Por Nicolas Calister
Todos desejamos ser pessoas boas. Desejamos conviver em paz com nossas ações e com o próximo. Temos o entendimento de que nossas ações têm valores, elas podem ser ações boas ou ruins. Porém, como definimos o valor de nossas ações? Como podemos discernir as ações boas das ruins? É comum buscarmos orientação na ética e na moral, regras ou convenções sociais que já existiam muito antes de termos nascido. Porém, também temos o entendimento de que, olhando para o passado, muitas vezes o que já foi considerado certo, hoje é visivelmente errado, como segregação social, posse de outras pessoas ou desigualdade de gênero. Surge a dúvida: como posso garantir que o modo de viver de hoje é realmente correto? Não poderiam talvez minhas ações de hoje serem condenadas no futuro?

Para os propósitos de nossa análise, vamos propor 3 tipos de orientações que podemos seguir. Há aqueles que seguem as leis, não se preocupando com os motivos morais ou lógicos destas. Há aqueles que seguem uma determinada moral, e por fim há os que utilizam da ética. É claro que a vida e os indivíduos em sociedade são mais complexos que isso, podendo ser mais de uma categoria ao mesmo tempo, e por vezes nenhuma destas. Porém, para os propósitos de nossa análise, isto irá servir.
A começar pelo indivíduo das leis. Este irá seguir o que for considerado a norma legal. Se a norma diz para não roubar, ele não roubará. Se a norma diz que ele deve denunciar mulheres que mostrem o rosto, ele o fará. Este indivíduo vive a vida segura. Ele pode até discordar, criticar ou ter opiniões diferentes da lei, mas irá agir de acordo com a norma. Porém, em geral, suas ações não têm valor. Se ele fizer algo bom, será pelas consequências que sofreria caso não o fizesse, não por sua índole. Ao mesmo tempo, é devido a estas mesmas consequências legais que não julgamos tanto o homem que vive de acordo com as leis. Entendemos que, mesmo que as leis ou normas de determinado estado sejam cruéis, e talvez queiramos julgar quem as segue, entendemos também que por vezes o mesmo pode sofrer as consequências por tentar agir por sua própria índole.
A seguir, temos o indivíduo moralista e o ético. Porém, para melhor os compreendermos, devemos primeiro diferenciar a moral da ética. Ambas receberam diversas denominações ao longo da história. Para os propósitos de nossa análise, vamos considerar a ética como uma busca racional de analisar e julgar as ações dos indivíduos e suas próprias, a fim de encontrar um modo universal e harmonioso de viver, consigo e com o próximo. Neste contexto, veremos a moral como um guia para as ações e modos de viver dos indivíduos considerando determinados valores e princípios.
O homem moralista seria então aquele que segue firmemente a moral de seu ambiente social. Isto é importante enfatizar, pois cada ambiente possui uma determinada moral, seus determinados valores. Estes valores são influenciados por fatores históricos, econômicos, culturais e religiosos. Por isso, cada sociedade apresenta variados valores morais. Estes podem ser retratados de forma subjetiva, como em histórias ou alegorias que associam determinados comportamentos à consequências negativas, ou de forma objetiva, como leis que proíbem certos comportamentos ou propõe diferentes consequências para certas ações baseado nas características do agente. Alguns exemplos mais práticos de como a moral pode guiar comportamentos: em algumas religiões é aceito um indivíduo se relacionar com múltiplos parceiros simultaneamente, enquanto em outras isso é condenado. Isso demonstra a natureza volátil da vida moral.
Por último, o ético. O indivíduo ético é aquele que busca agir de acordo com uma análise racional de suas ações, com o propósito de viver em harmonia consigo e com os demais. Tal harmonia se daria por um estado de paz, sem conflitos, injustiças, desigualdades ou danos com os demais. Há uma busca por um modo universal de viver, que exige uma análise das consequências de suas ações no ambiente em que o indivíduo convive. O indivíduo ético pode até ter regras e valores, mas uma vez que estas regras ou valores resultem em dano para si ou para o próximo, ele entende que, na busca pela vida em harmonia com os demais, tais valores ou regras sofrerão mutação. Desta forma, seu modo de viver não pode ser baseado em valores ou costumes locais, pois há o entendimento que estes valores não são universais, e suas ações poderiam danificar aqueles que não compartilham desses valores locais. Da mesma forma, o próprio indivíduo que danifica outro e se justifica por seus valores morais, está suscetível a ser danificado quando se encontrar em um ambiente ou sistema que possua valores opostos aos seus.
Exemplificando de forma prática: o homem ético não apoia a aprovação de leis que proíbam o culto a determinadas religiões, independente de ele ser adepto delas ou não. Ele entende que isso gera o precedente para que sua própria religião seja proibida, e se ele não deseja isso para si, então não deseja isso para o próximo. Além disso, seria uma lei que assume uma única religião como verdadeira, um tópico demasiadamente subjetivo, que depende de valores morais pessoais. Outro exemplo: se você questionar ao indivíduo ético se é correto ou errado se relacionar com várias pessoas ao mesmo tempo, ele não irá imediatamente lhe entregar uma resposta. Sua preocupação será o contexto: estas várias pessoas estão cientes de sua poligamia, e estão todas de acordo? Se não há danos às partes envolvidas, então não há ação negativa, apenas escolhas pessoais, mesmo que estas escolhas desagradem certos sistemas morais. Isto mostra que, por vezes, a ética pode discordar da moral.
Percebe-se que uma das principais diferenças do modo de viver ético do moral é que o indivíduo ético seria assim considerado em qualquer local que vivesse. Em sua busca por um modo universal de viver, ele desenvolve um senso de respeito ao próximo e suas escolhas pessoais, mas com um entendimento de que uma vez que nossas escolhas pessoais afetam o próximo, elas deixam de ser pessoais. Este indivíduo não age cegamente, se justificando pelos costumes, mas sim verificando os pesos positivos e negativos de suas ações de forma objetiva. Por isso, será considerado ético, harmonioso socialmente, em qualquer ambiente que conviva.
O indivíduo moralista, por sua vez, só pode se considerar uma pessoa moral, que vive corretamente e adequadamente, enquanto se encontrar confortavelmente no ambiente compatível com sua moral. O indivíduo que seja totalmente adepto da moral local, seguindo as regras de sua religião e cultura, valorizando ou desvalorizando ações de acordo com os critérios de sua moral, ainda assim poderá ser considerado imoral em qualquer outro ambiente. Devido a natureza subjetiva e volátil da moral, ela nunca poderá estabelecer um modo universal de viver. Não seria sábio nos guiarmos então por valores subjetivos, pois a chance de a nossa moral ser a “correta” é ínfima.

Afinal, o que isso tudo quer dizer? Todos temos nossa visão de mundo e nossas escolhas pessoais de crença ou apreciação. Porém, se buscamos viver em paz uns com os outros, devemos limitar essa subjetividade à nossa liberdade pessoal. Por vezes, nossas opiniões e crenças, em sua natureza pessoal e subjetiva, desvalorizam os indivíduos à nossa volta por seu estilo de vida ou características pessoais (religião, sexualidade, etnia, etc). Nestes casos, nunca devemos agir de acordo com estas opiniões e crenças, pois estamos estabelecendo o precedente para que o mesmo seja feito conosco. É muito conveniente destratar determinados indivíduos quando nos encontramos em maioria.
Devemos então nos pôr no lugar do outro. E se estivéssemos em minoria e nossa individualidade não se encaixasse com a moralidade da maioria? Iríamos aceitar tranquilamente que fôssemos prejudicados, sob uma justificativa moral? Ou entenderíamos que, eticamente falando, nenhuma crença pessoal deve ser utilizada para moldar a vida do próximo? A ética nos lembra, mesmo na complexidade da vida moderna, que qualquer ação negativa, mesmo que guiada por princípios pessoais de crença, cultura ou moralidade, ainda é uma ação negativa, especialmente quando impomos nossos princípios no outro. Sejamos, afinal, indivíduos éticos.
Autor: Nicolas Calister
E-mail: nicolas.calister@gmail.com
Convite Especial: Café Filosófico
Reflexões para Pais e Filhos

Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.
Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.
Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador
Data e local: Zeppelin
Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!
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Ingressos para o V Café Filosófico:

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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
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