Bomba atômica, local, aduanas e desenvolvimento

Considerado um dos principais defensores da construção da Ponte Tancredo Neves, o empresário iguaçuense Sérgio Lobato Machado faz uma leitura de episódios que marcaram o antes e o depois do empreendimento. Ele resgata a comissão mista, o medo dos argentinos com a bomba atômica Itaipu Binacional, a polêmica para a escolha do lugar, o afastamento das aduanas e o desenvolvimento da região.

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H2FOZ – Alexandre Palmar

Neste Hotel das Cataratas, defronte a beleza natural que ornamenta estas fronteiras, encontram-se, nesta data, técnicos rodoviários brasileiros e argentinos para as primeiras providências visando à construção da grandiosa ponte sobre o rio Iguaçú.

Dentre de pouco, uma nova ‘ponte da amizade’, tal como a que já liga o Brasil ao Paraguai, irá conectar nosso País à Argentina, fazendo com que os povos irmãos tenham fácil acesso ao ponto de tríplice encontro de suas fronteiras, às belezas das cataratas e ao aconchêgo deste hotel maravilhoso.

Foz do Iguaçú, 12 – novembro – 1972
Eliseu Resende – Diretor-geral DNER”

 


 

O registro histórico escrito à mão no livro de ouro” do Hotel das Cataratas revela que a construção de uma ponte conectando” Brasil e Argentina era um sonho antigo de governos, mas que começava a criar corpo somente na década de 70. Quem lembra bem de toda essa história é o empresário iguaçuense Sérgio Lobato Machado, considerado um dos principais defensores da obra.

A conversa na época tinha o tom reivindicatório. Não era possível continuar eternamente com balsa. Surgiu a ideia de formar uma comissão. Nos reunimos numas 30 pessoas no Hotel Carimã. Eram 15 brasileiros e 15 argentinos. Das 30 pessoas, me elegeram presidente da comissão. Começamos contatos com o consulado argentino, mantendo contato com deputados, senadores, telefonemas, telex… até chegar aos presidentes João Figueiredo e Jorge Rafael Videla”, disse Lobato ao H2FOZ.

Ele esteve ao lado de empresários brasileiros e argentinos como Oscar Cianci, Agostin Arrabal, Juan José Osteneros, Evandro Stelle Teixeira, Santo Salvatti, Osvaldo Ferraz Damião e Ermínio Gatti. Muitos deles com agências de turismo. A travessia por balsas era complicada. Era demorada, tinha custo, subida e lama em dias de chuva.” Além deles, o movimento pró-construção recebeu rapidamente apoio de vários segmentos de Foz e Puerto Iguazú.

Essa comissão conseguiu depois de várias peripécias vencer as resistências de sensibilizar dirigentes e tecnocratas de ambos países. Oficialmente a ideia da ponte foi ventilada na viagem do presidente Lanusse ao Brasil em 1971. Nove anos depois os passos iniciais de conversações foram dados no encontro entre Videla e Figueiredo, em Buenos Aires”, descreve o extinto jornal Nosso Tempo, em 15 de janeiro de 1983.

Atômica

Sérgio Lobato Machado: presidente da comissão mista pró-construção da ponte

Uma passagem curiosa da época era a resistência do governo argentino em aceitar a construção da Itaipu Binacional. A usina hidrelétrica era considerada por Buenos Aires uma bomba atômica” porque, caso ocorresse um acidente, poderia inundar várias províncias argentinas banhadas pelo Rio Paraná. Fomos recebidos pelo presidente Videla, que por sinal nos recebeu muito mal”, lembrou. Só depois de muita conversa, a tensão diminuiu, e a ponte ajudou a melhorar a diplomacia entre os dois países.

Local – Outra polêmica da época era a escolha do lugar para construir a estrutura. Segundo ele, se a obra fosse levantada no coração do Porto Meira, a ponte ficaria praticamente dentro do bairro”, sufocando um ao outro, com problemas de trânsito e congestionamentos, como já era a realidade da Ponte da Amizade e Vila Portes na época. Diante do impasse, optou-se por uma área mais espaçosa e que pudesse ter bons acessos rodoviários.

Aduanas – Dentro desse debate ainda consta a mudança do projeto original da ponte. A proposta inicial era construir as aduanas próximas à cabeceira brasileira e argentina, contudo novamente a realidade da fronteira Brasil-Paraguai foi levada em conta. Conversamos com o ministro dos Transportes da época e conseguimos o afastamento das aduanas das cabeceiras”, recordou.

Releitura – Passados 30 anos da inauguração, Sérgio Lobato Machado faz uma releitura da importância da Ponte Tancredo Neves para o desenvolvimento não só de Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú, mas de toda esta região trinacional. A ponte representou modernidade. Pra mim a ponte é um sonho conquistado e realizado junto com amigos. Agora continuo sonhando com a segunda ponte (Brasil-Paraguai). Aqui é a nossa vida. O nosso caminho será Foz do Iguaçu.”
 

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