Ponte da Amizade aberta movimenta comércio dos dois lados da fronteira

Melhora a possibilidade de recuperar mais rapidamente o que a pandemia trouxe de prejuízo ao comércio e ao turismo, principalmente.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Pandemia à parte, a reabertura da Ponte da Amizade trouxe ao menos uma boa esperança de que a economia de Ciudad del Este e de Foz do Iguaçu se recupere mais rapidamente.

A vinda dos paraguaios, que há quase sete meses não vinham fazer compras em Foz, agitou o comércio da Vila Portes – o local mais prejudicado pelo fechamento da fronteira -, a Ceasa, alguns supermercados e até lojas do centro da cidade, além de setores de serviços.

Os paraguaios vieram alegres com a possibilidade de economizar no preço de vários produtos, que por lá são escassos ou custam bem mais, como frutas, verduras e até calçados, entre outros.

Daqui, partiram iguaçuenses – e turistas, também – que estavam com compra de importados represada. A troca do celular, do notebook, a compra de bebidas, de perfumes, tudo isso ficou à espera “de o Paraguai abrir”.

Os comerciantes do lado paraguaio já estimam que as vendas serão boas, principalmente devido à proximidade das festas de final de ano.

E o setor turístico de Foz também projeta um crescimento no número de visitantes. O Paraguai sempre foi um grande atrativo de turistas, apesar de o dólar alto assustar um pouco (ou bastante) a clientela.

O empresário Iván Airaldi, da Câmara de Comércio de Ciudad del Este, disse que a fila de veículos para entrar no Paraguai “nos reanimou”, segundo o jornal La Clave.

Pelo menos 10 mil empregados do comércio de fronteira voltaram a seus postos de trabalho, segundo ele, entre os que haviam sido despedidos e os que estavam com o contrato suspenso.

PIB em queda

A reabertura das fronteiras deve melhorar também a arrecadação do Paraguai. O jornal La Nación publica matéria informando que as regiões de fronteira paraguaia movimentam cerca de US$ 2 bilhões, que representam cerca de 30% das arrecadações totais do país.

Só Ciudad del Este arrecada entre 10% e 12% do total do país, segundo o vice-ministro da Subsecretaria de Estado da Trubutação, Óscar Orué.

O fechamento do país para brasileiros e argentinos, principalmente, é uma das explicações para a queda do Produto Interno Bruto do Paraguai, que fechou agosto negativo em 2,1%, como informa o ABC Color.

No ano, o baque ainda é pequeno (-0,4%), mas é preciso considerar que em 2019 a economia paraguaia ficou praticamente estagnada.

Festa nas fronteiras

À espera dos brasileiros, em Salto del Guairá. Foto Rádio Ñanduti
Empresários de Pedro Juan Caballero foram às ruas com bandeiras dos dois países. Foto La Nación

A reação dos comerciantes das outras cidades paraguaias que fazem fronteira com o Brasil, Pedro Juan Caballero e Salto del Guairá, foi de felicidade incontida.

Mas o empresário Víctor Stanley, da Associação de Pequenas e Médias Empresas de Salto del Guairá, alertou: “Não queremos festejar demasiado porque é agora que começa para nós a pó-pandemia”, como noticia o jornal La Clave. Ele explicou: “Agora é preciso começar a pagar as contas e honrar compromissos”.

A fronteira entre Salto del Guairá e Mundo Novo (MS) reabriu às 6h, uma hora a mais do que a Ponte da Amizade. Já entre Pedro Juan Caballero e Ponta Porã (MS), a passagem entre os dois países foi permitida a partir de 9h.

Lá como aqui, só era possível entrar no Paraguai em carro ou moto. A medida valerá por 15 dias, depois pedestres também poderão cruzar a fronteira.

Diferenças

Desde esta quinta-feira, 15, os paraguaios de qualquer parte do país poderão entrar no Brasil. E, aqui, ir para onde quiserem. É exatamente como funcionava antes da pandemia.

Já no Paraguai, embora não fosse regulada a entrada de visitantes de outras cidades e regiões brasileiras, o perímetro foi delimitado para 30 km a partir da fronteira. Isto é, os brasileiros não podem se deslocar de Ciudad del Este para outras localidades.

O diretor de Vigilância da Saúde do Paraguai, Guillermo Sequera, explicou pela manhã, segundo o jornal Última Hora, que “a abertura não será total, não será normal como antes, mas será aos poucos”.

Ele destacou a responsabilidade dos comercviantes de cumprir e exigir o cumprimento de medidas sanitárias. “Se houver um surto numa loja, no fim será um problema econômico para os donos”, disse.

Comunicado conjunto

É no mínimo curioso. Depois de nada informar oficialmente sobre a reabertura das fronteiras, no dia em que isso acontece os governos brasileiro e paraguaio divulgaram um “comunicado conjunto” sobre “Abertura de postos fronteiriços entre Brasil e Paraguai”.

Este comunicado poderia ter saído dias atrás, pra não deixar todo mundo irritado e com a sensação de que, na última hora, alguma portaria ou decreto, de um lado ou de outro, deixasse tudo como está.

Leia o comunicado conjunto

1. Os Governos da República Federativa do Brasil e da República do Paraguai congratularam-se pela reabertura, na data de 15 de outubro de 2020, dos postos fronteiriços de Foz do Iguaçu (PR) – Ciudad del Este; Ponta Porã (MS) – Pedro Juan Caballero; e Mundo Novo (MS) – Saltos del Guaira, como parte de um processo gradual de abertura de fronteiras entre ambos os países.

2. Acordaram que cada país empregará os protocolos sanitários, em conformidade com suas respectivas legislações, para evitar a propagação da Covid-19.

3. Tendo em vista a recuperação econômica das regiões fronteiriças, reafirmaram sua disposição em continuar trabalhando para avançar na construção da segunda ponte sobre o Rio Paraná, entre Foz do Iguaçu e Presidente Franco, e da ponte sobre o Rio Paraguai, entre Porto Murtinho e Carmelo Peralta, assim como nos acessos e obras complementares a essas pontes. Congratularam-se, ainda, pelas negociações que permitiram melhorar a navegabilidade do Rio Paraná ante situações de crise hidrológica.

4. Coincidiram, ainda, na importância da reativação do comércio fronteiriço, especialmente para a preservação de postos de trabalho, e recordaram igualmente o recente entendimento que cria centros logísticos de comércio fronteiriço nas fronteiras de cada país e estabelece procedimentos para a entrega, nesses locais, de compra realizadas por meio de comércio eletrônico.

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