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Filosofia

O eco da vida moderna em nós

Professor Caverna convida Esther Julia Cordeiro da Silva para refletir sobre a tristeza do tempo que já se foi no mundo moderno.

8 min de leitura
O eco da vida moderna em nós

Por: Esther Julia Cordeiro da Silva

O que ecoa na alma dos corpos que ainda se mantém vivos aqui? Caminho pela rua, vejo rostos e formas, enxergo almas frias, quentes e mornas. Escuto uma adolescente chorar por um menino que jurou ser amor pela vida inteiro. Escuto homem dizer que a vida não faz sentido e que quiçá o amanhã será mais ermo do que anteriormente. Escuto uma mulher dizendo que poderia ter ido embora quando o suposto marido a agrediu com palavras. O ecoar de uma vida [vivida?], as perguntas “e se?” assombrando sob aquilo que não se viveu. Enxergo corpos sem almas aguardando o fim sem o desejo de encontrar o paraíso ao fim do corpo físico. Falta de vida, falta de amor, falta de se reconhecer enquanto ser, enquanto parte do mundo que respira.

A noite chega, o silêncio vem e as almas não se encontram mais, não se beijam, não se desejam. A conexão esvaiu, as dores surgiram, a gentileza fora esquecida no século passado e a conta apareceu: “tu és feliz?”

Feliz de quê? Feliz para quê? Quando o mundo mudou, as árvores desmataram, a comida tornou-se produto, as relações tornaram-se líquidas. Feliz? O barro nos pés, o cheiro do amado em minha roupa, a lembrança de correr no pico aos seis anos, a frustração de nunca ter tido a bola que pedi para minha mãe: isto é vida. A vida cotidiana sentida e vivida.

Parte ecoa. Parte vive. Parte morreu. Que os corajosos e os vivos se reencontrem ainda nesta vida. Que haja coragem para autenticidade em meio do caos. Que os afetos afetem e nos curem da dor de uma vida execrável. Que não haja medo de viver o que se quer viver e sentir o que podemos sentir.
Natureza também somos nós: não somos concretos, somos movimento, indo e fluindo, para a vida até o fim.

A rosa de Hiroshima, escrita por Vinicius de Moraes, tornou-se atual. Tantas guerras. Tantas mortes. Tantas dores. O homem é feito de quê? Onde foi que deixamos de existir com a bondade e a gentileza? Onde foi que nos deixamos no meio do caminho? Aliás, qual caminho? Hobbes considera que o homem é do lobo do homem, enquanto Rousseau acreditava que o homem nascia bom, porém, era corrompido pela sociedade. Ao analisar, o humano é ser social, entretanto, o que caracteriza em massa a violência? A dificuldade de exercer a bondade enquanto ser vivo? Seja para o meio ambiente, seja para outrem.

O que aconteceu com a humanidade? Será que ainda podemos nos chamar assim? A etimologia da palavra humanidade deriva do termo latino humanitas, significado de natureza humana, conjunto dos seres e os sentimentos e qualidades: bondade, benevolência, compaixão, civilidade. É isto que estamos sendo? Enquanto alguém passa por situações de violência, a câmera do celular é a primeira a ser ligada. Não há intervenção, não há indignação. Há apenas um celular apontado para tragédia.

Estava em um restaurante, avistei duas mulheres que faziam o uso de bengala, tentando sair do elevador. Estavam cinco homens parados, esperando-as sair. Nenhum ajudou. Nenhum sequer estendeu a mão para saírem do elevador. E volto a questionar, onde ficou a nossa humanidade? Onde ser influencer é muito mais enriquecedor e chamativo, do que sentir as conexões, do que existir em sociedade? Onde filmar uma mulher sendo abusada sexualmente é mais importante para o indivíduo, do que ligar para polícia e tentar intervir?

“O mundo está ao contrário e ninguém reparou”, autoria de Nando Reis. Porém, creio que se perderam tanto no ermo da alma, no avanço da tecnologia, na influencia do capitalismo, que esqueceram de si, que foram comprados, que foram alienados. O pão e circo para manutenção de uma sociedade não pensante, e não pensante, mais prático de alienar e manipular.

“Assim caminha a raça humana, se devorando um a um”, canção de Uns e Outros, e estamos. Devorando e deixando ser devorados. Corroendo a natureza que habita em nós, a gentileza que mora em nós. As conexões afetivas estão se perdendo. Pessoas têm medo de olharem nos olhos. Pessoa têm medo de amar e serem amadas. Pessoas estão adoecendo por viver nesta modernidade.

Sofremos por atos de escolhas passadas, sofremos por pessoas que o que fizeram em vida, ecoa na eternidade e hoje estamos aqui. Com mudança de alimentos para produtos. Proteínas sendo vendidas em pó. Vitaminas sendo vendidas porque apenas alimentação não supre o déficit. Nosso corpo não se movimenta como antes. Horas sentados em cadeira, sem ar puro, sem a iluminação do sol. Onde foi que deixamos de ser terra para ser concreto? Onde deixamos de respirar para virar nada além de vazio e eco angustiante?

A risada das crianças, a brincadeira delas na rua, a calçada sendo tomada pelas cadeiras e conversas: existe? Os afetos que foram modificados pela ausência de ser e a repulsa do diferente da massa. Correr o mais longe possível daquilo que destrói qualquer existência da potencia do ser humano. Correr para o mais distante do que tira a criatividade do indivíduo, do ser, do sentir, do saber, do não-saber, da vida lógica e ilógica, do sempre enquanto dure, e do fim, da vida e da morte.


Não há algo mais doloroso do que observar e analisar que a modernidade é um fio tênue: pronto para partir, pronto para despedaçar e virar pó. O eco da alienação, o eco da ausência do mais intrínseco, mais puro da arte: preocupa. A humanidade voltará existir ou será extinta? A humanidade verá autenticidade? As florestas viverão? Os animais selvagens pararão de entrar em local civilizado, pois terão seus lugares? Não acredito que o ser humano pode ser comparado ao animal. Não acredito que a sociedade o corrompe. Creio que ele veio corrompido. Só encontra mais pessoas para continuar a corromper.

Está interligado: o pão e circo, as pessoas se abstendo com a distração, acreditando que o poder está por eles mas não estão. A dor da vida não vivida, a dor e angustia do que está corrompido me faz pensar:

  • Quando é que deixamos de existir?
  • Onde será nosso fim?
  • Existiremos até quando?
  • Viveremos? Sentiremos a vida?
  • Ou ficaremos presos em tela de celulares aguardando a eternidade que nunca chegará?
  • A fantasia da vida perfeita e o caos de saber que não existe.
  • Como será a humanidade?
  • Não somos mais primatas.
  • Somo escravos da tecnologia e do pão e circo vendido para calar a nossa voz e existência.

Esther Julia Cordeiro da Silva
e-mail: estherjcsilva@gmail.com
Instagram: @estherjc.s_

Convite Especial: Café Filosófico

Reflexões para Pais e Filhos


Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.


Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.


Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador

Data e local: Zeppelin

Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!

Ingressos para o V Café Filosófico:

https://cafefilosoficoo.lojavirtualnuvem.com.br/produtos/1-lote-ingressos

Comunidade do “Café Filosófico” no WHATSAPP:

https://chat.whatsapp.com/Ewehn3zxEBr6U0z96uZllP

Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!

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Assuntos

Professor Caverna

Caverna é professor de Filosofia, criador de conteúdo digital e coordenador do projeto “Café Filosófico” em Foz do Iguaçu.

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