Ato de covardia individual ante crimes de barbárie coletiva, Joseph Mengele, o “anjo da morte” do campo de concentração de Auschwitz, fugiu para a América do Sul após a derrota dos nazistas na 2.ª Guerra Mundial. Responsável por “experimentos” desumanos e fatais contra prisioneiros, ele chegou a ser caçado também na fronteira do Brasil com o Paraguai.
Em 1945, com o avanço do Exército da União Soviética em direção a Berlim, capital da Alemanha, o médico e capitão da SS (temida tropa nazista) deixou Auschwitz. Mais tarde, na década de 1950, estabeleceu-se na Argentina, fugindo depois para os dois países vizinhos, até morrer em território brasileiro, no ano de 1979.
Porém, somente em 1985 análises forenses verificaram a ossada humana, concluindo ser de Mengele, o que só foi confirmado em 1992 com exames de DNA, conforme a Enciclopédia do Holocausto. Assim, ainda nos anos oitenta, o sádico que selecionava seres humanos para câmara de gás, experimentação ou trabalho forçado, era procurado.
Joseph Mengele
O jornal Nosso Tempo abordou os crimes, a fuga e a perseguição ao médico nazista em várias edições. Em uma delas, março de 1985, trouxe o anúncio da recompensa de um milhão de dólares, ofertada por um grupo de doadores internacionais, divulgada por um centro sediado nos Estados Unidos, pela captura de Joseph Mengele – essa não foi a única, e o valor chegou a triplicar.
A recompensa somente seria paga se o nazista fosse capturado vivo. O objetivo era a extradição do homem que cometeu atrocidades, crimes contra a humanidade. O jornal reportou, naquela época, que o prêmio seria dividido entre a caridade e as pessoas que fornecessem informações ou pistas sobre o paradeiro do fugitivo.
Pouco à frente, em junho de 1985, o Nosso Tempo discorreu sobre o que foi chamado de “cinturão de segurança” montado para proteger criminosos nazistas na América Latina. A estrutura começou a ser desmantelada com a descoberta de vários documentos, incluindo um manuscrito entregue à redação do jornal Hoy, em Assunção, Paraguai.
“É um importante depoimento feito por Hans Yahari (amigo de Mengele), antes de morrer”, escreveu o jornal iguaçuense. “Segundo o documento, Josef Mengele, em meados de 1960, andava pelas fronteiras do Brasil com o Paraguai”, prosseguiu, e citou cidades fronteiriças em que possivelmente o alemão possa ter vivido ou passado – há divergências entre pesquisadores sobre os possíveis paradeiros de Mengele.
Leia as edições do Nosso Tempo, de 1985:
- Manuscritos revelam que o “Anjo da Morte” esteve em Foz do Iguaçu
- Grupo internacional oferece prêmio pela captura de Joseph Mengele
O fim
“Restos mortais entregues às manipulações de médicos residentes da Universidade de São Paulo: assim termina a fuga de Josef Mengele, mais de setenta anos após o fim da guerra que destrói um continente cosmopolita e erudito, a Europa.” Assim o jornalista e escritor francês Olivier Guez conclui seu livro O desaparecimento de Josef Mengele.
Para ele, o nazista representa a história de um homem que desconhece escrúpulos, que mergulhou em uma ideologia venenosa e mortífera. E o ensaísta finalizou suas páginas:
A cada duas ou três gerações, quando a memória se estiola e as últimas testemunhas dos massacres anteriores morrem, a razão se retrai e homens voltam a propagar o mal.
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