O coronel Ricardo Bezerra, que atualmente trabalha (em Itaipu) e mora em Foz do Iguaçu, lança nesta quarta-feira (18), no restaurante Carpe Diem, em Brasília (DF), o livro "Missão Haiti – 7 Lições de Liderança". No mês que vem, no dia 15 de outubro, o lançamento será no restaurante Empório com Arte, em Foz do Iguaçu.
O coronel, que assessora o diretor-geral brasileiro da Itaipu Binacional, Joaquim Silva e Luna, comandou por sete meses as forças armadas do Brasil no Haiti, como parte da Missão das Nações Unidas para a Estabilização daquele país caribenho, massacrado por terremotos e ditaduras cruéis.
Com 256 páginas e muitas fotos, a publicação mostra, de forma inédita, o trabalho para manter a paz no país, e ao mesmo tempo ajudar o povo haitiano a encontrar novos rumos.
No livro, o coronel aborda o sofrimento do povo haitiano, a ação dos brasileiros e as decisões que um comandante precisa tomar para manter a tropa unida e focada, muitas vezes contrariando expectativas do próprio grupo. É um relato que vai desde a preparação inicial para assumir o comando da tropa de paz, antes de embarcar, até a conquista dos resultados positivos.
As sete lições embutem dezenas de outras lições, com pitadas de histórias das tropas brasileiras num ambiente em que coragem, bom senso e amor ao próximo eram essenciais. O livro é recheado de personagens fascinantes que viveram a experiência de servir num país praticamente destroçado, onde ainda falta tudo por fazer.
Arte de liderar
A partir de sua experiência, o coronel Ricardo detalha as lições de forma fácil de compreender – colocá-las em prática, porém, certamente vai exigir de quem quer ser um verdadeiro líder muito trabalho e perseverança. A cada lição, o livro traz exemplos práticos da experiência de sete meses no Haiti.
Uma das primeiras lições que o livro traz é básica: o líder não nasce pronto. Ele é resultado de aprendizagem, de preparo, de autocrítica. E liderar está longe de ser tarefa fácil. Muitas vezes, é preciso ir contra o que quer a maioria. Às vezes, dá certo; outras, não. Mas, eis outra lição: um líder também erra. Reconhecer o erro e consertá-lo da forma certa também são segredos da boa liderança.
Comunicação por igual
Os vários níveis de comandados na tropa, de soldados a oficiais – incluindo uma pequena presença feminina –, bem como a presença dos contratados haitianos que exerciam serviços na base, exigiam do líder uma capacidade extra para lidar com conflitos e com as desigualdades. Como conciliar tantas necessidades, sem privilegiar um grupo ou outro?
Para enfrentar esse e tantos outros desafios, o coronel encontrou parceria na comunicação, direta e indireta. Saber utilizar e aproveitar o trabalho daqueles que entendem do assunto foi fundamental para a experiência no Haiti.
Comunicar para manter a tropa coesa, com bom astral mesmo em situações difíceis, é uma tarefa complexa, mas às vezes decisiva para quem conduz pessoas.
Para esta comunicação, ele usava desde as simples conversas de fim de tarde até comunicados diretos e uma rede social do batalhão, o Brabbabook.
Apoio constante
Mais uma vez, na leitura das sete lições, aparece um aspecto que chama a atenção. O líder deve ser imprescindível? Se tudo estiver planejado e preparado para eventualidades, não.
Quando o batalhão do coronel Ricardo foi acionado para uma emergência nacional – o Palácio Nacional do Haiti estava cercado por manifestantes furiosos–, ele estava em férias.
A tropa agiu dentro de todos os procedimentos estabelecidos e treinados. Quando o coronel voltou, ouviu de um dos comandantes intermediários: "A sensação que tivemos foi de que o senhor estava aqui conosco o tempo todo".
Foi a melhor recompensa para um líder que se forjou no preparo, em muitos estudos teóricos, no conhecimento da história dos batalhões que antecederam sua tropa e na prática em ambiente hostil.
Ditadura sanguinária
Em meio às experiências do dia a dia, o coronel Bezerra recorda fatos históricos, como a terrível ditadura imposta aos haitianos por François Duvalier, o "Papa Doc".
Papa Doc ficou no cargo entre 1957 e 1971, quando morreu – e seu filho, Baby Doc, então com 19 anos, o sucedeu. Nos tempos de Papa Doc, especialmente, os haitianos sofreram os horrores da repressão, da tortura e do assassinato, praticados quase sempre pela sua polícia política, os "tonton macoutes".
Baby Doc só foi deposto em 1986. Em apenas quatro anos, dali pra frente, o Haiti mudou de presidente seis vezes.
Num cenário de caos político, a ONU enviou sua primeira missão de paz ao Haiti em 1993. Em 2004, as tropas brasileiras pisaram pela primeira vez o solo haitiano, como conta o coronel Ricardo. O contingente que ele comandou ficou no país de dezembro de 2015 a junho de 2016. E histórias pra contar é o que não faltam.
O livro pode ser adquirido pela internet e nas melhores livrarias.
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