Isabel Fávero, torturada pelo Exército em Foz do Iguaçu

Depoimento de Isabel Fávero, presa e torturada na década de 70 pelo Exército em Foz do Iguaçu. Ex-militante da VAR-Palmares, era professora quando foi presa em 5 de maio de 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife (PE).

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Presa e torturada na década de 70 pelo Exército em Foz do Iguaçu, Isabel Fávero prestou depoimento à Comissão da Verdade, em 27 de junho de 2013, na Câmara de Vereadores de Foz do Iguaçu.

Ex-militante da VAR-Palmares, era professora quando foi presa em 5 de maio de 1970, em Nova Aurora (PR). Hoje, vive no Recife (PE), onde é professora de Administração da Faculdade Santa Catarina.

À Comissão da Verdade, disse que recebeu choque elétrico nos mamilos, genitália e extremidades do corpo. Estava grávida de 2 meses e, dada a violência sofrida, sofreu um aborto. Além das violências físicas, passou por violência verbal e psicológica. Não recebeu nenhum tipo de assistência.

Sangrou durante dias, sem a possibilidade de fazer qualquer tipo de higiene. A situação, além de dores, provocou mau cheiro, o que irritava os militares, que motivados pela irritação agrediam mais Isabel. Era chamada de vagabunda, vadia, nojenta…

VÍDEO: Assista ao emocionante depoimento ao fim do texto.

Eram mais ou menos 2 horas da manhã quando chegaram à fazenda dos meus sogros em Nova Aurora. A cidade era pequena e foi tomada pelo Exército. Mobilizaram cerca de 700 homens para a operação. Eu, meu companheiro e os pais dele fomos torturados a noite toda ali, um na frente do outro. Era muito choque elétrico.

Fomos literalmente saqueados. Levaram tudo o que tínhamos: as economias do meu sogro, a roupa de cama e até o meu enxoval. No dia seguinte, fomos transferidos para o Batalhão de Fronteira de Foz do Iguaçu, onde eu e meu companheiro fomos torturados pelo capitão Júlio Cerdá Mendes e pelo tenente Mário Expedito Ostrovski.

Foi pau de arara, choques elétricos, jogo de empurrar e, no meu caso, ameaças de estupro. Dias depois, chegaram dois caras do DOPS do Rio, que exibiam um emblema do Esquadrão da Morte na roupa, para ‘ajudar’ no interrogatório. Eu ficava horas numa sala, entre perguntas e tortura física. Dia e noite.

Eu estava grávida de dois meses, e eles estavam sabendo. No quinto dia, depois de muito choque, pau de arara, ameaça de estupro e insultos, eu abortei. Depois disso, me colocaram num quarto fechado, fiquei incomunicável. Durante os dias em que fiquei muito mal, fui cuidada e medicada por uma senhora chamada Olga. Quando comecei a melhorar, voltaram a me torturar.

Nesse período todo, eu fui insultadíssima, a agressão moral era permanente. Durante a noite, era um pânico quando eles vinham anunciar que era hora da tortura. Quando você começava a se recompor, eles iniciavam a tortura de novo, principalmente depois que chegaram os caras do DOPS.

Durante anos, eu tive insônia, acordava durante a noite transpirando. De Foz, fomos levados para o DOPS de Porto Alegre, onde houve outras sessões de tortura, um na frente do outro. Depois, fomos levados de volta para Curitiba, onde fiquei na penitenciária de Piraquara. Quando finalmente fui para a prisão domiciliar, que durou quatro meses, eu sofri muito, fui muito perseguida e ameaçada. Recebia telefonemas anônimos, passava noites sem dormir.
 

Publicado originalmente no blog do jornalista Aluízio Palmar.

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