niilismo e ressentimentos

“vou rir e chorar das minhas alegrias e angustias e guardar no acalanto daquele menino que bafejava seu hálito na espessa cerração das manhãs e noites longínquas de Foz do Iguaçu”, escreve o jornalista José Gilberto Maciel.

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* José Gilberto Maciel

eu era único e não sabia
passei anos a vagar pelo deserto da solidão
eu gostava de tudo aquilo
cheiro do mato à noite perto do rio e da terra molhada depois da chuva
eu não me encontrava comigo mesmo
me encontrei com tantos
e quanto tempo perdi
e pensar que estava certo
um homem solitário no meio de tanta gente
não precisa de mais nada além dos seus próprios pensamentos e de sua perspectiva de vida
só muito tempo depois que descobri que continuo único, trôpego, egoísta, cheio de atos falhos, nesta estrada cinzenta e amargurada
e que o desprendimento para tudo isso ainda está naquele menino que não sabia o valor do dinheiro e que pagou um picolé para todos os operários que abriam uma valeta em frente de sua casa
vou embora, eu sei, apurar meus sonhos quando fecho os olhos em um mundo tão surreal
e ainda continuar a olhar para dentro da alma de quem passa por este jardim
vou rir e chorar das minhas alegrias e angustias e guardar no acalanto daquele menino que bafejava seu hálito na espessa cerração das manhãs e noites longínquas de Foz do Iguaçu
ainda sou feito uma criança refugiada com o olhar perdido e que acaba de ser salva dos escombros de uma guerra sem fim

um dia na terra, qualquer dia, serei mais um e mais feliz

* José Gilberto Maciel é jornalista em Curitiba com raízes em Foz do Iguaçu.

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