Aida Franco de Lima – OPINIÃO
Mais uma onda de calor tomou conta de várias regiões do Brasil. E o calor é igual ao frio. Só gosta quem não sofre com ele. Olhe para as ruas de sua cidade, para os trabalhadores braçais e aos mais abastados. Qual é a diferença? Uns sofrem, outros curtem.
O calor escaldante em uma praia, embaixo de um guarda-sol, ao sabor de uma bebida gelada, é diferente da mesma temperatura para quem está varrendo uma rua ou fritando um salgado. O protetor solar de quem vai para a praia é o mesmo de quem vende sorvete. Mas o segundo nem sempre tem acesso.
Os países desenvolvidos queimaram suas reservas naturais em nome do progresso e hoje boa parte deles depende do que restou nos países em desenvolvimento. Há uma espécie de dívida climática. E isso se repete em outra escala dentro dos próprios países, de acordo com a estratificação social.
Basta olhar nas ruas das cidades para perceber que quem mais sofre com o calor em excesso são as pessoas que atuam com serviços braçais e não podem escolher a temperatura do ambiente. Nas residências, ambientes públicos, locais de trabalho em que não há ar-condicionado, as pessoas são simplesmente condicionadas a aguentar. Porém nem sempre o organismo consegue.
No Rio de Janeiro, a média de atendimentos hospitalares por conta da onda de calor é de 450 casos. O problema é tão grave que os gestores passam a considerar a decretação de emergência em saúde pública. Em São Paulo, as altas temperaturas levaram órgãos de assistência social a montar barracas em pontos estratégicos para distribuir água, suco e chá gelado para pessoas em situação de rua, além de orientações e encaminhamentos assistenciais.
- Contudo, enquanto as ondas de calor vão e voltam, o que os municípios estão fazendo para enfrentar essas condições? E como reage a população? Além da busca frenética para remediar a situação, o fato é que dificilmente se pensa em medidas preventivas.
Um exemplo? O calor é tanto que os cariocas estão ficando nas praias até as madrugadas, porém, quando vão embora, deixam toneladas de lixo. Como se poluição não tivesse conexão com consequências ambientais.
Mas o péssimo exemplo vem de cima também. Nas cidades, o que se presencia são as árvores urbanas devastadas, com o concreto tomando conta inclusive das praças. Jorra dinheiro para concretar as praças e não se respeita nem os parquinhos infantis. Muitos eles substituíram a areia pela grama sintética e as árvores por palmeiras de plástico.
Parecem exemplos simplórios, ao citar ondas de calor e mudanças climáticas extremas. Na natureza, o “efeito borboleta” é inevitável. O lixo que o carioca deixa para o mar é o mesmo que ele também joga nas vias públicas e impacta nos alagamentos.
O concreto que o gestor distribui nas praças aumenta as ilhas de calor pelas cidades. A árvore derrubada piora a sensação térmica do lojista que prefere um toldo e se obriga a buscar ar condicionado. Ação e reação. Mas o problema é que nem todos conseguem reagir. Apenas sentir o impacto das altas temperaturas — no corpo, no bolso e na saúde física e mental.
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