Nosso Tempo Digital diz não ao esquecimento

Visite o acervo digital do extinto jornal Nosso Tempo, que circulou em Foz do Iguaçu nas décadas de 80 e 90.

Apoie! Siga-nos no Google News

Publicado em www.nossotempodigital.com.br, em 24 de junho de 2011.

Relatos sobre as aventuras do extinto jornal oitentista emocionam público

O lançamento de Nosso Tempo Digital foi recebido como um presente no mês de aniversário da quase centenária Foz do Iguaçu. Contemporâneos do oitentista nanico da imprensa alternativa e jovens viajaram pela história com os relatos dos fundadores, com a exposição de capas e páginas do semanário, e com a apresentação da versão eletrônica do seu acervo.

Cerca de 250 pessoas viram pela primeira vez, ou reviram, os personagens e fatos do jornal, resgatados durante a apresentação do projeto, na segunda-feira (20). O ponto de partida para a roda de conversa foramos relatos dos editores Juvêncio Mazzarollo, Aluízio Palmar e Adelino de Souza, e do último proprietário do jornal, Adão Almeida.

Prisão – Bastante emocionado, o jornalista Juvêncio Mazzarollo revelou que o momento vivido naquela noite foi muito marcante. O prestígio daquela aventura de que nós fizemos muito tempo atrás está viva e mantém o respeito da nossa comunidade. Isso pra mim é tudo, afirmou.

Juvêncio lembrou o período no qual permaneceu preso de 1982 a 1984 por crime de opinião, sendo enquadrado na Lei de Segurança Nacional (LSN). É uma recompensa até pelo que se sofreu naquela luta, no meu caso inclusive com prisão. Até essas amenidades havia naquele tempo, disse.

O jornalista espera que o trabalho colocado na internet seja útil para muita gente que quer, gosta e precisa conhecer a história da região. A história da nossa cidade, do nosso país, do Paraguai e tudo mais, completou, sem se esquecer de citar a importância do diagramador Jessé Vidigal na criação da ousada identidade visual do tabloide.

Resgate – O jornalista Aluízio Palmar enalteceu o fato de a história sair debaixo do tapete e vir à luz. É uma memória dolorosa, mas é a história. No fim, é a história. Palmar lembrou que o jornal nasceu num momento de muitas injustiças sociais, de uma urbanização violenta que atropelou os direitos humanos, o meio ambiente, etc.

Aluízio recordou que o jornal surgiu para combater as injustiças no último reduto do arbítrio e da tirania –ao se referir à época do prefeito nomeado Clóvis Cunha Vianna. É uma parte da história de fatos. Esse é o museu digital, já que nós não temos outro museu na cidade.

Para o jornalista, o Projeto Nosso Tempo Digital colocou na rede mundial de computadores uma carga de conhecimentos sobre Foz do Iguaçu que está a um clique das novas gerações. E assim vamos construindo a identidade de Foz do Iguaçu, construindo a identidade através da reconstituição da memória, ponderou.

Lembranças – O jornalista Adelino de Souza relatou alguns casos sobre as reportagens de combate à ditadura, em especial um episódio envolvendo um interrogatório perante um delegado especial da Polícia Federal. Na época, ele precisou contar com a sorte para encobrir Juvêncio e não ser preso por falso testemunho.

Adelino lembrou ainda as dificuldades para fazer matérias. Hoje os jornalistas mais novos têm moleza, têm internet, telefone, celular; naquela época nós andávamos, às vezes, a pé para economizar, às vezes com Fusquinha vermelho do Juvêncio, às vezes de ônibus, e íamos colher a reportagem in loco, comparou.

O jornalista recordou quando os três foram julgados por juízes militares em virtude dos escritos. Resultado: Juvêncio, condenado, e Aluízio e Adelino, absolvidos. Quando Juvêncio chegou ao porão da penitenciária, percebeu três camas. Daí o carcereiro perguntou: ‘cadê os outros dois’? Quer dizer, estava tudo acertado, contou.

O fim – O último proprietário do Nosso Tempo, o policial Adão Almeida, buscou sintetizar a trajetória do jornal. Para ele, a publicação nasceu com data para morrer porque era um periódico de lutas, de combateàs ditaduras no Brasil e no exterior. Com o fim da ditadura e a chegada das eleições diretas, o semanário ficou sem norte. O jornal cumpriu com o seu papel. Foi uma contribuição para a democratização do país, avaliou.

Interação – Após os quatro relatos, coubeaos idealizadores e organizadores de Nosso Tempo Digital, os jornalistas Alexandre Palmar, Douglas Furiatti e Wemerson Augusto, apresentarem o sitecom o acervo eletrônico. A noite foi marcada ainda pelos olhares espantados do público diante da exposição com capas e páginas históricas do jornal, além de um bom papo acompanhado pelo som da banda Nem Pelé Nem Maradona.

A ideia – Nosso Tempo Digital consiste na recuperação, digitalização e publicação na internet de 387 edições do jornal (1980 a 1989). A segunda parte da digitalização (1990 a 1994) será lançada no segundo semestre. Agora uma pesquisa pode ser feita em segundos com a digitação de palavras-chaves no buscador.

O projeto é um sonho antigo e uma realização de MEGAFONE – Rede Cidadania na Comunicação, com patrocínio da Itaipu Binacional e Uniamérica. Apoiam a iniciativa o Sindicato dos Jornalistas do Paraná (Subseção de Foz do Iguaçu), Casa da América Latina, Guatá – Cultura em Movimento, e Centro de Direitos Humanos e Memória Popular.

VISITE
www.nossotempodigital.com.br

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.