Moeda do Paraguai completa 77 anos. 2ª mais antiga da América Latina, é forte e estável

Não se engane pelo valor nominal. O iene, aparentemente, também vale pouco frente ao real. Nos dois países, inflação baixa segura o valor.

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H2FOZ – Cláudio Dalla Benetta

Com R$ 1 você compra 1.250 guaranis. Com este mesmo real, compra 18,97 ienes, a moeda japonesa.

No primeiro caso, parece coerente a moeda brasileira poder comprar tantos guaranis; no segundo, é estranho. O iene é moeda forte e o Japão é um país rico.

A semelhança entre o guarani e o iene está em que, desde que foram criados, sofreram inflação, como todas as moedas, mas não tiveram perda de zeros nem foram substituídos, como ocorreu no Brasil e na Argentina, por exemplo.

O iene, uma das moedas mais antigas do mundo.

O iene existe desde 1871. Apesar da inflação baixa no Japão, essa antiguidade explica por que o iene se mede ao milhar para ter poder de compra. Mas é moeda forte: é a terceira em circulação no mundo, atrás apenas do dólar e do euro.

O guarani existe há 77 anos (completados ontem, dia 5). Sofreu mais inflação do que o iene, num período menor de tempo. Ainda assim, é uma moeda estável, forte.

Embora tenha sido criado 5 de outubro de 1943 (o que o jornal La Nación, que publicou a matéria, não traz), o guarani circulou nos dois primeiros anos junto com o peso paraguaio. Em 1946, tornou-se a moeda única do paraguai.

O jornal La Nación explica que o guarani não é a moeda mais antiga da América Latina. Este posto é do peso colombiano, criado em 1810. Hoje, R$ 1 compra 696,38 pesos. Isto é, o peso colombiano sofre do mesmo sintoma do iene e do guarani.

Na Colômbia, há vários anos está pendente no Congresso um projeto para atualizar o nome da moeda e do valor associado. Mas parece que vai ficar por isso mesmo.

Nossas 12 moedas

Cores e nomes mudaram muito na história da moeda brasileira.

Mexer na moeda, sabemos por aqui, nunca  deu bom resultado. Só pra lembrar, o Brasil teve até hoje 12 moedas.

Vamos lá: no período colonial, circulava a moeda chamada réis; a partir de 1833, réis virou mil réis. Em 1942, surgiu o cruzeiro.

Apenas 22 anos depois, o cruzeiro perdeu os centavos, mas ficou com este nome. Mudou em 1967 para cruzeiro novo.

Voltou a ser cruzeiro em 1970. Em 1984, perdeu os centavos, como tinha acontecido em 1964. Rm 1986, tornou-se cruzado. Apenas três anos depois, o cruzado perdeu três zeros e virou cruzado novo.

A moeda brasileira voltou a ser cruzeiro em 1990. Aí, sofisticou: tornou-se cruzeiro real em 1993. Um ano depois, finalmente, ganhou o nome que tem até hoje: real.

Pra isso, foi preciso implantar um plano que virou de ponta-cabeça a economia, uma rigorosa intervenção no governo não nos preços, mas na área pública, com controle de gastos, e financeira, basicamente.

É claro que o real não está imune à inflação e à desvalorização. Mas está longe de ser necessário que perca três zeros para que as contas sejam possíveis sem precisar utilizar um supercomputador (na época da hiperinflação no Brasil, as antigas calculadoras não tinham dígitos suficientes para suportar uma transação de grande porte).

O real já chegou a ser cotado a 1 dólar. Exageros da época. O normal seria sempre considerar o peso da economia, e não o governo forçar uma equiparação.

Hoje, que oscila livre, também parece que não estão prevalecendo fatores econômicos, mas outros, políticos, de especulação e de expectativas.

Desvalorização no ano

Desde janeiro, o real foi a moeda que mais se desvalorizou frente ao dólar: queda de mais de 40%. Pior desempenho entre as moedas de 30 países.

Em janeiro, o dólar era cotado a R$ 4,02; nesta terça-feira, 6, a cotação está em R$ 5,57.

Causas para desvalorização tão alta em 2020, segundo economistas consultados pelo G1:

– falta de clareza de um plano para solucionar a questão fiscal do país;
– falta de perspectivas de crescimento da economia;
– taxas baixas de juros, que tornem menos atraente o investimento estrangeiro no Brasil;
– crise ambiental.

Com esses fatores, houve uma saída recorde de investimentes estrangeiros do país, em 2020, provocada também pela pandemia.

Na fronteira

Dólar a mais de R$ 5,50 vai limitar compras de brasileiros no Paraguai.

Na prática, aqui na fronteira, o dólar nesse patamar não deverá provocar uma corrida às lojas de Ciudad del Este, como esperam os comerciantes. Claro que haverá procura, mesmo porque há demanda reprimida de importados, que no Brasil sofrem também com a valorização do dólar, somada aos altos impostos.

Mas esta procura vai ser mais restrita a celulares, por exemplo, bem mais em conta que no mercado brasileiro; de eletrônicos em geral; e, talvez, de bebidas e perfumes. Mas não a ponto de recuperar sequer parte do movimento que havia há alguns anos (mesmo porque a aceleração do dólar não é recente).

Voltando ao guarani

O guarani também se desvalorizou frente ao dólar e, por consequência, também em relação ao real. Mas, por mais que os paraguaios temam, não é uma queda significativa, a dos últimos meses.

O histórico desde 28 de junho deste ano mostra que o real valia 1.251 guaranis; em 22 de julho, foi para 1.338 guaranis; em 30 de julho, a 1.347.

Mas já em 7 de agosto a cotação do real, frente ao guarani, caiu para 1.275; voltou a subir em setembro, chegando a 1.319 no dia 7; no final do mês, foi diminuindo, até 1.244 no dia 30.

Em outubro, oscilou pra baixo: 1.229 nos primeiros dias; e 1.253 por R$ 1 no dia 5, segunda-feira desta semana. Isto é, de oscilação pra cima e pra baixa, voltou praticamente ao que era em 28 de junho.

Isso mostra estabilidade do guarani em relação a moedas instáveis em relação ao dólar, como o real.

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