‘Renda zero’ e falta de apoio: guia de turismo, músico e motorista de app em Foz relatam as dificuldades de cada setor

Corridas por aplicativo caíram mais de 85%; profissionais da cultura e turismo estão sem trabalho desde março.  

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H2FOZ – Paulo Bogler 

Trabalhadores de diferentes segmentos em Foz do Iguaçu sofrem com os reflexos econômicos da pandemia de covid-19 e reivindicam auxílio do poder público. Há categorias que estão de braços cruzados desde março, quando começaram as medidas de contenção ao novo coronavírus, o que restringiu a atividade econômica e a circulação de pessoas.  

O programa Marco Zero reuniu representantes de três setores diretamente atingidos pela crise. São eles: Virgínia Hauptman, diretora da Liga Independente dos Guias de Turismo (Liguia), o músico Fernando Pelói Pina e Gerônimo Centurion, presidente da Amafi, associação que representa motoristas de transporte por aplicativo em Foz. 

Assista à entrevista:

No programa, produção do H2FOZ  e a Rádio Clube FM,  os profissionais apresentaram uma radiografia sobre como cada categoria está enfrentado a falta de trabalho e, conseguentemente, a ausência de renda. Abordaram também as pautas endereçadas ao poder público municipal, sobre empréstimos ofertados e o pós-pandemia. 

Auxílio emergencial municipal 

Cerca de 900 guias estão sem renda desde o dia 17 de março, quando iniciou o fechamento temporário dos atrativos turísticos, relembrou  Virgínia Hauptman. Segundo ela, alguns poucos profissionais estão  produzindo e comercializando alimentos, o que é insuficiente para o sustento de suas famílias. 

"Nossa renda é zero. São sesssenta dias sem absolutamente nada de renda e nenhum tipo de auxílio", enfatizou. A guia iguaçuense explica que a maioria desses profissionais não consegue obter o auxílio emergencial de R$ 600, de âmbito nacional, por isso reivindicam da prefeitura um benefício temporário.

"Nossa renda é zero. São sesssenta dias sem absolutamente nada de renda e nenhum tipo de auxílio."

"Nós, guias, somos informais em uma economia sazonal, não temos poupança para enfrentar essa pandemia. Pedimos que o município olhe essa categoria com carinho", destacou Virgínia. "É o guia que leva o turista para conhecer cada detalhe da cidade. É através da gente que ele conhece Foz do Iguaçu", ponderou. 

Para Virginía, depois que o pedido de auxílio emergencial municipal para guias ter er sido apresentado em reunião com o prefeito Chico Brasileiro (PSD) e vereadores, a poucos dias, a demanda arrefeceu da parte do gestor. "Temos sentido que a boa vontade vai mudando. Sexta-feira, em live, as palavras do prefeito foram completamente diferentes das usadas na reunião", frisou. 

Editais para seleção de artistas 

Tal qual o turismo, a atividade artística e cultural em Foz do Iguaçu foi uma das primeiras a sofrer os efeitos negativos crise. Eventos, bares, restaurantes e  pubs com programações suspensas e ausência de políticas públicas  para o setor obrigam realizadores culturais a recorrer à solidariedade. 

O músico Fernando Pelói Pina, conhecido no meio artístico como Magnun, afirma que sua atividade foi desativada já em 11 de março. "Desde então, com o isolamento social, não existe condição alguma de ter música ao vivo nos estabelecimentos de Foz do Iguaçu", relatou ao Marco Zero

"Em termos de renda para sustentar a família é zero, está totalmente parado. O músico local está sofrendo muito", descreve. "Alguns colegas têm feito lives, mas em geral elas são atividades voluntária das casas de shows, para arrecadar a instituições e pessoas que precisam mais", revela Magnun. 

"Em termos de renda para sustentar a família é zero, está totalmente parado. O músico local está sofrendo muito." 

O músico afirmou que estados e cidades estão instituíndo políticas para apoiar cultura, mas até o momento não obteve resposta sobre ações similares do órgão responsável pela área no município. "Entrei diretamente em contato com a Fundação Cultural  para saber se tinha alguma política pública para dar auxílio à cultura.  Até o momento, estamos sem resposta", contou. 

Magnun aposta, como alternativa de renda para artistas e produtores cutlurais de Foz do Iguaçu durante a pandemia, a adoção de seleções públicas para apresentações virtuais, com pagameno de cachê pelo poder público. "Poderiam ser feitos licitações e chamamentos públicos para o artista da cidade fazer lives, por exemplo", sugeriu o músico. 

Redução de corridas e devolução de carros

A atividade de motoristas de transporte por aplicativo começou em Foz do Iguaçu em 2018. Junto com os desafios próprios do novo ramo, como a afirmação no mercado, entre outros, vieram os embates com poder público por causa de uma normativa municipal considerada pela classe como imprópria e, consequentemente, a judicialização.

Menos de dois anos depois, veio a covid-19, cujos efeitos fez reduzir drasticamente as corridas e aumentar o número de motoristas – em geral, profissionais de outras áreas que perderam o emprego ou a renda. "A pandemia trouxe o outro lado da moeda desse mercado", sintetiza Gerônimo Centurion, presidente da Amafi.

"As corridas em Foz caíram entre 85% a 95% pela alta demanda de motoristas e baixa procura de viagem."

"As corridas em Foz caíram entre 85% a 95% pela alta demanda de motoristas e baixa procura de viagem, pois há menos pessoas indo ao trabalho e as aulas estão suspensas", contabiliza. No segundo semestre do ano passado, para comparação, a Amafi estimava em 30 mil o número de corridas diárias feittas por motoristas de transporte por aplicativo. 

O representante da categoria afirma que 95% dos motoristas que tinham financiamento ou aluguéis de veículos devolveram os bens, por não conseguirem pagar as prestações. "Quem ganhava de R$ 100 a R$ 150 líquido por dia hoje ganha muito abaixo desse valor. E tem que arcar com gastos em equipamentos de proteção, não fornecidos pelas empresas", sublinha. 

Financiamento é a saída?

Os trés profissionais iguaçuenses – Virgínia, Magnun e Gerônimo – , consideram que linhas de crédito não são as políticas mais adequadas para suas categorias no momento. A dificuldade de enquadramento, os requisitos exigidos e o endividamente diante de um cenário imprevisível são apontado como principais motivos para o ceticismo em relação à oferta de crédito.

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