Novo ministro da Saúde do Paraguai assume com três desafios e com recorde de contágios

A pandemia, no Paraguai, faz bem menos mortes que no Brasil. Mesmo assim, a população se revoltou porque o governo não soube administrar a crise de saúde.

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Julio Borba, o novo ministro de Saúde Pública do Paraguai, não é nenhum neófito. Ele era vice-ministro da Saúde até quinta-feira, 3, quando assumiu interinamente o ministério, com a renúncia de Julio Mazzoleni.

Borba sabe os problemas que precisa enfrentar e enumerou, em entrevista coletiva, os três mais prementes: adquirir medicamentos e insumos para os hospitais públicos; conseguir mais leitos de UTI para atender à demanda; e, tão importante quanto os dois primeiros, lutar como um leão para que o Parguai tenha acesso às vacinas anti-covid.

É tudo urgente urgentíssimo! Nesta segunda-feira, o Paraguai registrou um novo recorde de casos confirmados e também de pacientes internados.

Foram 1.817 casos positivos e 25 mortes. Na lista de mortos, o que deve aumentar ainda mais a preocupação, é que quatro são pessoas entre 20 e 39 anos e sete com idades entre 40 e 59 anos. Quer dizer, diminui a faixa etária dos mortos.

Os números totais chegam a 169.860 pessoas contagiadas e 3.343 óbitos. Além disso, há 1.185 pacientes internados, 296 em unidades de terapia intensiva.

“Tenho uma pedra quente nas mãos e preciso resolver rapidamente. Tenho que sair agora para comprar medicamentos e insumos, que é o que a população me está pedindo”, disse o novo ministro, lembrando ainda da questão dos leitos – “estamos muito sobrecarregados” – e “do tema das vacinas”.

Ele disse que o presidente paraguaio, Mario Abdo Benítez, está muito preocupado com a falta de vacinas, mas comentou que em curto prazo haverá novidades sobre isso. “Temos o mecanismo Covax (da Organização Mundial da Saúde) e outras opções na porta”, explicou.

O ministro, no entanto, não tem ideia da data das entregas das vacinas da Oxford/AstraZeneca que o Covax irá distribuir. Para o Paraguai, seriam 300 mil doses, das quais 36 mil deveriam chegar logo. Ou já ter chegdo.

Até agora, o Paraguai recebeu apenas 4 mil doses da vacina russa Sputnik V e outras 20 mil da CoronaVac, doadas pelo governo do Chile.

RELATIVAMENTE MELHOR

Os protestos no Paraguai, que chegaram ao quarto dia consecutivo, sempre reunindo multidões que pedem a renúncia do presidente Marito, têm mais a ver com a postura do governo, que não soube administrar a questão da pandemia, do que com a doença em si.

O que ficou sempre demonstrado é que o Paraguai precisaria ter investido mais em insumos, em medicamentos e começado a negociar a compra das vacinas ainda no ano passado. Deixou a situação degringolar e, agora, a população cobra soluções imediatas, o que não será fácil conseguir.

Se analisada apenas a questão dos números, friamente, a situação paraguaia é bem melhor que a dos vizinhos e do que a maioria dos países enfrenta.

Os 3.343 óbitos registrados desde o início da pandemia representam 457,9 mortes a cada 1 milhão de paraguaios.

Na Argentina, o índice é de 1.154,8 mortes por milhão de habitantes; no Brasil, são 1.256,5 mortes por milhão.

VACINAS

Já em relação às vacinas, a situação se inverte, embora nenhum dos vizinhos esteja bem. Segundo dados do Our World in Data, o Brasil imunizou, até segunda-feira, 8, o equivalente a 5,15% de sua população.

A Argentina imunizou 3,42% da população; e o Paraguai apenas 0,02%. Na América do Sul, o Chile, que doou doses ao Paraguai, é o que está em melhor situação: já imunizou 25,89% dos chilenos.

Se contar em número de doses, o Brasil está em 5º lugar no ranking mundial. Já aplicou 10,95 milhões de doses, atrás apenas (pela ordem) de Estados Unidos (92 milhões), China (52 milhões), União Europeia (42 milhões), Reino Unido (23 milhões) e Índia (23 milhões).

Na Argentina, o registro é de 1,55 milhão de doses, por exemplo, enquanto no campeão sul-americano, o Chile, são quase 5 milhões.

Mas, para garantir “imunidade de rebanho”, o que conta é o percentual de pessoas imunizadas. Aí, a posição brasileira cai para o 17º lugar. Os primeiros são Israel (100%), Emirados Árabes Unidos (65%) e Reino Unido (quase 35%).

FLEXIBILIZAÇÃO

Graças a esse percentual de 35%, o Reino Unido já autorizou a volta às aulas.

Nos Estados Unidos, o país mais afetado pela pandemia, a vacinação atingiu 27% da população. O governo autorizou que as pessoas vacinadas possam se reunir entre si, em pequenos grupos, em locais fechados, sem respeitar o distanciamento social e nem usar máscaras cirúrgicas.

A União Europeia, embora tenha melhorado os percentuais de vacinação, advertiu que poderá bloquear a saída de carregamentos de vacinas do continente, como fez a Itália na semana passada, se as empresas farmacêuticas continuarem a atrasar as encomendas já acertadas.

Mais uma vez, uma demonstração de que há mais demanda do que as condições de produção dos laboratórios. Fica ainda mais difícil para Julio Borba conseguir vacinas para seu país.

Felizmente para ele, a população paraguaia é de menos de 7,3 milhões de habitantes, enquanto na Argentina são 46 milhões e no Brasil 212 milhões de habitantes, o que aumenta proporcionalmente as dificuldades de atingir a “imunidade de rebanho”.

Mas, no Brasil, é possível que agora a situação melhore. Fiocruz entrou em produção. Confira:

Fiocruz anuncia produção em larga escala de vacina contra a covid-19

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