Por Professor Caverna
A gente vive, sonha, sente, imagina e, no meio disso tudo, o “irreal” aparece como um personagem invisível que bagunça e reorganiza o nosso entendimento da vida. Mas afinal, o que é o irreal? E por que ele é tão importante, mesmo sendo, tecnicamente, “mentira”?
De forma básica, o “irreal” é tudo aquilo que não é real. Simples, né? Mas calma, porque isso se complica rapidinho. O irreal não é só mentira, nem pura ilusão. Ele é aquele território meio enevoado onde moram os sonhos, as fantasias, as paranoias, as crenças, as esperanças e, até certo ponto, as memórias distorcidas.

Na filosofia, desde Platão, existe uma preocupação em distinguir o que é real do que é ilusão. Lá no mito da caverna, ele já avisava: a gente pode viver uma vida inteira olhando sombras na parede e achando que aquilo é o mundo verdadeiro. O irreal, então, seria essa camada de aparência que a gente muitas vezes toma como verdade. Mas calma, não vamos sair cancelando o irreal! Ele também é bonito, criativo e, na real, absolutamente necessário pra gente continuar vivendo.
Vamos dar um pulo pra modernidade. Quando Descartes duvidava de tudo, até da própria existência, ele tava brincando no território do irreal também. “E se tudo isso for um sonho?” essa dúvida o levou à famosa conclusão: “Penso, logo existo.” Ou seja, a única coisa que ele não podia negar era o pensamento, mesmo que fosse um pensamento irreal.
Nietzsche, por outro lado, já era mais radical: ele questionava até a noção de “realidade objetiva”. Dizia que o que a gente chama de verdade nada mais é do que uma ilusão que a gente esqueceu que é ilusão. Parece um nó na cabeça, mas faz sentido. Muitas vezes, a gente vive guiado por narrativas que não são reais no sentido factual, mas que funcionam como verdades sociais, emocionais ou até políticas. O irreal, nessa perspectiva, é quase uma lente: a gente não vê o mundo diretamente, a gente vê o mundo através das ideias, dos valores, das crenças, dos traumas e dos desejos. Tudo isso colore a realidade, criando um híbrido entre o real e o imaginado.
Você já acreditou que alguém gostava de você e depois percebeu que tudo era coisa da sua cabeça? Já teve um pensamento catastrófico tipo “se eu sair agora, vai acontecer alguma coisa horrível”? Já se pegou pensando em como sua vida seria se tivesse feito uma escolha diferente anos atrás? Isso tudo é o irreal brincando com você. O irreal aparece nas nossas projeções, nas nossas inseguranças, nos nossos medos e nos nossos sonhos mais doidos. Quando você idealiza um relacionamento, você está convivendo mais com a imagem do outro na sua cabeça do que com a pessoa real. Quando você se vê como um fracasso total só porque teve um dia ruim, o irreal tá ali, colado em você, distorcendo o espelho.
Mas, olha só, o irreal não é vilão. Ele também é o combustível da imaginação, da criatividade e da esperança. Quando você sonha em viajar o mundo, escrever um livro, mudar de carreira ou construir uma cabana na montanha, tudo isso é irreal — mas pode virar real se você agir. A arte é, talvez, o território onde o irreal brilha sem pedir desculpas. Pinturas, músicas, filmes, séries, livros tudo isso é feito de matéria imaginária, e ainda assim, nos toca de um jeito super real. Um romance pode ser fictício, mas quem lê sente emoções verdadeiras. Uma música pode ser sobre um universo inventado, mas ela expressa sentimentos reais.
O filósofo francês Jean-Paul Sartre dizia que a imaginação é a capacidade de trazer o ausente pra presença. Ou seja, quando você imagina, você meio que “cria” o mundo. E isso é poderoso demais. Não à toa, a imaginação também é ferramenta política. O irreal pode ser usado pra criar utopias, novos futuros, possibilidades que ainda não existem mas que podem existir.
Existe um conceito psicológico e filosófico muito interessante chamado “autoengano”. A gente, muitas vezes, prefere acreditar numa versão mais confortável da realidade do que encarar a dureza dos fatos. Isso não é só covardia, é uma forma de sobrevivência emocional. Quantas vezes a gente mente pra si mesmo só pra continuar funcionando? “Tá tudo bem.” “Eu consigo lidar com isso.” “Isso não me afeta.” – frases que a gente diz pra se proteger. E adivinha? Elas são irreais. Mas também são escudos temporários até a gente se fortalecer.
Então, o irreal também pode ser uma ponte. Uma travessia emocional. Algo que nos prepara, nos amadurece ou nos ajuda a segurar a barra até estarmos prontos pra lidar com a realidade nua e crua. Com o avanço da tecnologia e das redes sociais, o irreal ganhou mais força ainda. Os filtros do Instagram, os vídeos de lifestyle perfeitinho, os algoritmos que só mostram o que a gente quer ver tudo isso cria uma bolha de irrealidade que pode ser perigosa.
A vida editada que a gente vê online gera comparação, ansiedade e uma sensação constante de inadequação. Parece que todo mundo é mais bonito, mais rico, mais feliz. Mas é só o irreal gritando mais alto. E se a gente não tiver consciência disso, corre o risco de acreditar que a realidade da gente é menos válida, menos suficiente. A filosofia, nesse ponto, é um baita antídoto. Ela convida a gente a refletir, questionar, desconstruir. A olhar pro irreal de frente, entender de onde ele vem e como ele atua. Filosofar é justamente sair do automático, sair do encantamento das aparências e começar a perceber as engrenagens invisíveis que movimentam a vida.

Primeiro passo: reconhecer que o irreal é parte da vida. A gente não é só razão, lógica e fatos. A gente é sonho, imaginação, drama e poesia. E tudo bem. O importante é desenvolver um olhar mais atento, mais crítico e, ao mesmo tempo, mais generoso consigo mesmo. Segundo: usar o irreal a seu favor. Transforme a imaginação em projeto, o sonho em meta, a esperança em ação. O que é irreal hoje pode ser o real de amanhã. O irreal pode ser um espaço de criação, não de fuga. Terceiro: não se perder no irreal. É fácil se encantar demais com as próprias fantasias ou com as aparências. Por isso, mantenha vínculos com o presente, com as pessoas reais, com os afetos verdadeiros. A realidade pode ser dura, mas ela também é o único lugar onde a gente pode realmente mudar as coisas.
No fim das contas, o irreal não é inimigo do real. Eles convivem, se misturam, se confundem. O irreal revela nossos desejos mais profundos, nossos medos mais escondidos e nossos potenciais ainda não realizados. Na filosofia, ele serve como provocação. Na arte, como expressão. Na vida cotidiana, como impulso. Viver é, de certa forma, equilibrar o real e o irreal dentro da gente, como quem dança num chão invisível.
Convite Especial: Café Filosófico
Reflexões para Pais e Filhos

Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.
Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.
Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador
Data e local: Zeppelin
Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!
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Ingressos para o V Café Filosófico:

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Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
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