Na festa de 90 anos, o presente de dona Philomena: um livro com a história da família Rafain

O livro conta desde as origens da família Morello, de Philomena, e dos Rafagnin, de seu marido, Olímpio, uma unão que virou símbolo de gastronomia e hotelaria em Foz.

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Por Cláudio Dala Benetta

Dona Philomena Morello Rafagnin, matriarca da família que hoje é sinônimo de gastronomia e hospedagem em Foz do Iguaçu, completou 90 anos no dia 9 de janeiro. Mas a grande festa, nos salões do Rafain Palace Hotel & Convention, foi no sábado, 16 de fevereiro. E o presente que ela ganhou foi especial: o livro “Philomena”, que narra a história dela e de sua família, desde os tempos da infância no Rio Grande do Sul até se tornar um símbolo de empreendedorismo na região de fronteira.

“Este livro é uma viagem através do tempo, que eu deixo como legado para meus filhos, netos e bisnetos e também como um registro da nossa contribuição para o turismo desta cidade, que nos recebeu e que eu aprendi a amar: Foz do Iguaçu”, diz dona Philomena no prefácio.

O livro foi escrito por Ana Cristina Nóbrega, e é resultado de uma pesquisa em centenas de fotos familiares e muitas entrevistas. “Transcrevi mais de 100 entrevistas, num total de quase 200 horas de gravações, e percorri mais de dois mil quilômetros de estradas em busca do início de toda essa história”, conta Ana.

A longa história

A longe linhagem dos Rafagnin/Morello, em foto no jantar de 90 anos da matriarca. Foto de Christopher Monteiro, Eagle Eyes Produções

O livro relata desde as origens das famílias Morello e Rafagnin, da Itália ao interior do Rio Grande do Sul, onde levaram uma vida rústica, puxada, de trabalho na lavoura e de cuidado com os animais, até os dias atuais.

Dona Philomena viveu a infância e a adolescência na colônia, onde a família unida plantava milho, trigo, feijão e mandioca.

Capítulos mais tarde, vem a data de 6 de novembro de 1947, quando Philomena se casou com Olímpio Rafagnin.

Em 1955, já com filhos, o casal veio tentar a sorte no Oeste do Paraná, inicialmente em Corbélia, sempre empreendendo: uma hospedaria lá e depois, em Cascavel, um bar e sorveteria. Ali Philomena, uma cozinheira de vocação, praticamente estreou seus dotes culinários para o público, com uma buchada aos domingos que ficou famosa. Vinha gente de vários lugares para provar.

Em 1958, Olímpio entrou de sócio numa churrascaria em Foz do Iguaçu, a São Cristóvão, na entrada da cidade, e convenceu a mulher a também vir para cá, em 1960, junto com os filhos (tinham cinco e Philomena estava grávida).

A maioria dos frequentadores, na época, eram os motoristas dos caminhões que levavam madeiras até um porto no Rio Paraná, onde era colocada em barcos rumo a Buenos Aires e Posadas. Os frequentadores logo se acostumaram aos pratos que dona Philomena preparava, servidos junto com churrasco.

Depois da São Cristóvão, veio a Churrascaria dos Pampas, que então já servia muitos turistas, que vinham para ver as Cataratas do Iguaçu. E também continuavam chegando os filhos de Philomena e Olímpio: no dia 31 de dezembro de 1962, nascia o sétimo.

DNA

A família Rafagnin, a essa altura, desistiu da churrascaria e entrou no negócio do transporte de ônibus. Deu certo, mas a gastronomia estava mesmo no DNA da família, que em 1967 abriu a Churrascaria Rafain – o Palácio da Costela. Ficou com o nome simplificado, Rafain, porque era assim que o sr. Olímpio era mais conhecido.

E, novamente, dona Philomena, já com uma equipe de ajudantes, mostrava sua criatividade na cozinha, num trabalho que às vezes durava doze horas por dia.

Depois da Churrascaria Rafain, que foi vendida, um novo passo: o Restaurante Rafain, o maior da cidade na época, com capacidade para 400 pessoas. Veio mais tarde a Churrascaria Rafahin Campestre (é, o nome às vezes mudava, até que, anos depois, a família acabou registrando a marca Rafain para os ramos de hotelaria e gastronomia, passando a utilizá-la em todas as empresas do grupo).

Em 1981, dois grandes empreendimentos da família. Primeiro, a Churrascaria Rafain Cataratas; três meses depois, o Rafahin Palace Hotel. E, quando este hotel tornou-se pequeno para atender os eventos de grande porte, foi ampliado para se tornar o Rafain Palace Hotel & Convention Center, com 18 mil metros quadrados de área – até o momento, é o maior centro de convenções de uma empresa particular, no Brasil.

A Churrascaria Rafain Cataratas teve números grandiosos desde o início. Em 2018, por exemplo, só de carne o consumo foi de 15 mil quilos por mês, quantidade que aumentava para 18 toneladas na alta temporada. 

E sempre, nos bastidores ou à frente dos negócios, estava a presença marcante de dona Philomena, que mesmo depois da morte do Sr. Olímpio continuou a trabalhar firme e a liderar a família rumo a empreendimentos de sucesso.

Guiness

Desde o início, na Rafain Cataratas, havia apresentação de shows, que os turistas adoram. Em abril de 2015, surgiu a ideia de candidatar o show da churrascaria a um recorde mundial, pelo longo tempo de apresentações. Na noite de 23 de novembro de 2016, subiam ao palco da churrascaria os representantes do Guinness para fazer a entrega oficial da certificação, para Philomena e seus filhos, em reconhecimento ao “maior número de danças nacionais apresentadas em um jantar com show”.

Os filhos herdaram dos pais o empreendedorismo. Nevo Rafain, junto com um sócio, abriu o Rafain Center, uma praça de alimentação ao ar livre que, na época, era um projeto inovador no País e até hoje é uma proposta contemporânea. Mas veio uma das sucessivas crises econômicas e o grupo Rafain teve que fechar algumas empresas, como o Rafain Center.

Em 1990, nova ousadia: surgia a Agência Tass, que por muitos anos foi um marco na noite iguaçuense. Depois de 20 anos, a boate deu origem a uma nova empresa.

Diz trecho do livro: “Ao longo dos anos a família inovou em muitas ações que hoje parecem sempre ter existido, mas que, na época, representaram diferenciais importantes no setor de gastronomia, eventos e entretenimento. Em Foz do Iguaçu, os negócios da família Rafagnin foram os primeiros a ter apresentações artísticas nos restaurantes, já em 1961. Eles foram pioneiros na realização de grandes eventos, na construção da primeira praça de alimentação da cidade, na realização dos réveillons, em proporcionar recreação para as crianças e considerá-las como influenciadoras das escolhas de seus pais. A empresa foi uma das primeiras da cidade a proporcionar residência para seus empregados e financiar parte de seus estudos, entre tantas outras ações de vanguarda”.

“(…) Nos últimos anos abriram uma filial em Dallas nos EUA, lançaram uma cerveja e um vinho com a grife Rafain, para venda exclusiva nos seus estabelecimentos e foram inscritos no Guinness Book. São façanhas e tanto para quem tem que se equilibrar entre a sazonalidade do turismo e as instabilidades políticas e econômicas de um país como o Brasil.”

O grupo Rafain é um dos maiores empregadores de Foz. Nos períodos de maior movimento, as empresas do grupo chegaram a ter 1.300 funcionários, mas mantiveram a média de 600 colaboradores nos demais anos.

Os refrigerantes banidos

Ana conta um episódio como emblemático da coragem e intrepidez da família: a decisão de deixar de vender dois dos refrigerantes mais conhecidos do mundo na Churrascaria Rafain. “Uma atitude de muita coragem, que deixou perplexos fornecedores e concorrentes. Não houve ninguém na época que achasse que a empresa sobreviveria a tal boicote. Mas eles não só sobreviveram como, ao longo de quase 23 anos, jamais perderam um único cliente por não vender as bebidas.” Ao contrário.

A importância do livro não está apenas em contar a história de uma família de sucesso no mundo dos negócios. Mas em registrar costumes, vivências, histórias de vida, de gente que batalhou, sofreu, mas teve conquistas. 
 

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