicas para cada setor.

Argentina

O desemprego na Argentina deverá fechar o ano em 12,8%, segundo projeções de 10  consultoras e centros de estudos, conforme o jornal argentino El Cronista. No segundo trimestre, a queda deve ter sido entre 13,5% e 14%, mantendo-se assim no terceiro trimestre.

O país fechou 2019 com o índice de 8,9% de desempregados. No final deste ano, portanto, quando o índice pode chegar a 12,8%, mais 830 mil pessoas vão se somar ao 1,9 milhão de desempregados que havia no final de 2019.

O Produto Interno Bruto do país, nos meses de abril, maio e junho deste ano, deve ter caído entre 10,5% e 12%, conforme projetam os especialistas, enquanto no terceiro trimestre previsão é de uma nova queda de 9,5%. Para todo o ano, a queda chegará a 8%, sobrando ainda uma rebarba de 4% de contração da economia em 2021.

Somam-se, assim, crise, desemprego e inflação alta. O governo argentino não adotou qualquer medida mais firme pra controlar o maior problema da economia do país: a inflação.

Em 2019, ela foi de 53,8%, a mais alta desde 1991 e um dos maiores índices do mundo. Pra este ano, a projeção é de 39%, segundo El Cronista. E, pior ainda para a Argentina, pra 2021 já se projeta um  índice de 38%.

Desemprego, crise que achata os salários e inflação que derruba o poder aquisitivo: para o trabalhador argentino, o pior dos mundos é o que se antevê pra este e o próximo ano.

Brasil

O desemprego, no Brasil, já era elevado antes da pandemia. No ano passado, a taxa foi de 11,9%; no primeiro trimestre deste ano, havia subido para 12,2%, de acordo com estimativa do IBGE.

A previsão é de terminar 2020 em 14,2%, segundo a Instituição Fiscal Independente do Senado, conforme matéria publicada no jornal O Estado de S. Paulo.

Serão 14 milhões de desempregados, em números redondos. Ou quatro vezes mais que a soma de desempregados na Argentina e no Paraguai.

A população brasileira é quatro vezes maior que a soma da população dos dois países vizinhos, portanto, o número de desempregados, proporcionalmente, não é tão assustador assim, na comparação.

O problema é: como gerar no mínimo uns 8 milhões de empregos, em plena crise, para o Brasil ficar com índices como já ostentou, de 6% a 7% de desempregados? (índices do início da década de 2000 e, também, de 2011 a 2015). Será difícil, quase impossível.

Em relação a outros fatores, o Brasil tem a seu favor a histórica e bem sucedida luta contra a inflação, que, nos últimos anos, só em 2015 teve índice superior a dois dígitos (10,67%, a maior taxa desde 2002). Na época, a Agência Brasil noticiou que a alta inflacionária se devia a um forte aumento dos preços, "principalmente os administrados pelo governo, como energia elétrica, gasolina, gás, transporte público e alimentos". Houve ainda impacto dos preços no setor de serviços e pela alta do dólar.

No ano seguinte, a recessão econômica foi a principal aliada na luta contra a inflação, que fechou 2016 em 6,34%. De lá para cá, não houve grande pressão sobre os preços, porque a economia continuou parada. Em 2019, o PIB aumentou apenas 1,1% e a inflação foi de 4,31%.

Conclusão

Numa análise superficial, o Paraguai está em situação melhor que os dois vizinhos. Inflação baixa, desemprego que pode reduzir ainda este ano, se forem reabertas as fronteiras, atividade agropecuária em alta e, em especial, construção de obras públicas de grande porte, como a Ponte da Integração Brasil-Paraguai, entre Foz e Presidente Franco; a ponte sobre o Rio Paraguai, que deverá ter obras iniciadas ainda este ano, ligando Carmelo Peralta a Porto Murtinho, no Mato Grosso do Sul, e o multiviaduto em Ciudad del Este. Além de rodovias e a agora anunciada construção de milhares de moradias populares.

Mas, para fazer frente à pandemia, o Paraguai precisou fazer dívidas (a mais recente, de US$ 2,5 bilhões), embora continue no patamar dos menos endividados da região.

O Brasil, ao contrário, mantém reservas cambiais que passam de US$ 350 bilhões, muito superiores, mesmo proporcionalmente ao tamanho da economia, à de países como Argentina e México. E mesmo que a China (proporcionalmente, lembre-se). E vem acumulando saldos positivos no comércio exterior, já que as importações despencaram e as exportações se mantêm em alta.

Trunfos à parte, se sairá melhor o país que souber resolver os gravíssimos problemas sociais, aproveitando a crise pós-pandemia para reduzir a miséria e o fosso entre os mais ricos e os mais pobres, e souber incentivar os setores que utilizam mais mão de obra.

Antes disso, será preciso passar pela pandemia. O Paraguai, que fechou tudo primeiro, tem sua receita. A Argentina, idem. E o Brasil está nas mãos de governadores e prefeitos para debelar o vírus, ou para que seus efeitos sejam os menores possíveis. Não será fácil. Foz do Iguaçu que o diga.

 

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