Pais que são uma Mãe

Quando um homem compartilha as atividades domésticas, ele não está ajudando sua parceira, está fazendo a sua parte.

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José Elias Castro Gomes

Se eu perguntar a você qual é a data comemorativa mais rentável para o comércio, sem dúvida você responderá que é o Natal. Acertou. E a segunda data mais importante? Sim, o Dia das Mães. E a terceira? Se você respondeu que é o Dia dos Pais, errou. É o Dia dos Namorados.

Claro, estamos falando de faturamento para o comércio, mas não entramos em juízo de valor quanto à importância dos homenageados. Se os papais são menos merecedores de celebração do que os cônjuges, isso é uma questão que não vem ao caso. Ao menos não na reflexão que esse texto quer provocar.

A indagação principal reside no quanto nós, pais, nos esforçamos para obter uma relevância que não se limite a ser o provedor do sustento da família, conforme ditava o padrão de nossos antepassados.

Assim como as mulheres lutam pelo direito de igualdade, os pais devem se empenhar pelo dever da igualdade. É um dever e um privilégio compartilhar as atividades de cuidado com os filhos e com o lar. A tal dupla jornada vivenciada por grande parte das mulheres deve ser também uma incumbência masculina. Quando um homem compartilha as atividades domésticas, ele não está ajudando sua parceira, está fazendo a sua parte.

E, repito, isso é um privilégio, é um dever do qual os pais não podem abrir mão. Isso se salienta nos tempos atuais, em que filhos se trancam em seus quartos para jogar videogame ou bater papo nas redes sociais. Se os pais não forem mais participativos, o elo se quebra. A paternidade será substituída pelo youtuber do momento, pela série de TV que está bombando, pelo aplicativo da hora, pelo vício em curtidas e seguidores.

Ainda estamos amarrados ao ponto de vista de uma paternidade passiva, em que se compartilha com o filho trivialidades como o amor pelo mesmo time de futebol. Parece teimar no inconsciente coletivo aquela visão do pai sentado em sua poltrona e lendo o jornal enquanto a mãe lava a louça, com as crianças só interrompendo sua anarquia quando chega a hora do telejornal. Esse pai já era. E faz tempo. O pai moderno acompanha o dever de casa, leva e traz da escola, dá banho, troca fralda, e, se for para rolar um videogame, ele joga junto. Não está no alto de uma grade hierárquica, está ao lado dos seus. Conversa, explica, debate, ensina. E aprende.

Pai moderno não tem vergonha de virar crianção e se misturar nas brincadeiras dos filhos. Não fica constrangido por ser emotivo, tampouco perpetua a cultura insensível de que homem não chora e mocinha não pode chutar bola. Pai moderno afaga, mas também incentiva, dá aquele empurrão na hora que pinta um medinho de entrar num palco ou participar de um campeonato. Pai moderno é acolhedor, sabe da importância do afeto, embala nos momentos de dor ou insegurança. Pai moderno… é uma mãe. E nada pode ser mais elogioso que isso.

O pai que se mirar no exemplo das mães vai perceber que elas não são tão valiosas apenas porque gestam um bebê por nove meses e amamentam por outros tantos (o que já não é pouca coisa). O coração de mãe tem muito a nos ensinar, ele irradia carinho em todas as ações cotidianas, de um singelo beijo de bom dia no café da manhã à forma de aconchegar um pequeno que tem pesadelo no meio da noite.

Nós, pais, ainda somos muito desajeitados, estamos ensaiando uma transição que talvez nunca chegue, mas que precisamos nos empenhar para merecer. A cultura do “pai que é uma mãe” vai estender seus efeitos para toda a sociedade, inclusive reduzindo drasticamente os índices de feminicídio, pois algo tão abjeto jamais estará nas possibilidades de um coração sinceramente afetuoso.

A todos os pais, meus parabéns pelo segundo domingo de agosto. Que vocês possam dar vazão ao seu lado maternal sem nenhum constrangimento. Pelo contrário, que ele venha com muito orgulho. 

* José Elias Castro Gomes é pai do Edu, da Any e da Mel e Mantenedor do Colégio Semeador.

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