Puma patrocina futebol no Paraguai. Há algo por trás disso? Veja “El Presidente”

Pode não ter nada. Mas quem assistiu à série “El Presidente”, na Amazon Videos, fica com uma pulga atrás da orelha.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Primeiro, a notícia: a Puma anunciou na sexta-feira, 26, um acordo de patrocínio com a Associação Paraguaia de Futebol. A marca alemã será a fornecedora de material esportivo oficial das seleções masculina e feminina, além das categorias de base do país a partir de outubro.

O contrato, que não teve os valores revelados, ainda engloba o fornecimento de bolas para todos os torneios organizados pela entidade, como informa o site Máquina do Esporte.

Uma série que arrepia

Seria mais uma notícia que se lê sobre futebol e marcas. Mas, agora, vem a "pulga atrás da orelha". Quem assistiu à série "El Presidente", que está na Prime Video, vai lembrar de Puma e Adidas, que disputam o mesmo mercado, passo a passo, dólar a dólar. Ambas são alemãs.

A Adidas foi criada por irmãos alemães em 1920, mas em 1948 eles romperam e um dos irmãos criou a rival Puma. As duas, hoje, têm no páreo a americana Nike.

A série mostra, rapidamente, o que significa escolher uma ou outra marca. Tanto na qualidade de um ou de outro produto, como nas vantagens para alguns dirigentes de futebol.

Aliás, veja que a notícia da Máquina do Esporte conclui que, "com o acerto com o Paraguai para substituir a Adidas, a Puma ganhará força no futebol da América do Sul. Desde 2015, quando perdeu o patrocínio à seleção do Chile para a Nike, a marca tinha parceria apenas com a seleção do Uruguai no continente".

"El Presidente", a série

"El Presidente" se passa em diversas partes de Europa, Estados Unidos e América Latina (no Brasil, mostra a Copa do Mundo de 2014) e relata o esquema de corrupção de US$ 150 milhões que indiciou 14 pessoas e levou à prisão presidentes e ex-presidentes de federações nacionais de futebol, incluindo o brasileiro José Maria Marín, ex-mandatário da CBF.

A história de oito episódios é contada por um morto, o presidente da federação argentina de futebol, Julio Grondona, e conta a ascensão do presidente da federação chilena, Sergio Jadue, menos conhecido dos brasileiros, mas fundamental para a derrubada do alto escalão do futebol mundial.

Ele próprio acabou preso e hoje vive nos Estados Unidos, com a fortuna que arrecadou da mesma forma que seus companheiros, na base da negociata de tudo, do local a ser sede da Copa do Mundo à escolha de quem administraria os negócios de venda de direitos de imagem e suas milhares de facetas econômicas.

Os oito episódios giram em torno da vida e ascensão de Sergio Jadue (vivido por Andrés Parra), presidente da federação de futebol do Chile, um personagem menos conhecido dos brasileiros, porém central na trama, na série e na vida real.

O "Vaticano" do futebol

A magnifica sede da Conmebol, em Luque. Até 2015, igual ao Vaticano. Foto Hazaña17, Wikimedia

Luque, no Paraguai, é sede da Confederação Sul-Americana de Futebol (em espanhol: Confederación Sudamericana de Fútbol), mais conhecida pelo acrônimo ConmebolL ou CSF, que congrega dez federações de futebol da América do Sul.

A sede da Conmebol, que antes era rotativa entre países, fixou-se em Luque em 1992. A série pergunta – e responde – como uma cidade a 15 km da capital, sem importância para o esporte, tornou-se o centro do futebol sul-americano.

A resposta: vantagens fornecidas pelo Paraguai. Até 2015, Luque era uma espécie de Vaticano. A sede da Conmebol tinha proteção similar à de embaixadas e órgãos diplomáticos. Uma espécie de Vaticano do mal, um enclave à margem de regras e normas do Paraguai.

Seus frequentadores estavam livres de revistas, desapropriação, confisco e toda outra forma de interferência, seja de caráter "executivo, administrativo, judicial ou legislativo", como dizia a lei aprovada pelo Congresso paraguaio. Com toda essa liberdade, maletas de dólares circulavam entre os dirigentes.

O Fifagate acabou com a mamata. Em 2015, a excepcionalidade concedida à Conmebol foi revogada. O texto que retirava as prerrogativas da Conmebol dizia que a situação se configurava em "uma barbaridade única no mundo, já que se outorgava a um ente privado a possibilidade de atuar em nosso território à margem da justiça nacional".

Personagens reais

Na série, você vai ver personagens reais, como os brasileiros e ex-presidentes da CBF Ricardo Teixeira e José Maria Marín, o suíço Joseph Blatter, ex-presidente da Fifa, e ex-presidente de federações dos países da América do Sul, nome a nome.

Mas o protagonismo é do presidente da confederação chilena, Sergio Jadue, de sua esposa Nené e da agente do FBI Rosário (Karla Souza), talvez uma das poucas personagens fictícias.

Quem fez

O drama, ou melhor, a tragicomédia, é escrita e dirigida pelo diretor e roteirista argentino, vencedor do Oscar, Armando Bó (por Birdman).

O elenco protagonista da série é formado por Karla Souza (How to Get Away with Murder), Andrés Parra (Pablo Escobar: O Senhor do Tráfico) e Paulina Gaitán (Diablo Guardian). Outros nomes que também fazem parte do projeto são Sergio Hernández, Luis Gnecco, Gonzalo Robles, Francisco Reyes, Daniel Muñoz, e Cristóbal Tapia Montt.

Apesar do elenco internacional, a série é considerada a primeira produção chilena da Prime Video.

O dirigente do futebol chileno, sua mulher, Nené, e a agente do FBI, Rosario. Divulgação

Detalhe importante

Alguns especialistas dizem que, apesar de todo o esforço para mostrar a corrupção no mundo do futebol, a situação real é ainda pior que a retratada.

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