‘Nascido e criado’ no Porto Meira, escritor de onze livros faz coleta para editar seu último trabalho

Edson de Carvalho já foi engraxate e vendedor de torrone e frutas; suas obras são distribuídas gratuitamente na internet.

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Com 13 anos, Edson de Carvalho começou a pôr no papel suas primeiras impressões sobre o mundo. Mais especificamente, o jovem escritor passou a retratar o cotidiano da periferia de Foz do Iguaçu, a região do Porto Meira, na área Sul da cidade.

Hoje, o autor iguaçuense tem onze livros escritos, de romance e poesia. Ele compartilha suas obras gratuitamente no formato PDF pela internet e as divulga pelas redes sociais, para que todas as pessoas possam ter acesso e conhecer sua escrita.

Para arcar com o custo da impressão de sua sexta publicação, a trilogia "Líricas e Satíricas do Iguaçu – parte III", Edson acaba de lançar uma vaquinha virtual na internet. Pretende arrecadar R$ 10 mil, a partir de doações individuais de qualquer valor. Clique aqui para acessar.

Escritor iguaçuense que cresceu no Porto Meira
é autor de onze livros, de romance e poesia.

Seu repertório para o mundo ficcional foi sendo recolhido na realidade. Dura realidade. Na fronteira, ainda adolescente, Edson de Carvalho precisou trabalharpara ajudar a família. Foi engraxate, vendedor de torrone – doce à base de amendoim – e de laranja na Ponte da Amizade, carpiu lotes, encarou a construção civil e foi arte-educador.

Há cerca de dez anos deixou Foz do Iguaçu e foi morar na região de Curitiba. "Saí por causa da dificuldade, falta de oportunidade", resume. Para viver, "faz de tudo" profissionalmente, pois há cinco anos o professor não consegue obter aulas para lecionar como PSS nas escolas do estado, já que seu diploma de Letras foi roubado e o escritor não tem dinheiro para a segunda via.

Sobre o trabalho de lapidar a linguagem e converter a realidade em livros, Edson explica que fez suas primeiras composições a partir da observação do seu território. "Comecei a escrever observando a dificuldade minha e do povo da periferia. Fui registrando em versos e pequenas prosas", revela.

"Sabemos que é difícil produzir livros, mesmo assim continuamos a escrever", relata Edson de Carvalho.

O escritor, que tem 37 anos e foi alfabetizado na Escola Municipal Cecília Meireles, no Porto Meira, rememora que quando começou a escrever versos e poemas teve de superar muitas resistências. "Foi frustrante, o pessoal próximo dizia que literatura não vale nada", relembra.

Para Edson, atualmente os desafios são de outra ordem. O público lê pouco – e menos ainda os chamados escritores locais –, faltam recursos financeiros e apoio para a publicação das obras. "Sabemos que é difícil produzir livros, mesmo assim continuamos a escrever", relata.

O único livro impresso de Edson de Carvalho é de 2007, que é a primeira parte de "Líricas e Satíricas". Foi pago pelo Centro Universitário UDC, instituição em que o artista das palavras fez a graduação.

Na Feira do Livro de Foz

O escritor faz palestra gratuita na Feira do Livro de Foz do Iguaçu nesta quinta-feira, às 14h, no Clube Gresfi. Ele vai abordar o tema "A literatura na pós-modernidade".

Para além da pauta do debate a que foi convidado, talvez a maior mensagem que Edson poderá levar à feira é a sua experiência de ser escritor diante de tantas dificuldades.

Sua trajetória epersistência em continuar a escrever devem servir de reflexão, especialmente entre gestores, sobre o quanto ainda é preciso ser feito para a efetivação de políticas públicas que garantam às pessoas o direito a consumir e produzir cultura.

Um texto

Momentos I

No final da madrugada
Está quase clareando o dia
Barulhos dos galos, canto.
No centro da periferia
Porta aberta, janela aberta.
Alicate no chão
Artesanato em construção
Coberta, lençol e colchão.
Garrafas de bebidas
Discurso entre famílias
Sem fundamentos, brigas.
Honestidades vão trabalhar
Baladores dormem
Ideologias em convenções

Poema publicado em "Carreiros do Iguaçu – o Contrabando", de Edson de Carvalho.
 

Livro de poesias publicado em 2007 – foto Reprodução

 

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