Guerrilheiros paraguaios sequestram ex-vice-presidente do país e seu motorista

Governo atribui sequestro como “resposta política” ao ataque ao acamamento do Exército do Povo Paraguaio que resultou na morte de duas meninas.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

o ex-senador e ex-vice-presidente do Paraguai Óscar Denis foi sequestrado nesta quarta-feira (9), à noite, em sua fazenda localizada no municíio de Bella Vista Norte, no departamento de Amambay, cuja capital é Pedro Juan Caballero, que faz fronteira com Ponta Porã (MS).

O motorista dele, um jovem indígena de 21 anos, chamado Adelio Mendoza, também foi levado pelos sequestradores, como informa a agência de notícia IP, do governo paraguaio.

As filhas do ex-senador apelara para que os sequestradores ministrem os medicamentos de que ele precisa. Foto Agência IP

A família de Denis, em entrevista coletiva à imprensa, disse que espera por um comunicado dos sequestradores e pediu para que forneçam a ao senador os medicamentos que utiliza, sob risco de ele morrer.

Uma das filhas, Beatriz Denis, disse que não houve ameaças prévias ao sequestro e que a família não tem inimigos. “Nós não temos problemas com as comunidades indígenas, há muitos trabalhando ali (na fazenda)”, disse.

O sequestro foi assumido pela Brigada Indígena do Exército do Povo Paraguaio (EPP), um grupo de guerrilheiros que atua no Norte do país, principalmente, desde 2008 (oficialmente, embora a guerrilha atue há mais de 20 anos).

São poucos integrantes, entre 80 e 100 pessoas, que sobrevive de extorsões contra fazendeiros, ataques a propriedades e – suspeita-se – também do conluio com traficantes.

Mistura ideológica

Formalmente, o grupo de guerrilha existe desde 2008.

O grupo defende uma ideologia que mescla as doutrinas marxista, leninista e guevarista, mas também reverencia o ditador José Rodrígues Gaspar Francia, que incutiu nos paraguaios uma sólida convicção cidadã da independência nacional, embora ele não a tenha declarado formalmente (isso ocorreu em 1842, quando ele já tinha morrido).

No carro do senador, segundo o jornal Última Hora, foram encontrados três panfletos da Brigada Indígena, com termos usados normalmente pelo EPP. Num deles, há uma advertência a fazendeiros, administradores, capatazes, empresários da soja e menonitas (alemães que emigraram ao Paraguai e mantêm grandes áreas produtivas) que “abusam das comunidades indígenas: não ficarão impunes”.

“Resposta política”

O ministro do Interior do Paraguai, Euclides Acevedo, atribui o sequestro a uma possível resposta política ao Estado, que oito dias atrás entrou em confronto com o EPP, num acampamento a 30 km do local de onde o senador foi levado, provocando a morte de duas crianças de 11 anos. As meninas, argentinas, seriam filhas de integrantes do exército ilegal.

O ministro disse que  a resposta do Estado ao sequestro será “com a mesma intensidade, com a mesma força. É a lei da física. Aqui não há como recuar, aqui é preciso ir adiante, porque o Estado foi agredido e tem que ir com todas as suas forças”.

O presidente Mario Abdo Benítez viajou ainda ontem à noite para o departamento de Concepción, para inteirar-se da situação.

O presidente Mario Abdo Benítez está na região desde ontem à noite. Foto Agência IP

Morte das meninas

Acampamento do EPP invadido pela Força de Tarefa Conjunta, onde morreram as duas meninas.

O governo paraguaio foi duramente criticado, tanto interna quanto externamente, pela operação da Força de Tarefa Conjunta que, na semana passada, invadiu um acampamento do grupo guerrilheiro e matou duas meninas de 11 anos. Sem ter prendido nenhum líder do movimento, o governo considerou a operação “um êxito”.

Houve uma queixa oficial da Argentina, já que as duas meninas são nascidas naquele país, e reclamações de diferentes organismos internacionais, que exigem uma investigação rigorosa para apurar as mortes.

O Senado paraguaio ouviu na quarta-feira, 9, autoridades do governo, em sessão reservada, a pedido do presidente Mario Abdo Benítez.

Depois de cinco horas de sessão – faltava apenas um orador para terminar -, ela foi suspensa ao chegar a informação do sequestro do ex-senador e ex-vice-presidente.

De qualquer forma, segundo o presidente do Senado, Óscar Salomon, o governo conseguiu “convencer muitíssimo”, ao esclarecer as dúvidas. Mas disse que, por questões de inteligência, os detalhes não poderão ser divulgados à imprensa.

Quem é o sequestrado

Aos 74 anos, Óscar Denis está afastado da política desde 2013. Foto Arquivo Última Hora

Amancio Óscar Denis Sánchez é um político ligeral, que se afastou depois de ser nomeado vice-presidente do Paraguai em 2012 e 2013, quando o Congresso destituiu o presidente Fernando Lugo  e assumiu Federico Franco.

Óscar Denis esteve no Congresso Nacional por três períodos legislativos, dois como senador (2003-2008 e 2008-2013 e um como deputado, de 1998 a 2003, reresentando o departamento de Concepción.

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