Olhar fronteiriço: os desafios da região metropolitana trinacional

São grandes temas que testam a capacidade de gestão e colaboração, enquanto seguem pendentes soluções a problemas do dia a dia. Trata-se de enxergar as Três Fronteiras como território único na construção de políticas públicas que levem à melhoria da qualidade de vida da população.

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Há quem defenda que o termo fronteira constitua conceito limitador nos processos de integração, sendo associado a divisa, separação, distância, demarcação de territórios.  Já a palavra ponte, tomada em sentido amplo, seria fator de conexão das geografias, povos, culturas, economias: a transposição que leva às trocas entre sociedades.

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Debate semântico e conceitual à parte, importa dizer que para o fronteiriço, na prática, fronteira é seu local de moradia, e ponte é uma via de ligação. Simples assim. Para quem vive o cotidiano na faixa demarcada pela tênue linha que pontua cada território nacional, as condições limítrofes conduzem a convergências, da sobrevivência à identificação, da vivência ao afeto. 

Não se quer dizer que essa interação seja fácil ou simplificada, e o vai e vem na região trinacional da Argentina, Brasil e Paraguai bem reflete esse nível de complexidade. Justamente para debater os desafios da integração em nível metropolitano, Ciudad del Este acaba de receber agentes públicos e políticos representando as cidades da fronteira. 

À mesa, foram postos temas como meio ambiente, urbanismo, turismo, mobilidade e conectividade. Mas há um leque de pautas – incluindo assistência social, emprego, migração, tráfico de pessoas, cultura, educação, entre tantas outras – que não podem ficar de fora dos debates sobre desenvolvimento, sustentabilidade e cotidiano fronteiriço.

São grandes temas que testam a capacidade de gestão e colaboração, enquanto seguem pendentes soluções a problemas do dia a dia. Exemplo disso são as grandes filas para o transpasso entre Foz do Iguaçu e Puerto Iguazú, que causam transtorno para quem trabalha e afasta o visitante. No mesmo sentido, decisões – e a falta delas – no Brasil e Paraguai tornam a Ponte Internacional da Amizade um percurso a ser evitado repetidamente. 

A discussão em Ciudad del Este, ainda restrita aos setores dirigentes, sugere uma região metropolitana trinacional, semelhante ao que é denominado em outras frentes de diálogo como Metrópole Trinacional Iguassu. Trata-se de enxergar as Três Fronteiras como território único na construção de políticas públicas que levem à melhoria da qualidade de vida da população.

E há muita razão para se pensar e planejar ações comuns para essa geografia estendida. Além dos desafios e demandas atuais, em breve, entre as quatro cidades da convizinhança, serão três pontes internacionais estabelecidas entre si, amplificando os movimentos transfronteiriços, sejam eles humanos ou comerciais.

Se ambiente bom para se morar é o que reúne vida e trabalho, de forma sustentável, a comunidade deve ser chamada para participar do debate, a fim de ajudar a modelar esse território em constante movimento, em prol do interesse da maioria. Afinal, o morador fronteiriço não é somente o principal interessado em avanços nas condições de vida e trabalho, como também é quem mais e melhor conhece a realidade da fronteira.

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