Pioneiros lamentam a perda das três lagoas de Foz do Iguaçu

Conhecidos como vó e vô, Ilde e Antonio foram os primeiros moradores do bairro.

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A região de Três Lagoas tem uma vó e um vô. Lá todo mundo conhece Ilde Bortolini Benites, 79 anos, e Antonio Benites, 84. Pioneiros no bairro, eles fundaram o Bolão do Serginho, estabelecimento situado às margens da BR-277, e são queridos por todos.

Antonio conta que foi morar no bairro aos 7 anos de idade para estudar. A família vivia em Sol de Maio, uma comunidade perto de Santa Helena, a 120 quilômetros de Foz do Iguaçu. Lá não tinha escola, e o pai não titubeou: falou para o filho viver com os tios em Foz para estudar.

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Foi assim que, ainda menino, Antonio começou a frequentar o Colégio Bartolomeu Mitre e caminhava 20 quilômetros por dia para ir e voltar. O tempo foi passando e bem mais tarde ele acabou conhecendo Ilde, que chegou ao bairro há 57 anos. “Só tinha uma igreja, um barzinho”, diz ela.

Antonio se lembra das primeiras impressões do local. “Não existia bairro, era um vizinho aqui e outro lá longe. Era só mato.” Naquela época, as três lagoas que davam nome ao lugar também estavam por lá. “Eram lagoas grandes. Quando tinha muito sol, elas quase secavam”, rememora o pioneiro.

Antonio veio morar em Foz para estudar. Foto/Marcos Labanca

O casal lamenta o desaparecimento das lagoas. “Não tem mais lagoas, está tudo construído em cima”, frisa Ilde. A última está indo embora com chegada da Perimetral Leste, rodovia que vai ligar a Ponte da Integração Brasil–Paraguai à BR-277. “Acho que deveria ser preservada as lagoas”, realça Antonio.

“Meu pai conversava com os índios”

Mas não eram só lagoas que havia no bairro. Os primeiros moradores mesmo foram índios. A região tinha uma aldeia, por isso uma das localidades hoje é denominada Gleba Guarani. Porém, com a formação do lago de Itaipu, a aldeia foi extinta; e os índios, obrigados a deixar o local, sem rumo.

Ilde e Antonio se recordam dos índios e dizem que a convivência era amistosa. “Meu pai conversava com os índios, e os moradores se davam bem com eles.” Antonio revela que havia pelo menos 60 indígenas vivendo no bairro.

Dona Ilde é uma das pioneiras do bairro. Foto/Marcos Labanca

A vida em Três Lagoas era pacata até ocorrerem dois marcos históricos que alavancaram o bairro e Foz do Iguaçu. Primeiro, a construção da Ponte da Amizade, iniciada em 1956; depois, as obras de Itaipu (1974–1984), fazendo com que inúmeros barrageiros desempregados após o fim da obra se fixassem em Três Lagoas.  

Muitos moradores vieram de Santa Catarina e do Rio Grande do Sul. O casal de pioneiros cita a presença das famílias Barros, Giacobini, Mitioli e Riguel.

Não tem como não conhecer o bolão do Serginho

O progresso chegou, e a família Bortolini foi tocando a vida e crescendo. Com o tempo, Antonio, que jogava bolão, decidiu construir um. Foi aí que a mercearia da família se tornou o Bolão do Serginho. O vô e a vó tiveram quatro filhos, oito netos (dois, infelizmente, falecidos) e três bisnetos. Um dos filhos leva o nome do bolão.

“O sonho do pai era construir o bolão, e ele e a mãe começaram a pagar o consórcio de um Fusca”, informa Sérgio Bortolini Benites, 53 anos, o Serginho. No fim, o empreendimento custou três Fuscas, mas acabou saindo, mesmo Antonio estando apertado e precisando pagar as parcelas com atraso.

E quanto ao Serginho, ele seguiu os passos do pai e há 35 anos representa Foz do Iguaçu jogando bolão. Já conquistou sete títulos brasileiros e oito paranaenses. Serginho começou a jogar aos 13 anos e quando tinha 15 já representava Foz nas disputas.

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1 comentário
  1. Nani moreno Diz

    Nossa que legal essa história! Quando era criança e viaja sabia que tinha chegado em Foz quando avistava o bolão do Serginho..

Comentários estão fechados.