Chove. E os rios, cada vez mais secos, agradecem. Mas precisam muito mais

O mapa hidrológico paranaense está “triangulado” de vermelho, que são os locais onde o nível dos rios está mais baixo que o normal.

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O mapa hidrológico paranaense está “triangulado” de vermelho, que são os locais onde o nível dos rios está mais baixo que o normal.

Sabe o que representa esta água que cai das nuvens sobre grande parte do Paraná, nesta sexta-feira, 1? Esperança, simbolizada pela cor verde.

E verde é a cor que sumiu no mapa hidrológico do Paraná. O último levantamento feito pelo Instituto de Terras e Água (IAT), nesta quinta-feira, 30, mostra que, das 86 estações que medem o nível dos 51 rios que cortam o Estado, apenas 3 estão marcadas com triângulo verde.

O verde mostra os pontos onde o nível do rio está igual ou acima da cota normal. Como já acontece há três semanas, o mapa do Paraná está pontilhado – ou triangulado – de vermelho. A maior crise hídrica da história paranaense, que teve início em 2019, ainda não tem prazo pra acabar.

Precisa de chuva, muita chuva. Não há sinais disso no horizonte próximo, segundo os meteorologistas.

BALANÇO VERDE E VERMELHO

O verde, que te quero verde, some no mapa. Apenas três estações estão marcadas com o triângulo desta cor. Nas demais estações, nível abaixo da cota normal. Fonte: Hidroinfoparaná

Observe o mapa acima. Há três triângulos verdes, onde pontos de rios estão com nível acima da cota média.

Esses indicadores se baseiam em dados da Agência Nacional de Águas, Companhia Paranaense de Energia, Duke Energy Brasil e Instituto Água e Terra, e são publicados semanalmente no site Hidroinfoparaná.

Um dos rios com triângulo verde é o Nhundiaquara, em Morretes, na região do Litoral, que está no nível 65 centímetros (cm), quando a cota média é 54 cm. Esta mudança do vermelho para o verde se explica: na semana entre a quinta-feira passada, dia 23, para esta última quinta, dia 30, choveu localmente 26,8 milímetros.

Outro triângulo verde marca a estação telemétrica de Cerro Azul, do Rio Ponta Grossa, que subiu para a cota 200 cm (ou 2 metros), quando a média é 180.

O terceiro rio com cota acima da média, pelo menos na estação telemétrica da PR-470, é o Ribeirão do Diabo, no município de Inajá. O ribeirão, que faz parte da Bacia do Paranapanema, está na cota 96, quando a média é 78 cm.

RIO IGUAÇU OU RIO VERMELHO

O Rio Iguaçu, depois de formar as Cataratas, ainda está com nível razoável, graças às usinas a montante, que estão gerando mais. Mesmo assim, nota-se que está abaixo do volume normal. Foto CDB

O Rio Iguaçu, um dos dois mais importantes do Paraná, tem triângulos vermelhos marcando todas as estações telemétricas ao longo de sua extensão. Tanto o próprio rio como seus afluentes, os maiores e os menores, estão cada vez mais secos.

Logo depois de sair de Curitiba e Campo Largo, onde se forma, o rio traz níveis em queda. Em Araucária, na região metropolitana de Curitiba, onde a cota média é 137 cm (ou 1,37 metro), a estação telemétrica marca 97 cm, mesmo tendo chovido durante a semana 13,6 mm.

Mais adiante, em São Mateus do Sul, a situação piora: o nível está em 38 cm, quando a média é 127 cm. Ali, a chuva da semana foi de apenas 3,2 cm.

Depois de receber as águas de um de seus principais afluentes, o Rio Negro, o Iguaçu sobe para a cota 107 cm em Porto Vitória, mas a média é bem acima disso – 174 cm. É que o Rio Negro também está muito baixo. Antes de desaguar no Iguaçu, está no nível 78 cm, ante a cota média 262 cm.

As poucas chuvas ao longo do seu percurso não aumentaram o nível do Rio Iguaçu, mas impediram que descesse mais ainda.

Na estação Porto Capanema, no município de Capanema, a cota do rio está em 246 cm; a média é 287 cm.

E por fim, no Hotel Cataratas, a cota está em 128 metros, quando a média é 167 cm.

Ao longo da bacia do Rio Iguaçu, as chuvas variaram entre 0,8 mm e 15,6 mm, no Alto Iguaçu; entre 0,4 mm e 20,2 mm no Médio Iguaçu; e entre 0 mm e 11,4 mm no Baixo Iguaçu.

NAS CATARATAS

Para quem visita o Parque Nacional do Iguaçu, o espetáculo não teve alteração. A vazão nas Cataratas do Iguaçu permanece alta, embora abaixo da verificada em períodos normais (1.500 metros cúbicos por segundo). Às 7h desta sexta-feira, a vazão está em 1.160 m³/s.

Mas isto se explica porque as usinas ao longo do Rio Iguaçu têm utilizado água dos seus reservatórios (que estão muito baixos) pra gerar mais energia. É a água turbinada (que gera eletricidade e volta ao rio) que garante uma vazão boa para as Cataratas do Iguaçu.

PARANAZÃO

As três estações telemétricas da Bacia do Paraná 3 estão com triângulos vermelhos. A primeira delas, em Guaíra, marca o nível do rio em 87 cm, quando a cota normal seria de 137 cm. O nível desceu 10 centímetros entre a quinta-feira passada (dia 23) e ontem, dia 30.

A estação Novo Três Passos, em Mercedes-Terra Roxa, mostra que o nível do Arroio Guaçu está em 112 cm; a cota média é 230 cm. Na região, choveu 3 mm na semana. Nos últimos sete dias, o nível do rio diminuiu 18 centímetros.

Na estação da pequena central hidrelétrica do Rio São Francisco Verdadeiro, a régua está em 99 cm, quando a média é 118 cm. Ali, choveu um pouco mais nos últimos sete dias: 12,2 mm. Foi graças à chuva que o nível não caiu: ficou um centímetro acima do registrado na quinta-feira da semana passada.

REFLEXOS DA FALTA DE ÁGUA NOS RIOS

O H2FOZ já analisou aqui o que representa esta baixa dos rios para o Paraná e o Brasil: a fundamental é a dificuldade para abastecer os municípios com água tratada; a segunda, também importante, é o fornecimento de energia elétrica. Há possibilidade de que a crise hídrica leve a apagões ou até – ainda não se fala nisso – em racionamento de energia.

Sejam apagões, seja racionamento, são situações que podem comprometer a recuperação da abalada economia do País, depois de uma trágica pandemia.

Em 2001, os sucessivos apagões e racionamento levaram o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil subir apenas 1,42%, depois de aumentar 4,46% em 2000. O reflexo da crise foi sentido no ano seguinte: em 2002, o PIB cresceu somente 1,52%.

PREJUÍZOS NA ARGENTINA

O Rio Paraná em terras argentinas. Cena quase deprimente. Foto Instituto Nacional de Água da Argentina

Num dos nossos vizinhos, a Argentina, a seca do Rio Paraná traz como consequências imediatas também a dificuldade para abastecimento de água nos municípios vizinhos ao Paranazão.

E outro grave problema é que o Rio Paraná é utilizado como hidrovia para transportar a safra agrícola do país rumo aos países importadores.

Até agora, a Bolsa de Comércio da Província de Rosario estima que a dificuldade de navegação com barcaças cheias já provocou perdas de US$ 620 milhões em exportações, conforme o portal El Territorio.

É a maior seca dos últimos 77 anos, diz o portal, o que fez as autoridades proibirem a venda de pescado proveniente do rio, já que a fauna aquática está em risco.

O portal Misiones on Line, baseado em informações de Virginia Laino, diretora nacional de Prevenção e Redução do Risco de Desastres, informou que a baixa do Rio Paraná afeta 125 municípios de sete províncias.

RIO PARAGUAI

No Paraguai, a seca do Rio Paraná se soma à maior baixa registrada no Rio Paraguai, em Assunção. Segundo o jornal Última Hora, o nível do rio no Porto de Assunção chegou na quinta-feira a – 0,73 metro, bem mais baixo que o recorde histórico de – 0,54 metro em outubro de 2020.

O diretor de Meteorologia e Hidrologia, Raúl Rodas, diz que os dados sobre o Rio Paraguai são coletados desde 1904, e só nestes dois últimos anos foram verificados índices tão baixos. Neste mês de outubro, prevê-se um novo recorde de baixa, para – 0,95 metro.

Segundo Roda, a queda no nível dos rios Paraguai e Paraná deve continuar até o final do ano e, inclusive, estender-se até janeiro de 2022, já que as precipitações esperadas não são suficientes para amenizar a situação.

USINA DE ACARAÍ

Usina de Acaraí, em Hernandarias, hoje operando com metade da capacidade. Foto: Arquivo H2FOZ

A baixa do Rio Paraná já prejudica a produção da usina paraguaia de Acaraí, em Hernandarias. Duas das quatro unidades geradoras não estão operando, por falta de água.

Em anos normais, Acaraí produz 1 milhão de megawatts-hora (MWh) por ano. Em 2021, deve chegar a menos de 50% da produção normal, segundo um engenheiro da usina explicou ao jornal Última Hora.

A produção de Acaraí representa entre 3,5% e 5% da da produção energética anual do Sistema Interconectado Nacional do Paraguai, que utiliza parte da energia produzida pelas binacionais Itaipu e Yacyretá.

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