Mais uma vez: por que a covid-19 aumenta em Foz e diminui em Ciudad del Este?

Especialistas paraguaios apontam para o que podem ser as causas da diferença, entre elas a falta de lavar as mãos, em Foz, e a presença de mais turistas.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Vamos aos números: até quinta-feira, 18, Foz registrava 11.582 casos de covid-19 (dos quais 10.900 recuperados) e 167 mortes.

A média móvel era de 140 casos por dia (nos sete dias até quarta-feira, 17), maior do que o índice verificado há 14 dias.

Dos 85 leitos de UTI, já contando com os 10 novos instalados no Hospital Ministro Costa Cavalcanti, 71 estão em utilização, isto é, 83,53% do total. Dos 74 leitos de enfermaria, há 48 em uso (64,86%).

A incidência de covid-19 em Foz é assustadora: são 4.523 casos a cada 100 mil habitantes, mais do que o dobro da média paranaense (2.078) e 64% superior à média brasileira (2.757 casos a cada 100 mil habitantes).

Do outro lado da ponte

Já em todo o Paraguai, a média é de 1.052 casos por 100 mil habitantes, quase um terço da média brasileira. Alto Paraná, cuja capital é Ciudad del Este, tem índice ainda menor, de 1 mil casos por 100 mil habitantes, segundo os números do Ministério de Saúde Pública do Paraguai.

Alto Paraná está com 223 casos ativos (dado de quarta-feira, 17), enquanto Foz do Iguaçu contava nesta quinta-feira, 18, com 515 casos ativos, entre os quais se incluem 96 pacientes internados.

Em Ciudad del Este, 40% dos leitos de UTI estão ocupados, segundo o pneumólogo Carlos Pallarolas. O número de casos, quatro semanas depois da reabertura da Ponte da Amizade, continua a diminuir.

Diferenças básicas

Em Ciudad del Este, presença dos compradores brasileiros não influiu nos índices de covid-19. Foto La Clave

Há duas explicações para a situação vivida por Foz do Iguaçu, na opinião de dois especialistas paraguaios, ouvidos em dias diferentes pelo jornal La Clave: uma é a presença de turistas de outros estados brasileiros, principalmente do Rio de Janeiro e de São Paulo, onde “há um número elevado de casos positivos”, segundo o diretor da Região Sanitária de Alto Paraná, Hugo Kunzle.

O outro motivo tem a ver com o relaxo dos iguaçuenses, de acordo com o pneumólogo Carlos Pallarolas, de Ciudad del Este.

Detalhe: a manchete do jornal La Clave que traz a entrevista com Pallarolas tem como título “Em CDE se cumprem medidas sanitárias que em Foz não se implementam”.

“Nós continuamos insistindo com as organizações empresariais e comerciais (de Ciudad del Este) para que continuem cumprindo as medidas (sanitárias). Há uma diferença entre Foz e Ciudad del Este, que é a lavagem de mãos. Aqui, em todos os locais há (lavatórios) e são usados. No outro lado, só usam máscaras e não fazem a lavagem de mãos. Em alguns casos se usa álcool em gel. Essa pode ser a diferença”, diz Passarolas.

Kunzle lembra que em Foz já se observava um aumento dos casos duas semanas antes da reabertura da fronteira. Ele também compara com Ciudad del Este, onde as medidas sanitárias no microcentro têm “muito boa aceitação”, tanto por parte dos empresários como dos trabalhadores do comércio e da via pública.

O diretor de Saúde disse também que, além da baixa ocupação de leitos, tanto de UTIs como de enfermarias, também diminuiu o número de consultas nos hospitais públicos e privados de Ciudad del Este. Os testes têm sido feitos semanalmente nos mesmos índices anteriores, mas apontam sempre para uma redução dos casos positivos.

Ele também mencionou como positiva a instalação de lavatórios em diferentes pontos da cidade, assim como nos acessos às lojas.

“Vemos que se intensifica o uso de álcool em gel, o uso obrigatório de máscara, fundamental neste momento, assim como evitar a aglomeração de pessoas em lugares fechados. “É nisso que estamos insistindo e trabalhando muito de perto com os empresários da região”, disse o diretor da Região Sanitária de Alto Paraná.

Tanto Kunzle quanto Pallarolas dizem que o setor de saúde de Alto Paraná está acompanhando com cuidado e preocupação a situação de Foz do Iguaçu.

Adendo

De fato, em Foz do Iguaçu é comum a utilização de máscaras de proteção contra o vírus. Mas o que se está vendo cada vez mais, tanto nas vias públicas como nos comércios (inclusive supermercados), é uma redução no uso ou o uso incorreto destas máscaras, que às vezes estão no pescoço e em grande parte dos casos não cobrem o nariz, deixando as vias respiratórias livres para a entrada do vírus.

O que parece fazer falta, em Foz, é um trabalho em conjunto dos setores de saúde pública com os empresários dos diferentes setores, especialmente do comércio, para que cumpram e exijam o cumprimento dos protocolos sanitários para evitar a propagação do vírus, sem a necessidade de fechar setores do município ou até barrar a entrada de visitantes.

Parece que tanto o poder público quanto os cidadãos (generalizando) estão num relaxamento incompreensível, quando médicos que atendem pacientes vítimas da pandemia vivem uma situação cada vez mais angustiante.

Ah, sim, ao contrário do que muitos pensam, a situação diferente não decorre da vinda de paraguaios em busca de atendimento em Foz. Isso acontece, mas não em número e grau suficientes para explicar a diferença gritante na situação vivida aqui e lá.

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