Por Claudio Siqueira
Nossa história oficial foi construída sobre apagamentos. Povos indígenas reduzidos a notas de rodapé, populações negras silenciadas, mulheres e LGBTQIA+ empurrados para a margem. O que se apresenta como “memória nacional” é uma narrativa das elites, cristalizada em manuais escolares e monumentos de pedra.
A memória verdadeira sobrevive em outras frentes. Nos terreiros que guardam rezos proibidos, nas bibliotecas comunitárias que salvam acervos descartados, nos coletivos de periferia que contam suas próprias histórias. Também nos artistas que reviram arquivos, rasgam fotografias oficiais e devolvem nomes e rostos ao que o poder quis apagar. No Brasil, lembrar é ato de resistência.
O esquecimento nunca é neutro. Serve para manter privilégios, perpetuar injustiças e repetir violências. Por isso, lutar pela memória é disputar o presente.
O desafio é não reduzir a lembrança a um relicário de museu. É transformá-la em prática viva, capaz de reconfigurar nossa identidade. Um Brasil pleno exige que vozes indígenas, negras, femininas e periféricas deixem de ser rodapés e ocupem o corpo do texto.
Sem memória, não há futuro.
Toda memória, aqui, é (re)existência.
Existir.
Resistir.