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Café Filosófico

Entre isto e aquilo

Professor Caverna convida Liz Basso para refletir sobre como as pessoas na sociedade atual negam outros pontos de vista

5 min de leitura
Entre isto e aquilo

Por Liz Basso

Há muito tempo, o ser humano convivia com diversos pontos de vista ao longo da vida. Éramos nômades. Movimentávamo-nos entre lugares e povos, de maneira que nosso pensamento era ampliado pelo contato com diferentes perspectivas. No entanto, aos poucos levantamos cidades e nos fixamos. Inventamos limites que nos afastaram da animalidade, nossa própria natureza.

Se por um lado o assentamento permitiu certa sensação de segurança devido ao estabelecimento de regras sociais, por outro ele começou a estreitar o pensamento humano. Cada vez mais, olhar ao redor passou a se parecer com olhar-se no espelho. Convivendo com as mesmas leis que seus conterrâneos, o ser humano criou certezas e, a partir dessas certezas, a recusa em aprender outras formas de viver e pensar.

A partir da modernidade, muitos outros limites se estabeleceram. Até então a noção de comunidade prevalecia. Se um sujeito nascia em uma família de trabalhadores ou de herdeiros, para utilizar termos mais atuais, assim ele continuaria para o resto da vida, completamente vinculado àqueles que estavam a sua volta. Com o discurso moderno, surge o indivíduo, esse ser indivisível, inteiro com o qual mais facilmente nos identificamos.

Independe da comunidade em que nasce, o indivíduo pode aventurar-se para criar o próprio futuro, na esperança de ascender socialmente ou, em outras palavras, enriquecer. Entretanto, não há lugar para todos no glorioso futuro, então para que o sujeito chegue lá, o outro precisa continuar onde está. Glória a princípio tomada por um único grupo social, o qual reforçou antigas ou inventou novas fronteiras físicas (nacionais) e simbólicas (eu/outro, razão/afeto, civilizado/selvagem, realidade/ficção, masculino/feminino, branco/negro, isto/aquilo, etc) para proteger seu domínio.

Além de negligenciar tudo o que estivesse entre os extremos, o pensamento dicotômico transformava o outro naquilo que se queria dominar, negar ou aniquilar. A partir disso, deram-se as mais cruéis guerras e opressões dos últimos séculos. Ao mesmo tempo, assistimos o pensamento humano se estreitando cada vez mais. A perspectiva masculina, ocidental, colonizadora dominava a cidade e as letras, enquanto aos outros restava a resistência. Ainda hoje, após tantas conquistas dos grupos minorizados, basta um passeio pelas ruas da cidade ou pela biblioteca para observar tal discrepância de registros na memória coletiva.

Estamos tão acostumados com isso que pode ser difícil enxergar. Se não olharmos com atenção, facilmente acreditamos que só eles são capazes de grandes feitos (e que os tais progressos são para todos) e, desta maneira, reforçam-se os estereótipos e preconceitos para com aqueles que foram silenciados, colonizados, violentados. Vale lembrar que até pouco tempo a história era escrita apenas pelos vencedores.

Felizmente, pode-se dizer que algo de não autodestrutivo surgiu com a modernidade: a democratização da alfabetização. Seria ingênuo pensar que ela se deu à toa, mas isso é conversa para outro momento. O que importa agora é que a entrada de outros grupos no universo letrado vem permitindo não apenas a expressão e o registro de culturas diversas, mas também que o ser humano acesse um número muito maior de possibilidades: outras formas de pensar e viver.

Se hoje nos deparamos com tantas fronteiras, através da arte, da literatura, do cinema, do teatro, da música encontramos outros caminhos. Enquanto a maioria nada conforme a correnteza, alguns de nós observam as correntes para inverter as margens: transformam rios e mares em sujeitos com memória e direitos. Ao invés de reproduzir o que já está dado, cria-se o novo por meio da ficção. Ler é preciso porque navegar é preciso. Frequentar o teatro, visitar museus, ir ao cinema é preciso.

Quem sabe a ficção encontre a realidade. Quem sabe a ficção lembre que mesmo não estando mais atados a apenas uma comunidade, continuamos seres relacionais: estamos todos no mesmo barco. Quem sabe a gente volte a aprender com o outro, mas aquele outro mais outro. Quem sabe assim possamos evitar o suicídio coletivo para o qual nos encaminhamos. Quem sabe dos encontros no meio da travessia entre uma coisa e outra surjam soluções para esse mundo caótico. Parafraseando o príncipe Hamlet: há mais coisas entre isto e aquilo do pode imaginar nossa encurtada filosofia ocidental.

Autora: Liz Basso
liz.basso.oliveira@gmail.com

Convite Especial: Café Filosófico

Reflexões para Pais e Filhos


Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.


Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.


Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador

Data e local: Zeppelin

Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!

Ingressos para o V Café Filosófico:

https://cafefilosoficoo.lojavirtualnuvem.com.br/produtos/1-lote-ingressos

Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

https://chat.whatsapp.com/Ewehn3zxEBr6U0z96uZllP

Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!

E aí, curtiu a ideia geral? Deixe seu comentário logo abaixo.

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    Professor Caverna

    Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.