Rio Paraná cada vez mais “seco” reduz produção de Itaipu e Yacyretá

As duas binacionais estão gerando cada vez menos. A queda é ainda mais sensível em Yacyretá, mas Itaipu também sofre.

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A usina binacional (Paraguai/Argentina) Yacyretá produziu 45% menos energia em junho, na comparação com janeiro deste ano, informa o jornal ABC Color.

Já a usina binacional de Itaipu gerou no primeiro semestre 10,13% menos do que no mesmo período do ano passado.

Ambas as usinas dependem das águas do Rio Paraná, cada vez mais escassas devido à seca prolongada.

As duas usinas são chamadas de “a fio d´água”, porque não têm reservatório suficiente para garantir produção contínua.

Topo da barragem de Itaipu, cuja produção está bem mais baixa que o normal. Foto Alexandre Marchetti

E O RESERVATÓRIO GIGANTESCO?

Parece incoerente dizer que Itaipu não tem reserva de água. Afinal, seu reservatório armazena nada menos que 29 bilhões de m³ de água.

Mas, ainda mais gigantesca que o reservatório, é a capacidade das turbinas da usina binacional, que somadas podem receber 14.000 m³/s de água.

A alta capacidade de geração da usina deriva basicamente da regulação produzida pelo reservatório equivalente dos rios brasileiros que afluem à bacia do Paraná.

E, também, das usinas situadas a montante (acima) de Itaipu.

Em períodos normais, esta regulação garante um afluxo superior a 8.000 m³/s, durante 90% do tempo.

O IGUAÇU

Nas Cataratas, sempre um espetáculo, vazão está em mais de 1.000 m³/s. Foto Lu Eder João/Facebook da Cataratas do Iguaçu S.A.

Já Yacyretá, além de receber a água que Itaipu devolve ao rio depois de produzir energia, tem ainda as vazões do Rio Iguaçu.

Agora, o Iguaçu está com uma vazão razoável.

Às 8h, nas Cataratas, a vazão era de 1.080 m³/s, de acordo com o monitoramento hidrológico da Copel.

Ou cerca de dois terços da vazão em períodos normais. Mas no início de junho a vazão mal passava de 300 m³/s.

Também nesta sexta-feira, mas às 7 horas, o Rio Paraná estava na cota 93,04 metros acima do nível do mar, na Ponte da Amizade.

Uns 12 metros abaixo do nível considerado normal.

PRODUÇÃO BAIXA

Mapa do ONS com a produção por regiões.

Às 8h desta sexta-feira, 2, os números de geração anotados pelo Operador Nacional do Sistema (ONS) mostram como Itaipu é prejudicada pela baixa vazão do Rio Paraná.

Neste horário, o total produzido pelas usinas do Sudeste/Centro-Oeste (Itaipu é considerada como pertencente a estas regiões) foi de 30.991 megawattS (MW).

A participação da energia hidráulica (produzida pelas hidrelétricas) foi de 16.966 MW; das térmicas, de 9.521,5; da nuclear, 650,8 MW; e da solar, 465,6 MW.

Itaipu entra isoladamente. Do sistema de 50 Hertz (energia comprada do Paraguai), Itaipu contribuiu com 1.060,1 MW; do sistema brasileiro, de 60 Hertz, a binacional entrou com 1.993,5 MW.

No total, a participação de Itaipu foi de 3.053,6 MW. Uns 22% de sua capacidade total de produção, que é de 14 mil MW.

Ao longo do dia, conforme as necessidades de consumo exijam, Itaipu gera mais. Mas vai ficar longe dos níveis normais.

Não há água rio acima. E os reservatórios das usinas a montante estão com menos água do que o necessário pra enfrentar a estação seca, o inverno.

CHUVA DE JUNHO

O ONS destaca que em junho houve chuvas nas regiões Sul e Norte e em pontos isolados do Centro-Oeste e Sudeste do Brasil.

Mas o índice de chuvas ficou abaixo da média histórica para o mês, nas bacias hidrográficas de interesse do Sistema Interligado Nacional.

Na penúltima semana de junho, choveu fraco e moderado nas bacias dos rios Uruguai, Jacuí, Iguaçu, Paranapanema e em pontos isolados da região incremental à usina de Itaipu, informa o ONS.

Já na última semana de junho houve “totais significativos de precipitação” nessas bacias.

ATÉ NOVEMBRO

Chuvas de junho ajudaram, mas não mudaram a paisagem na Ponte da Amizade. Só em novembro. Foto Marcos Labanca

A previsão de meteorologistas, compartilhada pelo ONS, é que as chuvas voltem com mais intensidade a partir de novembro.

Faltam quatro meses inteiros. Enquanto isso, dá-lhe utilizar energia mais cara, a das termoelétricas.

Pelos resultados da geração desta manhã de sexta-feira, vê-se que a energia térmica já representa um terço da produção no Sudeste/Centro-Oeste.

No Norte, quase a metade; e no Nordeste, mais de 20%.

No Nordeste, o forte é a produção eólica, que representa mais do que a soma da energia térmica, hidráulica e solar.

A energia do Norte e do Nordeste vem garantindo o consumo no Sudeste e Centro-Oeste. Sem contar com uma pequena participação (70 MW) da energia comprada do Uruguai.

CUSTOS

Se dependesse do custo marginal de operação para produzir energia nesta semana, a tarifa de eletricidade elétrica teria que duplicar.

O Operador Nacional do Sistema mostra quais as alterações deste custo marginal de operação, em relação à semana anterior:

• SE/CO: de R$ 682,22/MWh para R$ 944,55/MWh
• Sul: de R$ 682,22/MWh para R$ 944,55/MWh
• Nordeste: de R$ 440,56/MWh para R$ 944,55/MWh
• Norte: de R$ 682,22/MWh para R$ 944,55/MWh

Segundo o ONS, o custo marginal de operação corresponde ao custo para se produzir o próximo megawatt-hora que o sistema necessita.

Este custo é estabelecido para ca, a 4da submercado, semana e período de comercialização.

Na verdade, o custo passou a ser analisado por horário, por isso o informe semanal tem “caráter apenas informativo”, como explica o ONS.

Mas assusta.

NOS VIZINHOS

A seca dos rios Paraná e Paraguai prejudica fortemente as exportações paraguaias, principalmente, porque as barcaças que levam e trazem produtos ao país têm que viajar com menos carga.

Menos carga, maior custo.

A Argentina tem outra preocupação maior.

O Rio Paraná “é de vital importância para a provisão de água potável para as províncias ribeirinhas”, diz o embaixador argentino no Brasil, Daniel Scioli.

Para o portal argentino Primera Edición, Scioli conta que conversou com o ministro de Minas e Energia do Brasil, Bento Albuquerque, para buscar soluções.

Mas Albuquerque disse a ele que “o Brasil vive uma crise hídrica dramática, muito crítica, enfrentando a pior seca em mais de 90 anos”.

Apesar da boa vontade do Brasil, afirma o embaixador argentino, “a perspectiva nos mostra que, até novembro, período em que está previsto que voltem as chuvas, é difícil normalizar a situação”.

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