Universidade dos EUA apoia informe sobre cigarros paraguaios, declarado (o informe) pelos fabricantes como “porcaria”

O estudo do Cadep revelou que indústria do tabaco sonega US$ 400 milhões por ano. “Foi feito de acordo com os mais altos parâmetros de investigação em Economia”, diz Universidade de Illinois.

Apoie! Siga-nos no Google News

PRÓLOGO

Contrabandear e vender cigarro paraguaio no Brasil é proibido, certo? Correto. No entanto, há páginas e páginas no Facebook que oferecem cigarros aos interessados, na quantidade que precisarem.

Uma delas – “Vendas Cigarro Paraguai Eight” – diz que fornece “todas as linhas paraguaias de cigarros”. O Eight é a marca mais procurada, fabricada pela Tabesa, de propriedade do ex-presidente Horacio Cartes.

Outra página, essa aqui mesmo de Foz (“Cigarro atacado”), mas com um telefone com DDD de Goiás, informa que vende no atacado e que envia o produto para todo o Brasil.

Só pra dar mais um exemplo, numa rápida pesquisa encontramos mais um atacadista de cigarros paraguaios que opera no Brasil. A página se chama “Cigarro Eight primeira linha” e o telefone para contatos tem DDD de São Paulo.

De onde vem tanto cigarro paraguaio? Como a indústria paraguaia faz para atender essa grande clientela? Paga os impostos direitinho?

O Centro de Análise e Divulgação da Economia Paraguaia (Acade) fez um estudo revelador: a indústria de cigarros do Paraguai produz seis vezes mais cigarros do que declara. E só de um imposto do Paraguai sonega em torno de US$ 400 milhões por ano (isto, no período de 2008 a 2019).

Foto postada numa das páginas de Facebook postadas acima mostra um estoque de cigarro paraguaio. Como a indústria explica esta “exportação” ao Brasil?

Vamos agora à notícia do dia, publicada pelo jornal Última Hora:

REAÇÃO DA INDÚSTRIA E APOIO DE UNIVERSIDADE

O informe do Centro de Análise e Divulgação da Economia Paraguaia (Cadep), que apurou uma sonegação de US$ 400 milhões por ano só em Imposto Seletivo do Consumo, por parte dos fabricantes de cigarros, teve uma reação furiosa da União Tabacalera do Paraguai e da Tabacalera del Este (Tabesa): “porquice, lixo, porcaria, medíocre, tendencioso e mal intencionado”, afirmou o presidente dessas instituições, José Ortiz.

Para José Ortiz, estudo do Cadep é “mal intencionado”. Foto Arquivo Última Hora

No entanto, o estudo ganhou um apoio fundamental. O professor Frank J. Chaloupka, diretor do Centro de Políticas de Saúde (UIC, na sigla em inglês) da Universidade de Illinois, nos Estados Unidos, enviou uma carta de apoio ao Cadep, em que assegura que a investigação foi feita “sob uma cuidadosa análise e revisão” da própria UIC, como noticia o jornal Última Hora.

Chaloupka disse que o Cadep está associado ao UIC para desenvolver “uma investigação econômica apartidária sobre os impostos do tabaco no Paraguai”, a exemplo de outras instituições na América Latina, como o Centro de Investigação Econômica e Orçamentária do México e a Fundação Centro de Estudos do Comércio Exterior (Funcex), do Brasil.

A UIC, explicou ainda o professor e dirigente da instituição, tem sede nos Estados Unidos e é sócia da Iniciativa Bloomberg em iniciativas para reduzir o consumo de cigarros

Frank J. Chaloupka disse na carta que é considerado “um dos principais especialistas do mundo na economia e no controle do fumo”, sendo convidado para compartilhar sua experiência e atuar como assessor de organizações influentes como a Organização Mundial da Saúde, o Banco Mundial e o National Cancer Institute, entre outras.

Ainda sobre o estudo do Cadep, intitulado “Superprodução de cigarros no Paraguai. Impactos domésticos e transfronteiriços”, a UIC garantiu que utilizou “metodologias documentadas na literatura científica estabelecida”, com participação da instituição americana.

Fabricado pela Tabesa, o Eight é hoje o cigarro mais vendido no Brasil. À venda pelo Facebook.

O informe do Cadep e da universidade americana revelou que, entre 2008 e 2019, a produção de cigarros no Paraguai foi seis vezes maior que as vendas declaradas pela indústria, o que na prática mostra que os cigarros saem ilegalmente do país, rumo principalmente ao Brasil. Os cigarros paraguaios já conquistaram metade do mercado brasileiro e são uma das principais fontes de renda do crime organizado.

O presidente das entidades cigarreiras do país, no entanto, disse que “há erros intencionais dentro do estudo e que as quantidades que apresenta são absolutamente falsas”. Citou dois exemplos: o Cadep diz que o setor declarou a produção de 240 milhões de carteiras de cigarros em 2008, quando só a Tabacalera del Este declarou 933 milhões.

Em 2019, a indústria do tabaco declarou 341 milhões de carteiras, afirma o Cadep, quando só a Tabesa produziu e declarou mais de 1,3 bilhão, por isso José Ortiz diz que a informação é falsa ou errada.

LEIA TAMBÉM

Comentários estão fechados.