Foz do Iguaçu-Curitiba: relatos de um viajante em tempos de covid-19

Desde mudanças positivas – preço da gasolina e pedágio mais baixo – até hotel (bom) sem serviço de copa.

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Cláudio Dalla Benetta (*)

A primeira viagem pós-covid 19 vai ficar na memória. Pra bom observador, há tantas mudanças ao longo do percurso de 1.270 km entre Foz do Iguaçu e Curitiba (ida e volta), que vale a pena registrar.

Antes da viagem, checar se o carro está em ordem. Ok. Depois, encher o tanque de 60 litros, quase seco. Constatação: uma boa economia, na comparação com os tempos "pré-covid". A gasolina está, no mínimo, R$ 1 mais barata. Ida e volta, mais de R$ 100 de economia.

Já na estrada, outra coisa a destacar: os pedágios da Ecocataratas custam bem menos do que foi pago na última viagem, em 2019. Primeiro, por causa de um acordo de leniência da concessionária com o Ministério Público Federal do Paraná, pelo qual ela foi obrigada a baixar preços pra obter "perdão" por corrupção; segundo, porque não foi autorizado o reajuste de dezembro.

O problema é que há outras duas concessionárias na BR-277, entre Foz e Curitiba. De Guarapuava a São Luiz do Purunã, é a Caminhos do Paraná; e de São Luiz do Purunã a Curitiba, é a Rodonorte. Nessas, o pedágio está "normal". E a gente sente o baque.

A outra diferença entre as concessionárias é que a Ecocataratas aceita cartão de débito, o que facilita ao usuário, que não precisa ficar desesperado atrás de moedinhas pra facilitar o troco. E, no retorno a casa, está cheio de moedas espalhadas pelo carro.

Primeira parada, restaurante 3 Pinheiros, em Candói. Dos carros, sai todo mundo de máscara. Ao entrar, pisa num tapete desinfetante e usa álcool gel. O pessoal do restaurante, nos balcões e no caixa, está também de máscaras e luvas. O movimento não se compara ao de outros períodos, porque há menos viajantes.

Ao longo do trajeto, o número de caminhões parece muito superior ao de outros tempos. O tráfego é lento nas pistas simples, maior parte do trajeto. Menos gente viaja em carros particulares e ônibus, praticamente nem se vê. Um ou outro e olhe lá.

Longas oito horas depois, em que se conviveu, além de chuvas em alguns trechos, com neblina espessa na Serra da Esperança, região de Guarapuava, e em São Luiz do Purunã, já no último trecho da 277, você chega a Curitiba, que, já de longe, se destaca pelo clima cinzento,.

Pior que a chuva fina, em alguns trechos, foi a neblina espessa, no percurso de serras que a BR-277 atravessa.

O hotel já reservado era o Johnsher, na Rua Barão do Rio Branco, um quatro estrelas instalado num prédio histórico, com todas as comodidades que um estabelecimento do gênero oferece. A preço de no máximo 3 estrelas.

Na busca pela Internet, agora é fácil fazer reservas e encontrar hotéis, em Curitiba, com preço bom e sempre com café da manhã. Não precisa deixar cartão de crédito, não precisa nem confirmar a reserva. Aceita-se tudo nesta época em que hóspedes são poucos, por isso mesmo tratados com regalias.

Quer dizer, há o outro lado da moeda. O viajante chega cansado e com fome, no início da noite. Não quer sair pra jantar, mesmo porque grande parte dos restaurantes não funciona, por causa das medidas contra o novo coronavírus.

Mas o pior é que também não funciona o serviço de copa do hotel. "Só para o café da manhã", informa o recepcionista. Que é entregue no quarto do hóspede, apenas, depois que ele previamente escolheu, em um amplo cardápio, o que quer para o dia seguinte.

Sim, mas e agora, o que ele vai fazer? Pode sair pra um restaurante que fica longe do hotel, optar pelo delivery ou por uma pizzaria que vende bem barato a uma quadra de distância. Só vende pra levar ou por delivery. Ok, pizza grande, por apenas R$ 15. Quase de graça. Por isso mesmo, é quase só a massa, sem cobertura. Com fome, valeu.

Dia seguinte, logo cedo, uma volta pela cidade, antes do horário marcado para um negócio. Faz frio, vez por outra cai uma garoa bem fina. A cidade está cinzenta. Vive racionamento de água, precisa de muita chuva, e o que vem é esta garoa, junto com o frio.

As lojas vão abrindo, devagar. O que se verá, ao longo da manhã, é pouco movimento de compradores. As lojas mais procuradas fazem filas de espera, pra evitar aglomerações internamente. E todas exigem máscaras.

Nas agências bancárias, mesmo pra utilizar os caixas eletrônicos, não dá pra ir entrando na boa. Há um guarda que libera o ingresso a cada saída de um cliente. Não há aglomerações.

Caminhando e observando, a constatação: pelo menos 80% das pessoas que estão nas ruas do centro da capital usam máscaras. Mas há, aqui e ali, um grupinho conversando. Quatro rapazes, por exemplo: dois com máscaras e dois sem. Um dos "sem máscara" fuma.

Criança passeando com os pais? É uma cena bem rara.

Também chama a atenção o número de crianças. Isto é, a falta delas. Aqui e acolá, apenas uma mãe ou outra com um filho pela mão. Além da covid-19, o frio não anima a levar crianças a lugar algum.

Os curitibanos que se recusam a usar máscaras deveriam pensar melhor. Ela protege não apenas contra o novo coronavírus, mas contra outros vírus e bactérias que podem atingir os pulmões, de resfriados a gripes e bronquites.

De acordo com especialistas, o uso de máscaras, no combate à pandemia de covid-19, reduziu as internações por outros tipos de complicações respiratórias.

Foi uma viagem instrutiva. Mostrou duas realidades que se assemelham muito, a de Foz e a de Curitiba, com gente que respeita os protocolos e gente que não está nem aí pra eles.

Com (quase) todo mundo de máscaras, agora já não se sabe se a pessoa está sorrindo ou de mau humor, mesmo de perto. Se fosse a primeira viagem a Curitiba, a conclusão é que o curitibano é sisudo demais. Mas, quando se conversa, por alguma necessidade, a gente vê que não é bem assim. É só mesmo a máscara, o que não significa que o curitibano seja "mascarado".

Pra fechar: ao longo do trecho entre Foz e Curitiba (e vice-versa, claro), a estrada atravessa inúmeras cidades de pequeno porte. De passagem, dava para perceber que a máscara tornou-se um hábito nessas localidades. Ninguém foi visto sem ela, nas imediações da rodovia.

A esse motorista observador, talvez restem algumas multas por deixar de perceber a tempo radares estrategicamente localizados. É o preço da curiosidade, na primeira viagem pós-pandemia.
 

* Cláudio Dalla Benetta é jornalista em Foz

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