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Praça das Aroeiras: palmas para a estupidez

Tida como único local apropriado, sendo que há outros, árvores foram arrancadas da praça para dar lugar à escola.

4 min de leitura
Praça das Aroeiras: palmas para a estupidez
Na imagem, um bem-te-vi, sob o toco de uma das árvores cortadas. Mas poucos enxergam o tamanho do impacto. Foto: Rodrigo Medeiros

Aida Franco de Lima – OPINIÃO

Não teve jeito… Mais uma vez venceu a estupidez humana, provando que o homem é o único animal que destrói sua moradia. As motosserras entraram com força, mesmo sob chuva, na Praça das Aroeiras, no último dia 07. Na licença ambiental expedida pelo IAT – Instituto Água e Terra, foram 35 árvores cortadas e 15 transplantadas. O caso ainda está na Justiça, mas a certeza de tudo, é que o estrago já foi feito.

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“Ah, mas era para construir uma escola”. Bobagem! É pra fortalecer o ego de quem age sob a máxima do “manda quem pode, obedece quem tem juízo”. Estamos no ano de 2023. Não é mais época em que os pioneiros não tinham outra opção além de derrubar florestas, abrir clareiras e construir uma nova cidade. Não  há justificativa para derrubar uma praça em meio a tantos outros espaços que poderiam abrigar a escola.

Se quem defende a destruição da praça em nome de uma escola realmente tivesse preocupação com a qualidade do ambiente escolar, a  Escola Municipal Professora Lúcia Marlene Pena Nieradka não estaria há 20 anos de escanteio. Foi preciso uma praça ser formada, para que definissem que no lugar das árvores, deveria haver concreto.  As mesmas pessoas que deram o aval para que as motosserras derrubassem as árvores do centro da praça, não teriam permitido que as crianças estudassem embaixo de arquibancadas. Teriam ido à luta para garantir a dignidade dos estudantes e a preservação da praça.

“Ah, mas não vai derrubar árvores”.  Se o projeto da construção da escola realmente não impactasse a praça, não seria necessária uma equipe reforçada para derrubar as árvores, às pressas, sob a chuva, com a escolta da de guardas municipais. Não precisariam retirar as galhadas rapidamente, limpar o terreno para não haver registro fotográfico. Árvores protegidas por lei, ameaçadas de extinção como Araucaria e pau-brasil.

A estratégia é sempre a mesma. Com uma única brecha, uma licença, uma liminar, vai e corta tudo o mais rápido possível. Porque a destruição sempre vem mais rápido que a decisão final na longa estrada que envolve os trâmites judiciais. Foi assim com o Bosque dos Macacos, lembram? Assim como em outros aspectos tão bem lembrados no último editorial desse H2Foz.

Corta tudo e se houver alguma reação, alguma decisão judicial, o estrago está feito. Aí é ir para um acordo, realizar um TAC – Termo de Ajuste de Conduta, plantar umas mudinhas aqui e outras ali e está tudo certo.

“Ah, mas quem defende a praça não está preocupado com as árvores, mas com o barulho que a escola vai causar”. Não adianta explicar para quem não quer entender… Quem usa esse tipo de argumento tão profundo quanto um pires, não consegue calcular os benefícios que uma área verde significa para a coletividade.

Há relatos de que pessoas que defendiam a derrubada das árvores para dar lugar à escola, enquanto as árvores eram cortadas, eufóricos comemoravam a vitória. Outros pais, fotografavam os filhos em meio às árvores derrubadas. Devem ser os mesmos que acham que mudança climática só acontece no quintal do outro. Devem ser as mesmas pessoas que vão ensinar os filhos a plantar sementes no algodãozinho e postar nas redes sociais e escrever: gratidão…

Não há muito mais o que falar, apenas lamentar. Que uma cidade do porte de Foz do Iguaçu, que tanto lucra com os turistas que vão em busca de sua maior beleza natural, trate os resquícios florestais urbanos com tal displicência. Que uma gestão, cujo representante tenha o termo brasileiro no nome, não seja capaz de valorizar os tesouros naturais de sua terra.

Não venceu quem defendia que a Praça das Aroeiras deveria ser transformada em canteiro de obras de uma escola. Ninguém deveria escolher entre uma coisa ou outra, como já discuti aqui. Perdemos todos, porque enquanto a derrubada de árvores for motivo de comemoração, o ser humano cava a própria cova da sua espécie. O caminho está sendo trilhado com sucesso. Parabéns aos envolvidos! O ser humano é o único animal que destrói o Planeta e destruindo-o, demonstra que a evolução das espécies é bastante relativa.

Este texto é de responsabilidade do autor/da autora e não reflete necessariamente a opinião do H2FOZ.

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    Aida Franco de Lima

    Aida Franco de Lima é jornalista, professora e escritora. Dra. em Comunicação e Semiótica, especialista em Meio Ambiente.