Contrabandistas usavam área de Itaipu para passar cigarros ao Brasil

Denúncia foi feita pela própria binacional. Havia depósitos, caminhões e lanchas, usadas na travessia do Lago de Itaipu.

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Cerca de 40 milhões de carteiras de cigarros que estavam em armazéns do lado paraguaio de Itaipu, 15 caminhões e 12 lanchas foram apreendidos nesta quarta-feira, 5, pela Unidade Interinstitucional para Prevenção, Combate e Repressão ao Contrabando do Paraguai (UIC).

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Na área às margens do reservatório, em Salto del Guairá, funcionava uma rede de logística, com cinco depósitos. Além de cigarros, nas imediações foram encontrados também eletrônicos e outros produtos, segundo o diretor da UIC, Emilio Fúster, em entrevista à ABC Cardinal.

O procedimento da UIC foi acompanhado por agentes da Secretaria Nacional Antidrogas (Senad), Coordenação  Operativa de Investigação (COIA), Ministério Público e seguranças de Itaipu.

Em relação aos cigarros, a maioria das marcas é fabricada pela Tabesa, fábrica de cigarros que pertence ao ex-presidente do Paraguai Horacio Cartes e funciona em Hernandarias (município sede da Itaipu no Paraguai).

Depósitos preparados pra receber muita carga ilegal.

O volume de cigarros encontrado daria para encher entre 12 e 15 caminhões, de acordo com Fúster.

Ele disse, ainda, que o presidente Mario Abdo Benítez tinha pleno conhecimento sobre a operação, e que em nada influiu o suposto diálogo que existiria com o ex-presidente Cartes.

Fúster disse que, até o momento, não se conhece a identidade do dono da carga nem da infraestrutura, mas que as investigações estão em curso.

Os documentos apreendidos no local serão analisados para se saber se os impostos sobre os cigarros foram ou não pagos. A Secretaria de Prevenção à Lavagem de Dinheiro do Paraguai vai verificar a origem do dinheiro utilizado na operação.

Estrutura de Itaipu era utilizada pelos contrabandistas. Foto ABC Color

Centenas de portos

Um levantamento feito pelo jornal Última Hora, em julho do ano passado, identificou um total de 170 portos clandestinos no lado paraguaio do Lago de Itaipu e 91 no lado brasileiro. O reservatório se estende por 1.524 quilômetros, entre Hernandarias e Salto del Guairá, no Paraguai, e entre Foz do Iguaçu e Guaíra.

No total, seriam 261 portos clandestinos, mas um segurança antigo de Itaipu no Paraguai, hoje aposentado, contou ao jornal que há mais de 370.

A invasão das áreas de Itaipu para montar os portos clandestinos é feita a partir de fazendas de soja de grandes empresários, a maioria brasileiros, apurou o Última Horae, num trabalho de reportagem que teve apoio da Iniciativa para o Jornalismo de Investigação (ICFH) em aliança com Connectas.

Os portos funcionam tanto para o contrabando como para o tráfico de drogas e de armas. Num monitoramento por satélite, foi possível ver dezenas de lanchas modernas ou embarcações enormes carregadas com vários caminhões saindo do território paraguaio rumo ao Brasil.

Em dezembro de 2018, lembrou a reportagem, uma operação da UIC com apoio da Secretaria Nacional Antidrogas fez buscas em sete portos clandestinos em Salto del Guairá e identificou que havia efetivos da Marinha paraguaia, armados e vestidos como civis, trabalhando para os contrabandistas. Em outro local, o porto clandestino estava a apenas 100 metros do posto de controle da Armada Nacional.

Na ocasião, o diretor da Senad, Arnaldo Giuzzio, mencionou a cumplicidade de outras instituições e disse que os portos são usados para o tráfico de drogas e armas. “Todo mundo sabe, Aduanas sabe, a Polícia sabe, nossa gente sabe”, disse depois da operação, que prendeu 18 pessoas e apreendeu 30 lanchas de grande porte, dez caminhões e nove carros, além de 5 milhões de carteiras de cigarros e produtos eletrônicos.

Os caminhões carregados com contrabando ou drogas entram na faixa de proteção de Itaipu pelas propriedades de soja, muitas vezes em conluio com os proprietários. Eles próprios também invadem áreas da binacional com cultivos mecanizados, denuncia o jornal.

"Um dos eternos problemas de Itaipu são os portos clandestinos, de onde se faz todo tipo de contrabando", disse ao jornal, na ocasião, o advogado Óscar Bogado, da binacional no Paraguai.

Fontes: ABC Color e Última Hora

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