O mercado, a fome e a floresta

Imaginem se o mercado ficasse nervoso a cada dano ambiental?

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

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Na semana que passou o mercado, formado por investidores, banqueiros, entre outros, ficou muito irritado quando o presidente eleito, Lula, citou a necessidade de combater a fome, sem enfatizar do mesmo modo a respeito do teto de gastos e equilíbrio das contas públicas. E voltamos a ver gráficos sobre o risco país, que é o sinal que os fundos de investimentos buscam para saber se vale a pena ou não arriscar suas moedas em uma região.

Não me lembro de o mercado ficar nervoso quando o pôr do sol fica rosado, em virtude da poluição ou quando aqui no Sul sentimos o cheiro a fumaça da Amazônia. Também não tenho guardada em minha memória gráficos desfavoráveis aos investidores, quando Brumadinho ficou sob a lama. Também desconheço que o mercado tenha ficado desconfortável com famílias buscando comida em caminhão de lixo. Não foi no antigo documentário Ilha das Flores, foi agora mesmo…

Uma vez assisti a uma entrevista de uma celebridade, acho que era jogador de futebol. Ele dizia que quando não era famoso, fazia um esforço terrível para pagar um almoço. Que nenhum restaurante nunca tinha lhe oferecido algum prato de comida, quando não tinha condições de comprar. Mas que depois da fama, tudo mudou. Justamente quando havua condições de bancar, lhe ofertavam cortesias.

A floresta é como a celebridade antes da fama. Só os mais próximos que sabem de sua realidade, percebem seu potencial e tentam alimentá-la. O trabalhador sem fonte de renda ou a pejotização em disparada, se não come, não consegue carregar o mercado nas costas. Não consegue levar em frente a economia de uma nação.

Imaginem se o mercado ficasse nervoso a cada dano ambiental? Imaginem se a mídia que propaga a preocupação do mercado dispensasse o mesmo tratamento com os povos ribeirinhos? De um lado da tela colocaria um analista de um banco, do outro, a liderança de uma comunidade que extrai o látex, que retira seu sustento sem derrubar a floresta.

Um novo governo deve assumir em 2023, e a expectativa do mercado é em torno do nome do ministro da Fazenda, mas nem de longe é a mesma apreensão para o nome que gerenciará a pasta do Meio Ambiente. Talvez o mercado ainda não tenha se dado conta de que o meio ambiente equilibrado ajuda também a equilibrar as finanças públicas. Não vi o mercado ficar triste ou feliz com o bloqueio e a retomada do Fundo da Amazônia.

Manter as florestas, os recursos hídricos, o solo, o ar, a fauna como um todo gera lucro para a economia pesqueira, para as fábricas que precisam de água e energia para continuar a produção. São trabalhadores e seus filhos que adoecem menos e mantêm a engrenagem da economia em movimento. Manter a floresta em pé, estimula as exportações de commodities com selos que atestam a sustentabilidade na origem. É abrir as portas para financiamentos e doações de fundos internacionais, que bancam projetos alternativos em diversas regiões do País e sustentam a economia local…

Enfim. No dia que o mercado ficar nervoso porque não escutou os líderes políticos tratarem com ênfase sobre a necessidade de matar a fome do trabalhador e a sede da floresta manter-se em pé, e o significado disso tudo, teremos virado uma página importante da nossa história. Do contrário, continuaremos em uma torre de babel, onde cada um fala uma língua diferente, quando o objetivo deveria ser um só: viver dignamente.

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