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A Força da Corrupção

Professor Caverna convida André Marques para refletir sobre as obras de Honoré de Balzac

6 min de leitura
A Força da Corrupção

Por André Marques

Honoré de Balzac era um homem que possuía um olhar afiado. O escritor francês do século XIX era capaz de analisar profundamente a sociedade humana, o indivíduo particular que vivia nela e as relações complexas entre ambos, bem como a forma como esse indivíduo agia no mundo, esmiuçando com precisão o seu mundo interior. Não por acaso, Balzac era chamado de “historiador da vida privada”. Em seu livro Le Père Goriot, ele descreve algo muito interessante a respeito da ascensão social: para alcançá-la, seria necessário ser um gênio ou ser corrupto.

Através da fala da personagem Vautrin, o escritor reflete sobre como vencer na vida, dizendo: “…savez-vous comment on fait son chemin ici? Par l’éclat du génie ou par l’adresse de la corruption…” (“Você sabe como fazer este caminho? Pelo brilhantismo do gênio ou pela habilidade da corrupção.”)

Mais adiante, a mesma personagem descreve a corrupção como uma força e o talento como uma raridade. Ou seja, raros são os gênios e mais escasso ainda é o número daqueles indivíduos que, além de excepcionais, conseguem vencer na vida. Para a maioria, resta a corrupção.

Portanto, a corrupção é uma força, não só no sentido de uma capacidade individual que se exerce, mas também como uma espécie de movimento, uma força que atua sobre as pessoas e que, naturalmente, exige resistência por parte daqueles que não querem ser corruptos. Mas, afinal, o que é essa tal corrupção? É muito comum pensarmos nela unicamente do ponto de vista do desvio de verbas públicas; essa concepção é a mais comumente compartilhada no mundo de hoje. Mas não é disso que se trata.

A corrupção não se limita ao desvio de dinheiro. Este é apenas o seu âmbito material, digamos, e, portanto, mais visível. No entanto, não é a única forma, nem a mais grave. Sua manifestação no campo moral, intelectual e espiritual é muito mais séria — e, infelizmente, muito mais comum de se encontrar. Ora, desviar dinheiro requer um cargo e uma posição que poucas pessoas têm. Mas abrir mão de certos valores morais pessoais para conseguir um emprego… isso é uma forma de corrupção moral muito mais acessível. E, no mundo contemporâneo, é quase uma obrigação do indivíduo que deseja um bom emprego, segurança, estabilidade etc. Basta observar quantas pessoas abrem mão de si mesmas, daquilo que lhes é mais precioso, em troca de uma vaga de emprego, de uma posição mais importante ou até mesmo de uma boa nota em uma prova!

Desse modo, o que está acontecendo? As pessoas estão deixando de lado valores universais em troca de ninharias materiais. Quando se abre mão de algo que lhe é importante e no qual se acredita, para escrever outra coisa numa prova apenas visando uma boa nota, está-se trocando algo eterno por um prêmio efêmero. E, nesse caso, é a sua alma que sofre! Sócrates enfatizou isso com clareza, sobretudo no Fédon.

E é exatamente isso que as pessoas normalmente fazem. Isso ocorre principalmente porque os objetivos dos indivíduos já estão corrompidos. Ora, o que se deseja, normalmente? Fama, riqueza, estabilidade material, segurança, status, cargos importantes etc. É em torno desses ídolos que gira a vida da maior parte das pessoas no mundo de hoje. Vê-se, portanto, que a situação ainda segue mais ou menos a mesma linha do século XIX, descrita por Balzac. Ou seja, ninguém parece se dar conta de que todos esses objetos de desejo — incluindo, sim, a segurança e a estabilidade — são, além de impossíveis de se alcançar plenamente, ilusórios e menos importantes que o cuidado com a alma (evocando aqui, mais uma vez, o discurso socrático do Fédon).

Portanto, quando, na obra em questão (Le Père Goriot), Vautrin menciona que ao medíocre só resta a corrupção — isto é, para aquele que, sem talento, almeja subir na sociedade —, ele acerta. Pois aquele que é medíocre em espírito não percebe a sua inversão de valores, não distingue o que está buscando nem o que está sacrificando; essas coisas não lhe são claras e, assim, ele acaba cedendo à corrupção. Da mesma forma, aqueles astutos que percebem essa força e aprendem a exercê-la a utilizam deliberadamente para subir na vida, odiando os gênios e tentando, na medida do possível, enterrá-los na lama — tal como descrito por Balzac.

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    Professor Caverna

    Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.

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