Aida Franco de Lima – Com participação de José Gustavo Melo
Após o choque, o Brasil desenvolve uma onda de solidariedade em torno do desastre climatológico que aconteceu em Foz do Rio Bonito – PR, que transformou a cidade em cenário de guerra. Mas na zona rural de Guarapuava em menores proporções, o cenário é tão terrível quanto. Trata-se do assentamento Nova Geração, que ao todo conta com cerca de 300 pessoas, entre crianças, jovens, adultos e idosos, distribuídas entre 31 famílias assentadas e outras alocadas na área que no ano de 2009 o INCRA destinou para as moradias. O local está situado na Serra do Cadeado, na via que liga Guarapuava e o distrito de Entre Rios. O tornado que atingiu a região foi classificado de grau F2, em um limite máximo de F5. Os ventos atingiram cerca de 250 km por hora na noite da última sexta, 07.

No Nova Geração, árvores gigantescas estão dobradas pelo caminho. Era um domingo, mas as equipes de inúmeras empresas trabalhavam no local. Para reativar a energia elétrica são necessários reinstalar mais outros 30 postes. A previsão de reestabelecer a rede elétrica é de uma semana. Há um único gerador de energia entre os moradores e é o que está garantindo a conservação de alimentos perecíveis. Florestas de araucárias foram totalmente destruídas, contêiner voou para quilômetros de distância. Postes e vigas metálicas ficaram retorcidas. Folhas de alumínio ficaram paradas em restos de araucárias, como sacolas plásticas que voam ao vento e enroscam nos galhos de árvores.




É na entrada do assentamento que estão os escombros do que foi a residência de uma família, do senhor Cleiton Makoski e seu filho adolescente. “Eu mesmo fiz minha casa, por fora ela era muito simples. Mas por dentro a gente tinha tudo que precisava, nosso piso era de porcelanato. Era tudo muito caprichado.” Neri ficou imprensado entre o armário da cozinha e uma parede que pressionava contra seu corpo. Foi seu filho que chegou correndo, ferido, e usou um pedaço de madeira para salvar o pai. Depois, foram para a beira da rodovia pedir socorro. Aquela fatídica noite de sexta-feira, de 07 de novembro estava chegando ao fim. Mas foi no dia seguinte, que ele teve a dimensão do ocorrido. Agora, espera ajuda para reconstruir tudo. Ele chora ao relembrar a tragédia, mas se mostra feliz por ter encontrado o seu filho vivo e ele tê-lo salvo. Os móveis viraram entulho para o ferro-velho. Ao lado, no domingo, havia uma barraca, onde ele, seu filho casado, a nora e a netinha estavam alojados. Os borrachudos atacavam a mão da bebê. Famílias chegavam ao local e entregavam algumas doações. A retroescavadeira cedida pela prefeitura de Guarapuava limpava o terreno. A casa foi totalmente destruída. O carro, que havia ‘voado’ para cima dos entulhos foi retirado. Todo quebrado e amassado. Vidros trincados, como os ferimentos de todos ali. As marcas que estavam nos corpos e nas mente de quem vivenciou momentos de terror.



O barracão que era o Centro Comunitário, com suas vigas, colunas e tesouras de concreto armado, foi para o chão. Não sobrou nada inteiro.
O mesmo aconteceu com a igreja católica. Tudo destruído. Alguns objetos que restaram foram colocados ao lado, perto de um barranco. A expectativa era de encontrar documentos que estão por baixo da parede que caiu por cima de tudo, onde deveria ser uma espécie de secretaria da igreja. Uma flor, de plástico, se destacava no meio da destruição. Curiosamente, uma caixa d’água, no alto de três pilares frágeis de eucalipto, resistiu ao tornado.
Logo mais na entrada do assentamento, o que era uma igreja evangélica também ficou toda destruída. Todos os objetos foram destruídos, deixando apenas alguns sinais de onde era o púlpito.




Em uma residência onde havia maquinários pesados e uma pequena fábrica de batata palha, tudo se perdeu também. Máquina agrícola pesando algumas toneladas ficou virada pelo vento, enquanto um contêiner voou há quilômetros. Animais como porcos e galinhas morreram. Animais domésticos estavam assustados e procurando seus tutores.




Em outra residência, onde houve vítima fatal, o cenário é de destruição total. Alguns animais domésticos, como galinhas e cães, não se sabe como, sobreviveram. Colunas da residência, em puro concreto, se envergaram como gravetos. Ao longe, era possível ver a mata de araucárias totalmente destruídas. Onde o tornado tocou o solo, não sobrou nada.

Os moradores narram sempre a mesma coisa. O tempo se fechando, um vento descomunal e as pessoas desesperadas tentando se proteger onde podiam, a maioria embaixo das mesas.


No assentamento Nova Geração uma cozinha campeira, pertencente a uma das lideranças, à moradora Iara de Souza Santos, foi transformada no coração da logística da área. É para lá que são direcionadas todas as doações de alimentos e roupas e alguns pequenos objetos. Também a comida que é oferecida a quem está como voluntário no local e a quem perdeu tudo, sai de lá. Inúmeros trabalhadores de 12 acampamentos das cidades de Guarapuava, Pinhão e Inácio Martins, deixaram suas tarefas diárias e se juntaram em forma de mutirão para ajudar na reconstrução dos assentados. Algumas famílias vão precisar de tudo, pois os alimentos estragaram os móveis, mesmo que a casa não foi arrancada, sujaram com a chuva e a sujeira acumulada no telhado. Tudo será bem-vindo.
As famílias estão mobilizadas em reconstruir suas moradias. Além dos matérias de alimentação, higiene, roupas, remédios emergenciais, entre outros, os moradores pedem doações de telhas, pregos, material de construção. Tudo é bem-vindo. Mas reconstruir os telhados, é essencial.
Na tarde do domingo, inúmeros moradores do entorno iam pessoalmente fazer suas doações. No local estavam também viaturas da Polícia Militar e Defesa Civil, além dos trabalhadores ligados à COPEL. Ao final da tarde o deputado estadual Professor Lemos e a vereadora de Guarapuava, professora Terezinha, ambos do PT, também estiveram no local. Governos federal, estadual e municipal montam força-tarefa para atender as demandas mais urgentes nas principais áreas atingidas no Paraná.
SERVIÇO
Quem desejar fazer qualquer contato direto com o assentamento pode contatar pelo WhatsApp de IARA: (42) 998444842.

