UTFPR aposta na geração Z e acelera a indústria 4.0 com parcerias no Centro Sul do Paraná

Desde 2017, gigantes do mercado como a BRF, Continental, DAF, Heineken, Klabin, TetraPak e Tigre,  a maior parte instaladas na região dos Campos Gerais, no Centro Sul do Paraná,  abrem suas portas para uma proposta nascida em Ponta Grossa, dentro da UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 

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Se duas cabeças pensam melhor que uma, o que dirá de sete e de áreas distintas? E qual empresa não teria interesse em abraçar projetos desenvolvidos por universitários que consigam reduzir em 95% o consumo de água? Ou que promovam uma economia de um milhão de dólares ou 300 mil anuais, aumentem a produtividade ou gerem  novos modelos de negócios? Desde 2017, gigantes do mercado como a BRF, Continental, DAF, Heineken, Klabin, TetraPak e Tigre,  a maior parte instaladas na região dos Campos Gerais, no Centro Sul do Paraná,  abrem suas portas para uma proposta nascida em Ponta Grossa, dentro da UTFPR – Universidade Tecnológica Federal do Paraná. 

Engineering Design Process – EDP e industry 4.0 são as duas disciplinas que utilizam a Metodologia de Ensino Inovadora (MEI).  Nessa concepção de ensino, a antiga sala de aula sai de cena, para dar lugar ao barulho das máquinas, às experiências do chão de fábrica e à tecnologia de ponta junto às empresas envolvidas. Nas indústrias, os alunos entram como pesquisadores, durante quatro meses de cada projeto, e muitos deles retornam, pouco tempo depois, como estagiários ou funcionários. 
 

Rui Tadashi Yoshino, viajou o mundo e inovou ao agregar alunos de diversos cursos em matérias que dividem espaço entre a sala de aula tradicional e a indústria. Foto: Divulgação

Atualmente, 11 equipes multidisciplinares, formadas por alunos de Engenharia de Produção,  Mecânica, Elétrica e  Química, além de Ciências da Computação,  estão com um pé na indústria e outro na sala de aula.  O  curso de Licenciatura em Ensino já participou do projeto e agora, as primeiras turmas de Biologia, que o substituiu,  e a recém criada  Engenharia de Bioprocessos  também somarão ao mesmo. “As tecnologias não entraram devido à falta de tempo dos alunos que trabalham de dia e estudam à noite. Precisaremos pensar em alternativas para essa área”, observa o professor, graduado e pós-doutor em Engenharia de Produção,  Rui Tadashi Yoshino.
 

Geração Digital

Esses universitários nasceram depois de 1995, fazem parte da Geração Z. São jovens que não concebem um computador ou telefone desconectados, são acostumados a coletar informações com facilidade e rapidez, em busca de autonomia, desenvolvem várias tarefas simultaneamente, entre outros.  Diante desse perfil, de uma geração digital, o professor Rui Tadashi Yoshino e a professora Joseane Pontes, graduada em Administração e Ciências Econômicas, com doutorado em Engenharia de Produção, viram-se frente à necessidade de mudar a dinâmica das aulas. “Eles têm formas diferentes de agir, de pensar. Nós, como professores, temos que ministrar as aulas de modo diferenciado para atender a esse público. Na verdade o aluno é ator principal, ele tem que aprender, se possível sozinho. Aquela aula tradicional não tem mais espaço porque eles nasceram no mundo digital”, destaca o professor Yoshino. 

Inovação no jeito de ensinar

E foi em busca de um novo modelo para trabalhar com essa geração conectada que os professores  pesquisaram em universidades dos Estados Unidos, Canadá, na Europa e no Brasil em busca de fontes de inspiração. A mudança ocorreu em uma disciplina de graduação. Foi realizado um benchmarking, uma espécie de mapeamento das melhores práticas adotadas, no intuito de otimizar ao máximo a nova proposta que seria implantada no campus da UTFPR, em Ponta Grossa.  “Usp, Unesp, Fei, Lim College e Sherbrooke, no Canadá, Mit e Stanford, nos EUA,  foram algumas das universidades que nos aproximamos mais”, explica o professor Rui Yoshino, que ficou durante um ano no Canadá aprofundando-se nos estudos. 

O professor conta que no Canadá essa experiência já ocorre desde 1960 inicialmente em faculdade de medicina e que está bastante disseminada nas engenharias de todo o mundo, sendo aplicada também no Brasil.  Na essência, os papeis são invertidos. O aluno passa a ser o ator principal e o professor o coadjuvante. O mestre é o guia, mas quem faz o caminho é o estudante. Porém, na UTFPR, há um grande diferencial. “A inovação não está apenas no método de ensino, mas na forma como a gente monta as equipes interdisciplinares, o que é possível com o apoio da direção da nossa Universidade”, destaca o professor Yoshino. A extinta disciplina optativa chamada Práticas em Engenharia de Produção foi o laboratório da nova proposta. 

O sinal de alerta acionou quando os professores perceberam que reunir alunos apenas da Engenharia de Produção seria algo limitado diante da ampla gama de conhecimento que poderia ser compartilhada entre os demais cursos, se todos embarcassem na proposta. Acatada pela Reitoria e Pró-Reitoria de Ensino, o novo modo de aprender caiu no gosto dos estudantes. Os resultados são disseminados pelos próprios alunos e a cada semestre aumenta a procura pelas duas disciplinas que hoje acolhem esse modo de ensino, a Engineering Design Process – EDP (Processo de Projeto em Engenharia)  e Industry 4.0. 

EDP é a disciplina que norteia o passo a passo necessário para a criação de produtos ou quaisquer processos funcionais no campo da engenharia. Nela estão elencados projetos baseados nos modelos utilizados em centros de excelência como Mit e Stanford. São desenvolvidos projetos relativos à área ambiental, química, de água, de processo, inovação, novos modelos de processos. A outra disciplina,  a Industry 4.0, é  voltada à temática da quarta revolução industrial, a Indústria 4.0, com todas as demandas oriundas da indústria. No momento o foco tem sido as grandes indústrias onde os alunos encontram campo para estágio e mesmo empregabilidade. “No segundo semestre de 2019, lançaremos a terceira disciplina, denominada Startup”, adianta o professor. 

As atividades que eram restritas à sala de aula, ganham inúmeros espaços de aprendizagem e troca de conhecimento (Foto: Divulgação)

 

Lapidando talentos

Os alunos, que já tenham cursado metade dos respectivos cursos, são entrevistados e as equipes formadas em torno dos projetos oriundos das empresas e perfis compatíveis. “O trabalho em equipe desperta líderes que nem se imaginam nesse papel, mas que com a atividade aflora essa liderança” explica o professor Rui. Um levantamento completo de alunos estagiando e ex-alunos empregados nas empresas envolvidas está em fase de elaboração. 

“Para as empresas é bom porque ela conhece o aluno por um período de quatro meses, que tem contato com os gestores, os recursos humanos e é um bom tempo de avaliarem cada aluno participante”. Teve uma empresa que chamou todos os alunos para participarem do processo seletivo. “Evidentemente nosso método tem muita coisa a melhorar, principalmente na parte de acompanhamento de projetos, mas é algo que já estamos vendo e primeiramente temos que reconhecer as falhas para estruturarmos e melhorar”, ressalta o professor Rui.
 

O professor da indústria

Rui Tadashi Yoshino conta que os primeiros contatos com as empresas já foram bem sucedidos porque  sempre foi uma relação franca, de ‘olho no olho, cara a cara’, como sintetiza. A demanda da indústria chega até os alunos através dos professores que fazem a ponte inicial entre as demais partes. Os envolvidos estão amparados por contratos e termos de confidencialidade, o que possibilita que os universitários tenham acesso às informações necessárias e adentrem, semanalmente às empresas em busca da coleta de dados e outros. Não há pagamento em dinheiro aos alunos, apenas recebem apoio para transporte e a empresa custeia os materiais e protótipos desenvolvidos. Porém, o ganho que não se contabiliza em espécie, está na formação, com profissionais bem qualificados, melhores preparadas para o mercado de trabalho, pois eles têm a possibilidade de aprender com quem vive as necessidades do mercado. Nesse método de ensino há também o ‘professor da indústria’, o profissional que adquiriu conhecimento por meio da vivência em sua área de atuação. O ‘professor da indústria’ que também divide conhecimento com os professores ‘oficiais’, colabora fundamentalmente com a parte dos processos, específico a cada empresa. “Todos ganham. A indústria, o aluno, a Universidade. As empresas precisam despender tempo, com muita orientação da parte deles”, explica o professor Yoshino, ao destacar a dinâmica de orientação aos alunos:

 “Além de mim e da professora Joseane Pontes, não tem um professor específico para orientar. São vários problemas que surgem, inclusive que eu não conheço. E o aluno tem liberdade de  procurar professores em busca de auxílio para resolver um problema específico, da computação, mecânica, automação, elétrica, eletrônica, química, biologia, alimentos ou produção. O aluno tem essa liberdade para procurar cada professor do Campus ou professores e profissionais de fora. É um ‘se vira’,  em busca de soluções para os problemas”. 
 

Resiliência pesa na avaliação

Relatórios, atas, reuniões, provas, a cobrança dos professores é contínua e redobrada. Não é porque a aula formal fica fora de cena que os alunos deixam de ser avaliados. Ao contrário, todas as etapas são pontuadas, totalizando cinco quesitos.  Ao final do semestre, há uma apresentação para a Universidade e, também, dentro da empresa que  normalmente convida outros setores como de contabilidade,  custo e engenharia que validam o trabalho e atribuem uma nota parcial.  Semanalmente entregam o relatório das atividades realizadas na empresa, entre a equipe e na universidade juntamente. Outra nota é oriunda do acompanhamento dos professores, além de uma avaliação com a nota dada a cada companheiro da equipe. 

 A resiliência é um fator extremante importante na avaliação, pois é um quesito muito importante para as empresas, em busca daquele aluno que não desiste do projeto. “As organizações querem esse tipo de perfil, alunos resilientes, nem tanto com conhecimento técnico, mas com esse fator, a resiliência”, destaca o professor Yoshino. Saber trabalhar em equipe e manter uma boa postura dentro do ambiente profissional completam os itens avaliados. 

 

REPORTAGEM COMPLETA

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