Energia eólica. Parece limpa, mas não é

Usinas de energia eólica instaladas em povoados antes tranquilos, causam transtornos e adoecem comunidades inteiras.

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Aida Franco de Lima – OPINIÃO

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Faça uma busca por “energia limpa” em mecanismos de pesquisa. Adicione a palavra Seridó. O que a maioria dos resultados vai entregar são aspectos positivos dos altos investimentos que a Amazon fez no Rio Grande do Norte, divisa com a Paraíba. Mas, provavelmente, você não vai saber do impacto negativo que isso significa aos moradores da região e muitas outras transformadas em campo fértil para usinas eólicas.

A necessidade de buscar outras formas de energia, além do combustível fóssil, termelétricas e hidrelétricas, as mais conhecidas, tem obrigado a humanidade a trilhar outros caminhos. Um deles é a energia eólica, produzida por meio de grandes hélices que se movimentam conforme os ventos.

Porém, apesar de ser denominada como energia limpa, ela tem causado sérios transtornos, principalmente para comunidades pacatas do sertão, que estão tendo a vida revirada não apenas na fase de construção dos campos eólicos, como após o término, devido ao ruído causado pelas hélices.

“O lobby da energia eólica é fortíssimo. A gente só ouve falar das vantagens. A mídia inteira só fala bem, e só agora as universidades estão começando a apontar os problemas. Mas passe 2 minutos falando com quem mora perto de um parque eólico pra ver o q ele pensa”, escreveu a professora da UFC (Universidade Federal do Ceará) Dolores Aronovich Aguero, mais conhecida como Lola Aronovich.

Sem uma regulamentação adequada, em relação a uma distância mínima entre os geradores e as residências, os moradores, as comunidades tradicionais percebem o silêncio, a calmaria indo para os ares.

O transtorno está no início das construções, quando são derrubadas as matas, as vegetações de onde tiram seu sustento, para a instalação das turbinas. O vai e vem dos caminhões, que atravessam áreas habitadas e aquelas que serão devastadas, levanta a poeira, que se assenta também no interior das residências.

Tais problemas fazem parte de um pacote que se completa com a obra finalizada. Ocorre que o barulho contínuo das hélices, com raras interrupções, quando as correntes de ar “dormem”, é o pesadelo da vizinhança.

Os moradores, que antes dormiam ao som da natureza, hoje passam noites com insônia. Ansiedade e depressão roubaram a paz e a tranquilidade que dominavam os locais tomados pelos aerogeradores.

A instalação desses equipamentos é realizada com base em contratos de arrendamento com prazos que chegam a 35 anos. Certamente para evitar que o proprietário não desfaça o negócio da noite pro dia. Em 2019, cada turbina rendia R$ 1.300 de aluguel. Pode parecer um bom valor, porém não paga os transtornos para quem mora nos arredores.

E mesmo quem não arrendou suas terras acaba sendo prejudicado com o ruído e os prejuízos, cujas marcas estão nos imóveis. A explosão do solo, para a perfuração e implantação dos aerogeradores, costuma abalar o entorno, colocando em risco a estrutura das residências.

Para ajudar, há o problema da modificação da paisagem, que muda significativamente antes, durante e depois da implementação dos parques, além de interferir na rota das aves e na própria cultura da região.

Nem tudo que brilha é ouro, nem toda energia nova é limpa. Há que se pensar na sustentabilidade como um todo, e isso inclui o direito de o morador deitar a cabeça no travesseiro para uma noite tranquila, sem o terror de uma hélice a perturbar seu descanso.

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