Gigante dos importados, comércio de Ciudad del Este tem futuro incerto 

Pelo menos 75 mil trabalhadores estão sem renda desde o fechamento da Ponte da Amizade.

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H2FOZ – Denise Paro
Vídeo: Marcos Labanca

Gigante dos importados, o futuro do comércio de Ciudad del Este, cidade vizinha a Foz do Iguaçu, está em jogo com a pandemia da covid-19 e o aumento do dólar. Há quase três meses fechada, a Ponte da Amizade, principal ligação entre Brasil e Paraguai, teve impedido o acesso de compristas e trabalhadores brasileiros ao centro comercial paraguaio, fato que contribuiu para minguar a economia fronteiriça.

Estimativas da Câmara de Comércio de Ciudad del Este indicam que 75 mil trabalhadores estejam sem renda.  Vice-presidente da Câmara de Comércio de Ciudad del Este, Juan Vicente Ramírez calcula que, entre os 75 mil trabalhadores atingidos pela crise, pelo menos 20 mil são funcionários de lojas e outros 55 mil referem-se a microempreendedores de rua e informais. Desse total, cerca de dois mil são brasileiros. 

O fechamento da fronteira tem inúmeros significados para o Brasil e o Paraguai, e os efeitos econômicos mostram certa interdependência entre Foz do Iguaçu e Ciudad del Este. Do lado brasileiro sai a maioria dos turistas e sacoleiros que movimentam o centro de importados, assim como um percentual de funcionários das lojas.

Pesquisa realizada pelo Centro Universitário Dinâmica das Cataratas (UDC), na Ponte da Amizade, em 2019, com 368 pessoas que entravam e saíam do Paraguai, revelou que ao menos 41,6% de quem passa pela fronteira é autônomo. O dado pode indicar o volume de pessoas que dependem, deste lado da fronteira, da venda de produtos importados para sobreviver. 

Joel Pastorini, “nunca vai voltar ao normal, vamos ter que se adaptar com a situação que vai vir daqui para a frente”.

O brasileiro Joel Pastorini tem comércio no Paraguai, mora em Foz do Iguaçu e aguarda a reabertura da ponte para retomar as atividades. Com atuação no setor de importados há 20 anos, ele acha que Ciudad del Este não será a mesma após o fim da pandemia. “Nunca vai voltar ao normal, vamos ter que se adaptar com a situação que vai vir daqui para a frente”, diz. Para ele, a possibilidade de migrar o negócio para Foz do Iguaçu está descartada para empresas pequenas a exemplo da dele, que tem 12 funcionários diretos. 

VÍDEO ENTREVISTA

Para o matemático e especialista em estatística e pesquisas Luiz Carlos Kossar, o futuro do comércio de Ciudad del Este não é animador, até porque antes da pandemia já existia, segundo ele, uma articulação no Paraguai para desativar o modelo comercial existente, baseado na triangulação. 

Kossar explica que a importância de Ciudad del Este para Foz do Iguaçu é latente, afinal muitos turistas são atraídos à cidade vizinha pela possibilidade de circular no comércio de importados. Por isso, o impacto do fechamento da fronteira também será visível em Foz do Iguaçu.

Boa parte dos 75 mil trabalhadores informais de Foz sobrevivem como auxiliares no comércio de importados do Paraguai, de forma direta e indireta, revela Kossar. “Toda cadeia de serviços que estes informais prestavam nas atividades econômicas na cidade foi reduzida. Como nunca antes na história de Foz, este impacto será devastador já nos próximos meses.” 

Ciudad del Este – Demissões em 30% do quadro funcional

Em Ciudad del Este, as demissões começaram no início de abril e, até o final do mês, já representavam 30% do quadro de funcionários das lojas, informou Natalia Ramírez, em live realizada na terça-feira, 2, pelo Iguassu Valey Foz, Núcleo do Programa Empreender da Associação Comercial e Empresarial de Foz do Iguaçu (ACIFI). Diante da incerteza, a disposição de alguns lojistas é transferir os negócios para Foz do Iguaçu a partir da oportunidade de se instalar free shops na cidade. 

Jorbel Griebeler, CEO da Cellshop Importados, diz que está pensando em investir em lojas francas deste lado da fronteira devido à dificuldade de manter o comércio no Paraguai em razão do contexto da covid-19. “Fica insustentável para as estruturas grandes”, ressalta.

De acordo com Griebeler, pelo menos 400 dos 650 funcionários foram demitidos. Desse total, cerca de 95% eram paraguaios – que perfazem a maioria dos trabalhadores nas lojas de Ciudad del Este.  

Reabertura gradual do comércio em CDE

Apesar de reabertura parcial, maioria dos shoppings permanece com corredores vazios

 comércio de Ciudad del Este foi reaberto, com medidas sanitárias, no dia 25 de maio e funciona das 10h às 17h. O decreto que permitiu a volta ao trabalho não animou os empresários porque o custo de manutenção e a remuneração dos funcionários ficam elevados diante da falta de clientes. Por isso, apenas 20% das lojas do centro comercial estão de portas abertas. “É impossível, nós não conseguimos pagar os aluguéis e o pessoal não tendo turistas. Nós dependemos muito do movimento da fronteira”, destaca a empresária Natalia Ramírez.

Nem todos os shoppings abriram, e aqueles que funcionam têm poucas lojas operando. O protocolo sanitário é rigoroso. Há controle de temperatura na entrada, local para lavar as mãos e restrição do número de pessoas, sinalizações para manter a distância necessária e pontos para entrada e saída de pessoas.  

Nesta semana, o governo paraguaio já sinalizou a disposição de facilitar o acesso de empresários brasileiros que têm negócios no país e estão em Foz do Iguaçu para que cruzem a fronteira. As medidas para permitir essa passagem estão em estudo, e uma das alternativas seria fazer quarentena em hotéis de Ciudad del Este antes permitir a circulação no comércio. Muitos empresários precisam entrar no Paraguai para resolver questões pessoais e pagar funcionários. 

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