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Opinião

Foz do Iguaçu e a sanha de destruição de suas áreas verdes

Só no ano de 2022, recém findo, podemos citar a destruição descabida de diversos ambientes naturais do município.

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Foz do Iguaçu e a sanha de destruição de suas áreas verdes
Moradores são responsáveis pela manutenção da praça, uma das poucas com área verde em Foz do Iguaçu. Foto: Marcos Labanca/H2Foz

Amâncio Ivan de Camargo Melo – OPINIÃO

É impressionante a sanha de destruição de matas virgens e áreas verdes urbanas, que, há muito tempo, vem se desencadeando em Foz do Iguaçu, com a conivência e patrocínio de agentes públicos municipais. Em muitos dos casos, com cegueira e desconhecimento absolutos das mais comezinhas técnicas ambientais.

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Só no ano de 2022, recém findo, podemos citar a destruição descabida de diversos ambientes naturais do município, como por exemplo a última das três lagoas, localizada no bairro de mesmo nome, para dar lugar à rodovia denominada Perimetral Leste, que desvia para a BR-277 o trânsito de caminhões vindos da nova ponte da Integração, que liga o Brasil com o Paraguai. Aí, diriam: Ah, mas essa estrada é de conta do governo federal. Sim, mas a área pertence ao município de Foz do Iguaçu, que cedeu passivamente, sem a mínima comiseração à lagoa. Inobstante os protestos dos moradores, que agora perderam até o nome do seu bairro, a insensibilidade da representação municipal falou mais alto. Nenhuma outra opção de desvio indicada pelos locais serviu.

Em maio do ano passado, a comunidade iguaçuense foi pega de surpresa com a destruição de área anexa ao Bosque dos Macacos, no Jardim Ipê, que teve grande derrubada de árvores nativas, para dar lugar a casas residenciais, sob a alegação de que nada poderia ser feito por se tratar de propriedade particular. Tudo sob os olhos condescedentes dos órgãos municipais. O resultado, como mostrou o noticiário do dia seguinte, foi a grande quantidade de macacos desesperados, sob o solo nu, sem saberem para onde ir. Tudo documentado fotograficamente pelos moradores das proximidades. É de se perguntar: será que uma despropriação dessa área não resolveria o problema, mantendo vivo e ainda aumentando o bio-sistema de seus inofensivos habitantes, ajudando na segurança e preservação da espécie?

Mas tudo isso ainda é café pequeno para os que fazem pouco caso da natureza. A destruição desenfreada de áreas verdes também “agraciou” a avenida Maria Bubiak, que liga a avenida Felipe Wandscheer a BR-469 – Rodovia das Cataratas. No último mês de setembro, um dos moradores chorava o corte de mais de 300 árvores só na sua propriedade. Propriedade, aliás, desapropriada para o extermínio total.

Mas essas nefastas ações acima nominadas, são apenas pequena amostra do que a administração do município faz ou permite que se faça na cidade.

No dia 17 de janeiro corrente, a imprensa local mostrou a revolta dos moradores da Avenida Pedro Basso, sem dúvidas, a mais bela de Foz do Iguaçu e indicada ao prêmio de uma das mais bonitas do Brasil, contra a falta de empatia com a natureza por parte dos técnicos do meio ambiente, que compareceram ao local anunciando a necessidade de uma poda drástica e derrubada de grande quantidade de árvores que “ameaçavam” a comunidade com “grande perigo de cairem”. Tudo isso, ao que se informa, sem uma justificativa técnica pelo menos plausível. Menos mal que diante de tantos antecedentes do mesmo tipo – e até piores, os moradores se impuseram e não permitiram as ações destruidoras que se preconizavam para o local. Querem eles, com sobradas razões, um laudo técnico para “cura” de muitas das espécies, e não o simplismo da derrubada pela derrubada.

Mas nada contém os administradores da cidade. A saga de mexer com o verde continua. Todos esses protestos para eles são feitos para atrapalhar o “desenvolvimento” da urbes. Só a eles pertence o saber do que é certo e do que é errado. Não ouvem e não querem ouvir a mais ninguém. No caso em tela, cabe como uma luva – e vale aqui rememorar o que disse certa vez uma pessoa consabida (lembram dela?), que pouco se preocupava com as gentes: “o povo é apenas um detalhe”.

E assim vamos! Agora, a bola da vez a sofrer intervenção da tecnocracia é a verde e majestosa Praça das Aroeiras, situada no Jardim Social – Bairro Yolanda, próxima aos escritórios administrativos da COPEL. Essa área, de exatos 4.698 m2, foi doada ao município nos anos de 1970, pela senhora Irene Kozievitch com a finalidade expressa, em escritura pública de doação, para a construção de uma praça. Sem margem de qualquer outra interpretação. É de bom tom que aqui se registre, que tal área fez parte de um todo maior circundante, denominado Loteamento Jardim Social. Temos então, loteamento e sua área verde correspondente.

Nessa senda, desde os idos dos anos de 1970 até os presentes dias, a Prefeitura Municipal jamais se preocupou em fazer qualquer melhoramento ou manutenção na área, cabendo aos moradores adquirentes dos lotes (hoje todos com construções) tomarem conta do local. Todas as árvores da praça foram por eles plantadas, inclusive, em determinada época, com a ajuda inestimável do Rotary Club. Para se ter uma ideia, há mais de 5 anos, o corte de grama e manutenção da área, que hoje é frequentada não só pelos moradores, mas por grande parte da comunidade da cidade, especialmente aos sábados, domingos e feriados, é feita por jardineiro contratado pelos moradores, que se quotizam para o pagamento.

Infelizmente, pasmem todos, nos últimos dois anos, com ferrenha voracidade, a administração da cidade sismou em acabar com a praça e nela construir uma escola. A pergunta é: por que destruir uma praça para dar lugar a uma escola, se nas imediações a prefeitura tem 8 outras áreas baldias, sem árvores, para a construção da escola? Por que motivo derrubar grande parte das mais de 200 espécies do local, entre elas cerca de 30 ipês roxos (árvore símbolo do município, e por isso restrita por lei a sua derrubada), 30 Paus-Brasil plantados pelo Rotary Club, e hoje já na adultidade? Sem contar uma infinidade de outras árvores que chegam ao total de mais de 200.

É profundamente lamentável a insensibilidade do gestor municipal em não querer ceder. Não há explicação, pelo menos razoável, para essa insensatez e teimosia. Por que não construir a escola em outro local vazio e manter a praça? Por óbvio que ninguém é insano de ser contra a construção de uma escola. Ao contrário, é indesmentível a necessidade de se fazer muitas escolas. Mas não derrubar uma praça para tal mister. Atribuir a quê essa birra da administração iguaçuense? Comprometimento político? Dívidas de campanha? Sabe-se lá.

As informações colhidas dão conta de que o caso foi entregue ao judiciário, estando hoje o processo em grau de apelação junto ao Tribunal de Justiça do Estado do Paraná. Processo no qual, registre-se, a própria Prefeitura admite que tem outras áreas de tamanho e distância preconizados às necessidades da nova escola. Aguarda-se o julgamento e emissão de acórdão (decisão). Mas o tempo urge, mesmo porque, inobstante o caso estar sub-judice, temerariamente o governo municipal arriscou-se a proceder a licitação das obras, que já ocorreu e tem vencedor divulgado. Resta saber se se ocupantes da vez do Paço Municipal se arriscarão a iniciar a destruição da praça mesmo sabendo da situação jurídica pendente.

Oremos para que alguma luz, vinda de qualquer parte (desde que venha!) ilumine as mentes dos nossos administradores, chamando-os à razão e o façam refletir da necessidade de manter uma praça e construir uma escola.

Amâncio Ivan de Camargo Melo (Advogado, defensor do meio-ambiente, morador do Jardim Social)

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Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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