O anúncio do presidente norte-americano, Donald Trump, de taxar as exportações brasileiras em 50% deixa um rastro de incertezas e expectativas de realinhamento comercial nos países desta Tríplice Fronteira: Brasil, Paraguai e Argentina.
Ao impor a tarifa, que passa a valer a partir do dia 1.º de agosto, o presidente estadunidense não só disparou contra a política econômica brasileira, mas também reacendeu a disputa no campo político ao criticar decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) e defender o ex-presidente Jair Bolsonaro.
Bolsonaro é réu em ação que trata de uma tentativa de reverter o resultado das eleições de 2022, fato que resultou no atentado registrado em Brasília no dia 8 de janeiro de 2023.
Professor de Relações Internacionais da Universidade Federal da Integração Latino-Americana (Unila), Fábio Borges avalia que a medida tomada por Trump é drástica e tem relação com o contexto geopolítico mundial.
Para o professor, o incômodo do mandatário norte-americano é mais com o BRICS do que com as questões políticas que envolvem Bolsonaro.
O que chama atenção neste momento, destaca Borges, é que — ao mesmo tempo em que Trump taxa o Brasil em 50% — os Estados Unidos avançam em um acordo de livre comércio que prevê tarifa zero às exportações de produtos argentinos.
Na análise dele, a disputa entre os Estados Unidos e a China acaba fragmentando o Mercosul. O professor ainda cita a postura intervencionista dos norte-americanos: “Os Estados Unidos fazem da América Latina seu quintal.”
Borges diz que, em relação à Tríplice Fronteira, o impacto mais imediato pode ser a alta do dólar e a consequente desvalorização do real, condição que afeta principalmente o comércio entre Brasil e Paraguai.
Paraguai pode tornar-se atrativo para investimentos
Se por um lado o Brasil é quem mais perde com a taxação de Trump, o Paraguai pode levar vantagem.
Para o economista e diretor-presidente do Centro Empresarial Brasil-Paraguai (Braspar), Wagner Enis, de imediato não há efeito das medidas do presidente norte-americano nas Três Fronteiras. Porém, não se descarta a possibilidade de o dólar disparar e afetar as vendas do comércio de importados de Ciudad del Este.
Para ele, o anúncio de Trump vai acelerar a corrida de industriais brasileiros para o Paraguai, visando a evitar as tarifas no Brasil. Muitas empresas brasileiras dependem do mercado norte-americano, coloca.
Enis cita o exemplo da indústria moveleira, segmento que exporta bastante para os Estados Unidos. O Paraguai, acredita, passa a ser uma opção.
Outro setor que pode ser beneficiado no Paraguai é o têxtil, que já conta com um parque brasileiro em ascensão no país vizinho. “O efeito prático que se irá ver agora é a tomada de decisão mais rápido por parte do empresário brasileiro de se instalar no Paraguai e se tornar mais competitivo no mercado estrangeiro.”
A carne bovina paraguaia também pode beneficiar-se. O país vizinho vem aumentando as exportações do produto para os Estados Unidos, por isso pode substituir parte do que é fornecido pelo mercado brasileiro.
Neste ano, as exportações paraguaias de carne bovina aos EUA cresceram 409%, conforme dados do Banco Central do Paraguai.
Acordo Argentina-Estados Unidos
As negociações entre Estados Unidos e Argentina, outro importante componente no xadrez geopolítico da região, preveem tarifa zero para cem produtos argentinos, com exceção do alumínio e do aço. A Argentina exporta para os Estados Unidos cerca de US$ 6,5 bilhões ao ano.
O alinhamento político-ideológico entre Trump e o presidente argentino, Javier Milei, facilita o acordo. No entanto, na avaliação do professor Fábio Borges, a indústria argentina, já enfraquecida, também pode ser prejudicada com a medida.