Foto de Lula e os estilhaços da notícia

A imagem que repercutiu no Brasil, publicada pela Folha de São Paulo, no último dia 19, mostra o presidente Lula atrás de uma vidraça, alvo de um tiro. A imagem gerou inúmeros questionamentos entre os limites do exercício do jornalismo, manipulação da imagem e o impacto de uma mensagem.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Na semana que passou, uma foto do presidente Lula, publicada na capa da Folha de São Paulo, que o mostra atrás de uma vidraça atingida por um tiro, na altura do peito, gerou inúmeros debates. Entre os principais, o questionamento sobre o fato de uma fotografia manipulada ser agregada ao fotojornalismo. E do outro, a mensagem que a foto pode transmitir e suas consequências.

Há algumas décadas, a pressão pela busca do clique perfeito era enorme. Tinha de ser muito bem pensado e avaliado. Na máquina analógica, um filme de 36 poses era sinônimo de poder. E quando a imagem era transformada em fotografia impressa, essa era repetida inúmeras vezes para tapar o buraco de uma matéria. O salto do analógico para o digital aliviou parte dessa carga das costas dos profissionais da área.

Muito diferente de agora, não há uma sentença para calcular se vale a pena ou não registrar uma imagem. Se vai custar caro ou não disparar um clique e no final das contas o resultado não valer a pena. Também estamos em um tempo no qual faltam reflexões sobre as consequências de uma foto. Por mais que estejamos na era das imagens.

E as consequências?

Quantas são as ciladas causadas por uma cena postada por segundos nas redes sociais, que mesmo deletadas em seguida geram danos irreparáveis às pessoas envolvidas?

A imagem aqui citada, publicada no dia 19 de janeiro, fruto de múltipla exposição, mostra um presidente corcunda, que parece ter sido abatido por uma bala. Em outra leitura, seria um chefe de Estado que, apesar da tentativa de golpe e do vandalismo na Praça dos Três Poderes, reergue-se.

Não importa qual a narrativa que a fotojornalista Gabriela Biló tenha tentado passar. O que impacta é a maneira como a imagem é assimilada, afinal estamos falando também de objetividade jornalística. Se fosse de um objeto artístico, cada pessoa interpretaria conforme sua bagagem cultural. Mas no jornalismo, quanto menos dubiedade, melhor.

Ainda há muitos vídeos que circulam nas redes sociais, de justiceiros de plantão. E enquanto o “Xandão” não os “arrebata” com a força da lei ou a polícia não os localiza, uma foto dessas pode induzir a um gatilho. Literalmente.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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