Pandemia faz “aniversário” com o vírus ainda em vantagem em Foz do Iguaçu

Acelerar o ritmo de vacinação é fundamental para frear a expansão da Covid-19 entre os iguaçuenses

Apoie! Siga-nos no Google News

Guilherme Wojciechowski – Opinião

Nesta quinta-feira (18), a chegada do novo coronavírus a Foz do Iguaçu completou um ano. De lá para cá, não é exagero dizer que a vida da maioria de nós virou de pernas pro ar, de aspectos simples do cotidiano, como ir a um mercado; à perda de renda, ganha-pão, ou, no pior dos cenários, vidas de pessoas queridas.

Foi no agora já longínquo dia 18 de março de 2020 que a Secretaria Municipal de Saúde confirmou, por meio de nota divulgada à imprensa, o primeiro caso positivo de Covid-19 entre moradores da cidade.

A paciente era uma mulher que tinha se contaminado durante viagem ao exterior, apresentado sintomas na Suíça, e, conforme relatos posteriormente investigados pelo Ministério Público, descumprido o isolamento ao voltar, tendo participado, até mesmo, de uma festa com cerca de 400 pessoas.

Os casos iniciais eram todos importados, principalmente, da Europa (primeiro momento) e São Paulo (segundo momento). Já a primeira morte ocorreu em 26 de abril. Até junho, ainda foi possível manter um certo rastreio. De julho em diante, o Sars-CoV-2 passou a circular indiscriminadamente pela cidade.

Antes de passar à etapa seguinte da análise, no entanto, quero chamar a atenção para o texto abaixo, que publiquei nas redes sociais em 25 de março de 2020 (uma semana após o primeiro caso) e comentei no dia seguinte no programa Manhã RCI, da Rádio RCI Iguassu.

Os números foram simplificados e arredondados para facilitar o entendimento, mas tiveram como base aquilo que, à época, se sabia sobre a doença no mundo (clique aqui para conferir a publicação original):

“MATEMÁTICA DO CORONAVÍRUS

Foz do Iguaçu tem (arredondando para facilitar o cálculo) 250 MIL HABITANTES. Se 10% da população pegar o novo coronavírus no período de um ano, serão 25 MIL PESSOAS INFECTADAS.

Se dessas 25 mil, 10% tiverem sintomas graves, serão 2,5 MIL PACIENTES precisando de espaço nos hospitais. Se entre todos os 25 mil que pegarem o vírus, a taxa de mortalidade for de 2% (dentro da média mundial), serão 500 MORTES.

500 MORTES EM UM ANO. SOMENTE EM FOZ DO IGUAÇU.

Tem algum outro problema de saúde matando tanta gente na cidade?”

Olhando no retrovisor, era o tipo de matemática que eu preferia não ter exercitado. Um ano depois, conforme dados da Secretaria Municipal de Saúde, Foz do Iguaçu, com 258.248 habitantes (estimativa oficial), registrou 30.290 casos (11,72% da população) e 523 mortes, com 1,73% de taxa de letalidade.

A cidade enfrentou vários picos, com o primeiro em julho; o segundo entre novembro e dezembro; e o atual, que começou em 23 de fevereiro de 2021 e agora começa a retroceder. Cada um tem correspondência com ações como relaxamento de medidas, reabertura de fronteira, eleições ou chegada de novas variantes.

A estrutura hospitalar, que começou com 30 leitos exclusivos, hoje tem 125. Locais como o Hospital Municipal ainda contam com margem para ampliação, mas a questão central, aqui e no Brasil como um todo, é a falta de equipes, além da sobrecarga dos profissionais que já estão na linha de frente.

Outro ponto que precisa ser observado é que a Covid-19 tem diferentes velocidades. Uma medida restritiva que inicie hoje só vai resultar em queda de novos casos dentro de 10 ou 15 dias. Para redução nas hospitalizações, são necessários de 20 a 25 dias. Já para diminuir a mortalidade, 30 dias ou mais.

A vacinação, única saída viável, segue a passo de tartaruga em meio à escassez de doses. Até a tarde de ontem (17), Foz do Iguaçu tinha recebido 18.886 vacinas, das quais, 18.343 foram aplicadas nos públicos prioritários. O total de pessoas imunizadas com duas doses é de 5.232, pouco mais de 2% da população.

Abaixo, você confere alguns dos principais dados referentes à pandemia em Foz do Iguaçu, tendo como fonte os boletins diários compilados pela Secretaria Municipal de Saúde. Lembrete importante: cada número representa uma pessoa, uma vida.

Total de casos positivos de Covid-19:
30.290 (critério: pessoas residentes em Foz do Iguaçu).

Total de pacientes recuperados:
29.055 (95,92% do total de infectados).

Casos positivos de Covid-19 – mês a mês:
1º caso confirmado em Foz do Iguaçu – 18/03/20.
Março/20 – 13 casos (média de 1 por dia).
Abril/20 – 36 casos (média de 1,2 por dia).
Maio/20 – 79 casos (média de 2,54 por dia).
Junho/20 – 768 casos (média de 25,6 por dia).
Julho/20 – 2.447 casos (média de 78,93 por dia).
Agosto/20 – 1.732 casos (média de 55,87 por dia).
Setembro/20 – 2.173 casos (média de 72,43 por dia).
Outubro/20 – 2.216 casos (média de 71,48 por dia).
Novembro/20 – 4.284 casos (média de 142,8 por dia).
Dezembro/20 – 4.547 casos (média de 146,6 por dia).
Janeiro/21 – 4.065 casos (média de 131,1 por dia).
Fevereiro/21 – 3.970 casos (média de 141,8 por dia).
Março/21 – 3.960 casos (média de 220 por dia).*
Total – 30.290 casos (média de 82,7 por dia).
* parcial até 18/03.

Perfil dos infectados, por gênero:
15.838 mulheres (52,3%), 14.452 homens (47,7%).

Perfil dos infectados, por faixa etária:
Menores de 1 ano: 166 casos (0,55%).
De 1 a 9 anos: 804 casos (2,65%).
De 10 a 19 anos: 2.045 casos (6,75%).
De 20 a 29 anos: 6.681 casos (22,05%).
De 30 a 39 anos: 7.046 casos (23,26%).
De 40 a 49 anos: 5.708 casos (18,84%).
De 50 a 59 anos: 4.132 casos (13,64%).
De 60 a 69 anos: 2.281 casos (7,53%).
De 70 a 79 anos: 1.028 casos (3,39%).
Maiores de 80 anos: 399 casos (1,32%).

Total de casos investigados:
81.712, dos quais, 51.422 foram descartados (62,9%) e 30.290 confirmados (37,1%) para infecção pelo novo coronavírus. Dos casos positivos, 25.197 foram detectados via exame RT-PCR, 4.945 por testes rápidos e 148 por critérios clínico-epidemiológicos.

Tipo de contaminação:
82,3% por transmissão comunitária (contato desconhecido).
13,9% por transmissão local (contato conhecido).
3,8% por transmissão importada (vírus contraído fora da cidade).

Incidência de casos por grupo de 100 mil habitantes:
11.828, superior à média da 9ª Regional (10.742), do Paraná (6.686) e do Brasil (5.452).

Total de óbitos tendo a Covid-19 como causa principal:
523 (critério: pessoas residentes em Foz do Iguaçu).

Taxa de letalidade da doença em Foz do Iguaçu:
1,73% do total de infectados.

Óbitos pela Covid-19 – mês a mês*:
1º óbito em Foz do Iguaçu – 26/04/20.
Abril/20 – 2 óbitos.
Maio/20 – 1 óbito.
Junho/20 – 8 óbitos.
Julho/20 – 19 óbitos.
Agosto/20 – 31 óbitos.
Setembro/20 – 42 óbitos.
Outubro/20 – 41 óbitos.
Novembro/20 – 45 óbitos.
Dezembro/20 – 77 óbitos.
Janeiro/21 – 75 óbitos.
Fevereiro/21 – 64 óbitos*.
Março/21 – 118 óbitos**
Total – 523 óbitos.
* Critério: data de comunicação no boletim.
** Parcial até 18/03.

Perspectivas

O avanço ou o retrocesso da doença em Foz do Iguaçu vão depender, diretamente, da velocidade do processo de vacinação da população, que ainda está na faixa etária dos 75 anos. Até o momento, como já citado ao longo do texto, pouco mais de 2% da população já receberam as duas doses previstas.

Os efeitos das restrições adotadas no início de março já começam a ser sentidos na média móvel, que vem caindo nos últimos dias. No entanto, enquanto não houver um percentual significativo de pessoas imunizadas, a cidade estará sujeita a um “efeito gangorra”, com alternância entre altos e baixos.

Março ainda nem terminou e já é o pior mês da pandemia em mortes (118), devendo se tornar, também, o pior em quantidade de casos. A média nos 18 boletins até agora é de 220 confirmações por dia, superior às 146 confirmações diárias de dezembro, mês com mais pessoas infectadas.

Para que os próximos meses não sejam ainda piores, é fundamental conter aglomerações e incentivar, entre a população, a adoção de posturas preventivas, como o uso correto da máscara (que precisa ser de um modelo com duas ou mais camadas), higienização frequente das mãos e distanciamento social.

É preciso, também, apostar em estratégias de comunicação que apontem para os benefícios da vacina e alertem para os riscos da automedicação e de tratamentos sem eficácia. Do contrário, a pandemia chegará aos dois anos com o vírus ainda em vantagem.

* Guilherme Wojciechowski é radialista e atua, desde março de 2020, na coleta e difusão de informações sobre o contexto local da pandemia. É neto de Thadeu Wojciechowski, 12ª vítima da Covid-19 no Paraná.

________________________________

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

Quer divulgar a sua opinião. Envie o seu artigo para o e-mail portal@h2foz.com.br

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.