Vila A Inteligente. O que isso pode significar para a população?

Nesta semana, tivemos a notícia de que a Vila A se tornará o primeiro Bairro Inteligente do Brasil, por meio de uma parceria entre ABDI, PTI, Itaipu e Prefeitura de Foz do Iguaçu.

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Eduardo Matheus Figueira

Nesta semana, tivemos a notícia de que a Vila A se tornará o primeiro Bairro Inteligente do Brasil, por meio de uma parceria entre ABDI, PTI, Itaipu e Prefeitura de Foz do Iguaçu. O termo Bairro Inteligente faz referência ao tema Cidades Inteligentes, ou seja, é a aplicação desse conceito de planejamento urbano para planejar a Vila A.

Porém você sabe o que é uma Cidade Inteligente? O que faz uma cidade ser reconhecida como inteligente? Quais são os cuidados necessários ao lidar com esse tipo de assunto? O que essa notícia pode significar para os moradores da Vila A, Região Norte e para a cidade como um todo? É o que este texto tentará responder.

Primeiramente, o uso do termo Cidade Inteligente tem uma diversidade de classificações, bem como uma variedade de termos semelhantes que são confundidos entre si. Aqui trataremos especificamente do que é chamado em inglês de Smart City, o que se diferencia de Intelligent City, Digital City, entre outros.

Uma Cidade Inteligente pode ser resumida como uma cidade que é focada na experiência do usuário, tendo a parte “Smart” do seu nome fazendo referência às tecnologias smart, como smartphones ou smartwatches. Essas tecnologias são conhecidas por serem de uso fácil, prático e rápido, capazes de resolver uma diversidade de situações cotidianas de maneiras simples por meio do uso da tecnologia. A Cidade Inteligente surge com a ambição de trazer o pensamento “Smart” para o cotidiano nas cidades.

No caso das Cidades Inteligentes, quando dizemos uso da tecnologia, estamos falando não apenas das tecnologias eletroeletrônicas, mas também de tecnologia no sentido geral de conhecimento técnico humano, em serviço da garantia de uma vida saudável e feliz para os seus cidadãos. É muito importante notarmos que, na definição de Cidades Inteligentes, o uso da tecnologia é uma ferramenta para melhora da qualidade de vida dos cidadãos, mas não deve ser tratado como um objetivo por si só. Dispositivos tecnológicos por si só não fazem uma Cidade Inteligente.

Vários aspectos são colocados como identificadores de uma Cidade Inteligente. O mais comum é dizer que inteligente é a cidade que desempenha eficientemente em sua economia, infraestrutura, meio ambiente e sociedade, dia a dia, permitindo a participação democrática dos cidadãos nas decisões. Para tal, a cidade precisa colocar à disposição desse esforço de bom desempenho uma estrutura de, primeiramente, coleta de dados, para que se possa conhecer seus problemas e suas forças e definir suas estratégias de desenvolvimento. 

Posteriormente, usando os recursos para resolver esses problemas de maneira precisa. Quem são os cidadãos? Quais são as características sociais de cada região da minha cidade? Como está o acesso ao saneamento básico, educação, moradia, saúde etc.? Essas respostas podem ser conseguidas com a ajuda de tecnologia de ponta, ou não. O importante não é o meio de obtenção, mas o resultado preciso, cada cidade tendo os meios disponíveis conforme sua realidade, problemas e acesso a recursos financeiros, tecnológicos e humanos.

Entretanto como é comum acontecer com conceitos técnicos que ganham popularidade, o tema acabou sofrendo com uma grande confusão. É muito comum que projetos chamados de Cidades Inteligentes sejam, na realidade, projetos de implantação de dispositivos eletroeletrônicos, e só, sem a finalidade real de solucionar problemas urbanos reais, sem um planejamento com índices e objetivos de desempenho em longo prazo e sem uma garantia de retorno em benefício urbano daquele valor investido.

Outro perigo é o da importação descuidada de conceitos criados para realidades diferentes da nossa. Como já dito, a tecnologia em Cidades Inteligentes é usada para a resolução de problemas que atingem a cidade. Devemos lembrar, então, que diferentes cidades possuem diferentes problemas. Por exemplo, uma cidade na América Latina, Brasil, Oeste do Paraná, enfrenta problemas diferentes dos existentes em cidades médias do interior da Europa, onde o conceito Cidades Inteligentes se difunde amplamente. Ou, ainda, problemas diferentes de exemplos recorrentes no tema, como Melbourne, na Austrália. Desse modo, é necessário, ao olhar para esses exemplos, percebermos que as soluções adotadas refletiam os problemas existentes nesses locais. 

Afinal, talvez não faça tanto sentido a instalação de semáforos inteligentes em cidades de 500 habitantes sem qualquer trânsito, como é compreensível que ferramentas de combate à desigualdade social não sejam uma preocupação em uma cidade com níveis quase nulos de desigualdade social, ou ainda a instalação de pontos de ônibus onde sequer passa qualquer transporte público. O primeiro passo inteligente no processo da cidade é olhar para si mesma, conhecer suas características boas e ruins e, só então, pensar em como a tecnologia pode contribuir para a superação dos problemas encontrados, levando sempre em consideração quais problemas são prioridade para a população. O descuido com esses pontos pode arruinar o magnífico legado que essa oportunidade tem potencial de gerar para Foz do Iguaçu.

Para os moradores da Vila A e região, a notícia da implantação de técnicas de Cidades Inteligentes significa a chance de que, em breve, os cidadãos terão à disposição do seu bem-estar urbano toda uma rede tecnológica e altamente profissional de serviços de gestão da cidade. Temos aqui, quem sabe, a possibilidade de um trabalho que se expanda para a cidade em caso de sucesso, podendo ser o pontapé inicial de uma cidade mais agradável, com ferramentas de dados e planejamento capazes de melhorar diretamente a vida da população com uma grande economia de recursos. Certamente, tomados os devidos cuidados, e com uma população consciente, essa notícia é uma vitória, a princípio, para a região da Vila A, mas com potencial de chegar ao resto da cidade.

* Eduardo Matheus Figueira é arquiteto, urbanista e educador social.

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