Por Professor Caverna
Sabe aquele momento em que você se pega pensando: “caramba, parece que virei adulto do nada”? Ou quando uma fase da sua vida termina e outra começa, meio que do nada, mas ao mesmo tempo você sente que algo mudou profundamente dentro de você? Então, isso aí tem nome, tem história, e tem filosofia por trás: rituais de passagem. Não precisa ser um ritual cheio de tambores, fumaça e danças em volta da fogueira (mas pode ser também, por que não?). A ideia de ritual de passagem vai muito além disso. É sobre mudança, sobre crescimento, sobre aquele momento em que o “você de ontem” morre um pouquinho pra dar lugar ao “você de amanhã”. E acredite: a filosofia ama falar disso.

Rituais de passagem são práticas simbólicas que marcam a transição de uma fase da vida para outra. Eles existem em praticamente todas as culturas: nascimento, puberdade, casamento, morte, mudança de escola, formatura, primeiro emprego, primeira tatuagem… tudo isso pode ser encarado como ritual de passagem, dependendo da forma como a gente vive e interpreta.
O antropólogo Arnold van Gennep foi um dos primeiros a sistematizar essa ideia. Em 1909 (é, faz tempo), ele mostrou que rituais de passagem geralmente têm três etapas: Separação: você se afasta do seu antigo “eu” ou da comunidade anterior. Margem ou liminaridade: você está entre dois mundos, num tipo de zona cinzenta. Reintegração: você retorna ao mundo, mas transformado, já numa nova posição ou identidade. E quer saber? Isso é profundamente filosófico.
A filosofia, desde a Grécia Antiga até hoje, sempre se ocupou dessas transições. Porque mudar é viver. E viver, pra quem pensa, é um baita desafio. Sócrates, por exemplo, dizia que uma vida sem reflexão não vale a pena ser vivida. Ou seja: quando você passa por algo transformador, é fundamental parar, pensar, digerir.
Os rituais de passagem, então, são como pausas no filme da vida. São aqueles momentos em que a gente para, olha pra dentro, entende que não é mais quem era, e que o caminho agora vai ser diferente. Mesmo que a gente continue morando na mesma casa, com o mesmo nome, e comendo o mesmo pão com manteiga no café.
Vamos falar sobre a adolescência, por exemplo. Um clássico dos rituais de passagem. É quando o corpo muda, a mente se abre, e você começa a se perguntar: “quem sou eu?”, “o que eu tô fazendo aqui?”, “por que a vida é assim?” se isso não é filosofia, não sei o que é.
Nesse momento, o adolescente está numa espécie de limbo. Não é mais criança, mas também não é adulto. É o “entre”. E é exatamente nesse “entre” que a filosofia costuma nascer. Porque é no desconforto, na dúvida, no questionamento, que surge a necessidade de entender o mundo.
Nietzsche, por exemplo, falava sobre o eterno retorno e o enfrentamento da vida como ela é com todas as suas dores e glórias. E Sartre nos lembra que estamos condenados a ser livres, ou seja: cada escolha nossa molda quem somos. O que é, basicamente, o que um ritual de passagem faz: te obriga a escolher um caminho e aceitar as consequências.
Às vezes, a gente passa por um ritual de passagem sem nem perceber. Um término de relacionamento, uma mudança de cidade, a morte de alguém querido… Tudo isso nos força a deixar algo pra trás, viver o caos do meio do caminho, e reaparecer com uma nova versão de si mesmo.
Sabe aquele meme do “antes e depois de 2020”? Então, a pandemia foi um baita ritual de passagem coletivo. A gente se separou do mundo como conhecia, ficou um tempão no limbo do isolamento, e agora estamos tentando nos reintegrar mais ansiosos, mais conscientes (ou pelo menos, a gente espera), talvez mais humanos.
E onde a filosofia entra nisso tudo? Ela ajuda a entender que a dor não é só dor: é também transformação. Que o vazio do “entre” é também espaço de criação. E que o que nos desconstrói pode, ao mesmo tempo, nos construir de novo, de um jeito melhor (ou pelo menos, mais autêntico).
A sociedade moderna muitas vezes negligencia os rituais de passagem. A gente entra e sai de fases sem marcar, sem refletir, sem simbolizar. Sai do ensino médio, entra na faculdade, começa a trabalhar, termina relações, muda de país… tudo no modo automático.
Mas o ser humano precisa de marcos. Precisa de símbolos. Precisa de pausas para dizer: “isso foi importante”. E é aí que entra uma dimensão filosófica da vida: a capacidade de dar sentido às coisas. Quando você faz uma tatuagem pra celebrar uma fase superada, ou raspa o cabelo depois de um término, ou escreve uma carta pra si mesmo… você está criando um ritual. Você está filosofando com o corpo, com a ação, com o gesto.
O filósofo francês Michel Foucault falava sobre os “cuidados de si”. Ele dizia que a gente precisa cuidar da alma, da mente, do nosso “eu interior”. E os rituais, mesmo os mais simples, são formas de fazer isso.
Já Kierkegaard, o rei do existencialismo dinamarquês, falava que viver é dar saltos. E cada salto é uma espécie de rito de passagem: você deixa uma margem segura, pula no desconhecido, e pousa em algo novo às vezes com dor, às vezes com alívio, mas sempre com alguma mudança.O legal é perceber que esses filósofos não estavam falando só de teorias. Eles estavam tentando entender como vivemos, como mudamos, como atravessamos o tempo.
Não precisa esperar por grandes eventos pra marcar as suas passagens. Você pode criar seus próprios rituais. Não tem manual. Pode ser um texto escrito, uma caminhada, um banho de rio, um grito no topo do morro. O importante é dar forma à mudança.
Vamos imaginar: você vai sair da casa dos seus pais. Ao invés de só fazer a mudança em silêncio, por que não escrever uma carta de despedida para a sua infância? Ou então, chamar uns amigos e fazer uma “cerimônia de início de jornada”? Pode parecer bobo, mas não é. É simbólico. E símbolos têm poder.

É aí que filosofia e rito se encontram: ambas são formas de lidar com o invisível com aquilo que sentimos, mas não conseguimos explicar direito.
A verdade é que a vida é cheia de rituais de passagem, mesmo que não tenha cerimônia, fogos de artifício ou um padre dizendo “amém”. O problema é que a gente se acostumou a ignorar esses momentos, a passar direto, sem digerir. E é aí que mora o vazio. A filosofia nos convida a olhar para esses momentos com mais atenção. A perceber que a transformação não é só prática, mas também interna. Que cada fase exige um luto, uma reinvenção, um tempo de silêncio e, se possível, uma celebração.
Como diria Heráclito, “Tudo flui, nada permanece”. Mas quando a gente vive com presença, cada fluxo vira um marco. E cada marco, um aprendizado.
Convite Especial: Café Filosófico
Reflexões para Pais e Filhos

Prezadas famílias!
Temos o prazer de convidá-los para o V Café Filosófico, um encontro especial onde pais e filhos poderão compartilhar um momento de reflexão e diálogo sobre os dilemas da vida.
Em um mundo repleto de desafios e mudanças constantes, criar espaços para conversas significativas fortalece os laços familiares e amplia nossa visão de mundo. Neste evento, vamos explorar juntos questões que nos fazem pensar, crescer e nos conectar de maneira mais profunda.
Por que participar?
✔ Fortaleça a relação com seu filho(a) por meio do diálogo
✔ Reflita sobre valores, escolhas e desafios da vida
✔ Compartilhe ideias em um ambiente acolhedor e inspirador
Data e local: Zeppelin
Contaremos com um ambiente descontraído e um delicioso café para tornar este momento ainda mais especial!
Venha viver essa experiência enriquecedora conosco! Sua presença fará toda a diferença.
Esperamos você e sua família!
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Obs. Caro leitor, o objetivo aqui é estimular a sua reflexão filosófica, nada mais! mais nada!
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